sábado, 14 de março de 2020

11 anos, uma pandemia e uma corrente de solidariedade

Dia 14 de março de  2020, em plena situação de pandemia da doença provocada pelo coronavírus COVID-19,  este blogue completa 11 anos de existência.  Habitualmente faço um balanço da situação do blogue, mas este ano, em época excepcional, também vou fazer diferente do normal. 

Assim, de forma a ajudar a esclarecer, a evitar a propagação rápida do vírus e o pânico, e porque faz toda a diferença se o vírus se espalha rápido - com elevada taxa de mortalidade por colapso dos sistemas de saúde - ou lentamente - dando tempo aos hospitais para tratarem as pessoas, deixo aqui uma mensagem que tem andado a circular via Whatsapp pelas pessoas da minha terra, Vila Nova de Famalicão:

«Mensagem partilhada pelo médico famalicense Rui Guedes...

🚨🚨 IMPORTANTE 🚨🚨

Caros amigos,

Não somos entidades com nomes sonantes nem peritos em epidemiologia, somos apenas a arraia miúda, médicos que vivem diariamente num Sistema Nacional de Saúde (SNS) que no seu basal já trabalha no limite, e como tal, vemos com apreensão os dias que se avizinham.

Não estamos satisfeitos com o modo como a situação do COVID-19 tem sido conduzida pelas entidades competentes. Na tentativa atendível de não causar pânico, a verdadeira mensagem não está a passar e a nossa perceção é que pessoas fora da área da Saúde acham que o atual cenário “é um exagero”. Compreendemos em plenitude, não fossem tantas as vezes que a comunicação social nos anuncia a catástrofe iminente, que como ao proverbial rapaz os ignoramos quando há mesmo um lobo.

Assim, pretendemos deixar umas notas, que vindas de alguém que conhecem poderão ter o impacto que conferências de imprensa não têm conseguido.

Com base no cenário que vemos em Itália e que começamos a ver em Espanha (e na informação que vai sendo partilhada entre a comunidade médica) consideramos ser necessário dizer e reforçar o seguinte:

1- Mais de 80% das pessoas infetadas com o COVID-19 terão sintomas muito leves, semelhantes a uma simples constipação ou a um síndrome gripal ligeiro. Estes casos podem e devem evitar idas aos Serviços de Urgência. Não o dizemos por capricho! Não há qualquer tratamento a oferecer aos casos ligeiros, não há nada que se possa fazer num hospital que os impeça de agravar (e a vasta maioria não agravarão e passarão por si sós!). Breve, ir ao hospital não vos adiantará nada pessoalmente e pelo contrário porá em risco todos os outros utentes e profissionais.

2- Pelo menos 10% dos casos serão graves o suficiente para causar falta de ar e obrigar a idas ao Hospital. Alguns destes serão graves o suficiente para precisarem de ventilação mecânica (“ficar ligado à máquina”). Apesar de estes casos graves serem maioritariamente pessoas idosas ou com doenças que os fragilizam, também acontecerão casos de pessoas jovens saudáveis (se 0.2% dos jovens afetados precisarem de ventilação, no caso de 10.000 afetados serão 20 jovens em Portugal em estado grave). Nos idosos e pessoas com problemas de saúde, essa percentagem pode chegar aos 15-20%, o que significa potencialmente uma enormidade de doentes graves que o SNS não terá capacidade de assistir da melhor forma, que é o que se vê acontecer em Itália, onde ventiladores estão a ser recusados logo à partida, sem qualquer contemplação, a pessoas com mais de 60 anos.


3- O que podemos fazer? Tentar que em vez de termos 10.000 casos até ao final de Março, tenhamos esses 10.000 casos espalhados no tempo ao longo de 6 meses. Faz muita diferença um hospital ter no mesmo dia 10 pessoas a precisar de ventilador ou ter 50 pessoas a precisar de ventilador. É simples, não vai haver para todos. Como podemos atrasar então o surgimento de novos casos? Isolarmo-nos o mais possível. E cada dia conta no atraso que vamos conseguir!

Imagem de Globo
 4- Se és dono de uma empresa ou de um escritório considera fechar portas e colocar os funcionários a trabalhar tanto quanto possível de casa. Pensa assim, vais ter que fechar  portas em duas semanas de qualquer forma, com uma grande diferença: salvaste vidas!!

5- Se podes trabalhar de casa, deves absolutamente fazê-lo.

6- Não vás ao ginásio, vai dar uma corrida (não em grupo!) e faz umas flexões em casa. Não vás ao café. Não vás ao restaurante. Escusado será mencionar esse ambiente fresco e arejado que existe em discotecas e bares noturnos. Almoço de fim de semana em casa dos avós? Cancelem. Jantar de anos da Filipa? Não vai dar, a Filipa compreenderá, mais não seja em duas semanas quando perceber a dimensão do problema.

