sábado, 31 de agosto de 2019

Dia Global de Ação pela Amazónia - 5 de setembro

«Incêndios sem precedentes estão devastando a Amazônia - este ano foram mais de 74 mil incêndios que representam um aumento de 84% em relação ao mesmo período no ano passado. Esta é uma tragédia internacional e uma contribuição perigosa para o caos climático.

Essa devastação está diretamente relacionada à retórica anti-ambiental do presidente Bolsonaro, que erroneamente enquadra as proteções florestais e os direitos humanos como impedimentos ao crescimento econômico do Brasil. Agricultores e pecuaristas entendem a mensagem do presidente como uma licença para cometer incêndios com impunidade desenfreada, a fim de expandir agressivamente suas operações na floresta tropical.

A destruição da Amazônia não é nova, os povos indígenas da Amazônia vêm alertando sobre os riscos para a floresta tropical há anos e resistindo à destruição - às vezes à custa de suas próprias vidas.

A Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) pediu solidariedade internacional em resposta aos incêndios e ameaças cada vez maiores. A Amazon Watch e a Extinction Rebellion estão liderando uma convocação para um Dia de Ação Global para a Amazônia em 5 de setembro de 2019, também conhecido como "Dia da Amazônia". Por favor junte-se a nós!

Reúna-se em comunidade para organizar ações diretas não violentas, incluindo protestos, marchas e vigílias. Você também pode organizar um show beneficente ou uma exibição de filmes para levantar fundos que são muito necessários para proteger a Amazônia.

É fundamental que, antes da Cúpula do G7, da Assembléia Geral da ONU e da Semana do Clima, esta questão seja posta em primeiro plano e que a pressão internacional seja imposta para forçar o Brasil a suprir urgentemente os incêndios, proteger a Amazônia e respeitar os direitos dos povos indígenas e seu território.

Em 5 de setembro, convocamos a comunidade global á agir em embaixadas ou consulados brasileiros e nos escritórios das corporações que lucram com a destruição da Amazônia.

Governos e empresas em todo o mundo estão fortalecendo as políticas tóxicas de Bolsonaro quando entram em acordos comerciais com seu governo ou investem em empresas de agronegócios que operam na Amazônia.

A Amazon Watch e a APIB conduziram uma investigação neste ano que mostrou quantas empresas norte-americanas e européias - como Cargill e ADM - e financiadores - como BlackRock, JP Morgan Chase e Santander - são cúmplices no desmatamento da Amazônia.

Inscreva-se aqui para participar de ações planejadas para sua área ou organize sua própria ação e convide membros de sua rede.

Obrigado!

Patrocinadores:
Amazon Watch
Extinction Rebellion 
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)»

Fonte: https://actionnetwork.org/event_campaigns/global-day-of-action-for-the-amazon




Ver também:

Artigo no Público:  A Amazónia está a arder. Como podemos ajudar?  (Mariana Durães, 23/8/2019)

Artigo no SulInformação: A Amazónia somos Nós (Analita Alves dos Santos, 30/8/2019)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

A inteligência das plantas


«Qualquer organização que confia a poucos a função de decidir por muitos está inevitavelmente condenada a fracassar, especialmente num mundo que exige acima de tudo soluções diferentes e inovadoras. O futuro não terá alternativa a não ser a de incorporar a metáfora vegetal. As sociedades que no passado se desenvolveram por meio de uma rígida divisão funcional do trabalho e de uma estrutura hierárquica férrea deverão no futuro estar ao mesmo tempo ancoradas no território e descentradas, delegando o poder de decisão e as funções de comando às várias células do seu próprio corpo, passando de pirâmides a redes distribuídas horizontalmente.  A revolução está em curso, ainda que não nos apercebamos dela.»  


Esta é a transcrição de um pequeno extrato do livro A Revolução das Plantascomo a inteligência vegetal está a inventar o futuro do planeta e da humanidade (2017) de Stefano Mancuso, e recomendo a leitura a qualquer pessoa (ler excerto aqui).

Fascinante e acessível na forma de escrever, Stefano guia-nos numa viagem que nos tira da caixa, nos leva até ao futuro, passando por Itália, pelo deserto da Namíbia e até por Marte. As plantas são o foco do livro, mas a diversidade dos temas, desde a engenharia espacial à política e economia, passando por abelhas, viciados em malaguetas e robôs, torna o livro especialmente atrativo. E, no final, ficamos com uma ideia sobre as plantas completamente diferente do que até aí pensávamos. Uma revolução!

A seguir, uma palestra (TED) de Stefano Mancuso sobre a inteligência das plantas. Não perca!
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sábado, 24 de agosto de 2019

Amazónia vira pasto

A propósito da queimada geral da Amazónia, que ao fim de várias semanas a arder (propositadamente) lá começou o assunto a passar para os meios de comunicação de massas, apresenta-se um documentário recente "Sob a Pata do Boi"(Brasil, 2018). 

Esta destruição da Amazónia pelos agentes económicos, permitida e impulsionada pelo atual presidente do Brasil (que nem o nome quero pronunciar) é uma assunto tão doloroso que me custa abordar. 

O vídeo "Amazónia Vira Pasto" e o trailer do documentário explicam bem o que se passa. E para além da pecuária, a extração de madeira e a exploração mineira também são fatores importantes nesta equação:

(pecuária + extração de madeira + extração mineira) x ganância x estupidez = destruição da Amazónia

Porque já dizia Einstein:  "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta."


Sob a Pata do Boi - Amazônia vira pasto from ((o))eco on Vimeo.

«A Amazônia tem hoje 85 milhões de cabeças de gado, três para cada habitante humano. Na década de 1970, o rebanho era um décimo desse tamanho e a floresta estava quase intacta. Desde então, uma porção equivalente ao tamanho da França desapareceu, da qual 66% virou pastagem. A mudança foi incentivada pelo governo, que motivou a chegada de milhares de fazendeiros de outras partes do país. A pecuária tornou-se bandeira econômica e cultural da Amazônia, no processo, elegendo poderosos políticos para defender a atividade. Em 2009, o jogo começou a virar quando o Ministério Público obrigou os grandes frigoríficos da região a se tornarem responsáveis por monitorar as fazendas fornecedoras de gado e não comprar daquelas que têm desmatamento ilegal.

“Sob a pata do boi” é um documentário de média metragem (49 minutos), que conta essa história. Dirigido por Marcio Isensee e Sá, o filme é uma produção do site ((o))eco, de jornalismo ambiental, e do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Faz parte de um projeto de jornalismo investigativo que já dura dois anos e cujas reportagens podem ser lidas neste site.»

Fonte: https://sobapatadoboi.com/  (saiba mais com o presskit)

O filme pode ser visto online gratuitamente através do agendamento de exibição de grupo (ver aqui)


quarta-feira, 14 de