7- As crianças, ao contrário do que se viu escrito em alguns locais, parecem ser bastante contagiosas. Apresentam também muito poucos sintomas quando estão infetadas. Ou seja, devemos evitar o contacto entre as crianças da família e respetivos avós e outros membros mais frágeis. Pelo lado bom e para tranquilizar: tanto quanto sabemos (e já sabemos alguma coisa após tantos milhares de casos pelo Mundo) não há qualquer caso de doença grave em crianças menores de 10 anos. Os sacanitas são rijos, mas muito contagiosos.

8- A máscara só é útil para quem já está a tossir e espirrar - para pessoas sem sintomas ajuda pouco. Importante mesmo é lavar as mãos frequentemente e evitar tocar na cara/boca/olhos. E manter distância social: não há apertos de mão, não há beijinhos e falar de perto é também má ideia (vá, todos conhecemos aquela pessoa que manda muitos “perdigotos”).

9- Não é demais salientar que durante esta época as outras doenças, acidentes e infortúnios vários não vão tirar férias. Continuarão a existir AVCs, ataques cardíacos, outras infeções, acidentes de viação, exatamente na mesma quantidade de antes. Com uma diferença saliente: quando esses doentes graves precisarem de vaga nos cuidados intensivos (que mesmo num dia bom já são insuficientes e difíceis de gerir), podem bem não a ter. A mortalidade do COVID não é só a mortalidade do COVID - com um sistema a trabalhar para lá do limite, todas as outras doenças que já antes matavam, matarão mais.

10- Terminamos com uma nota importante: o pânico é contraproducente. Ninguém tem necessidade de açambarcar setecentos rolos de papel higiénico. A sociedade como a conhecemos não colapsará. Mas isto não é a gripe A, não é a vespa asiática, não é a crise dos combustíveis, não é nenhuma das mais recentes catástrofes sempre anunciadas e felizmente nunca cumpridas. Desta vez é a sério (palavra de escuteiro) e cabe a cada um de nós fazer a sua parte para que seja o menos sério possível.»

Neste momento em que escrevo, na Europa há 36642 casos confirmados e 1514 mortos (daqui) devido ao coronavírus, onde a pior situação, no momento, é em Itália, com cerca de metade dos casos. Em Portugal, neste momento há 169 caso, e a aumentar muito cada dia; felizmente ainda 0 mortos (daqui) . Se não forem tomadas medidas de prevenção suficientes nos vários países, podem todos ficar muito pior. Por isso, informe-se, tenha calma, e proteja-se a si e aos outros.

Como agradecimento aos profissionais de saúde que lutam e trabalham para além de toda a razoabilidade nesta fase difícil, partilho também a corrente que um grupo de cidadãos iniciou nas redes sociais:

«Hoje às 22h00 vai haver uma corrente de esperança e energia dedicada a todos os profissionais de saúde que trabalham em todo o país para nos ajudar a ultrapassar este desafio enorme.
💖
Às 22h00 venham todos à janela, à varanda, onde puderem, aplaudir os nossos profissionais de saúde. 👏👏👏Passem a todos os conhecidos. 
🙏🏻
#somostodosSNS💫»


Saiba mais sobre o novo coronavírus na DGS em:   https://covid19.min-saude.pt/

Situação atualizada na Europa (via OMS) : ver aqui

Veja também (fonte do gráfico acima) artigo no  Globo : Globo: Um gráfico explica a pandemia

7 comentários:

  1. Parabéns. Que venham, pelo menos, outros 11.

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  2. Parabéns pelos 11 anos de blog Manuela! Acompanho o seu blog a bastante tempo e fico feliz por saber que existem pessoas como você… sempre lutando pelo meio ambiente e pelas coisas certas, firme e forte! Trazendo informações relevantes e esclarecedoras de fonte confiável (pois as fake news prejudicam muito). Que venham muito mais anos e que possamos ver as mudanças e transformações necessárias para um mundo melhor e digno! Bjs :-))))

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    1. Muito obrigada, cara BIA, há quanto tempo! Espero que fique bem! Beijinhos

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  3. Ando frequentemente por aqui
    ontem falhei
    faço agora o que devia já ter feito
    Parabéns e um beijo

    Ontem às 22 h, lá estive
    "somos todos SNS"

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    1. Caro Rogério, não falhou não, fico muito grata por vê-lo por aqui! Espero que fique bem!

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  4. Parabéns Manuela e sempre uma alegria receber seus textos sempre altruístas e a preocupação em relação a natureza e ao mesmo tempo os seres humanos! Um grande Abraço do Brasil!

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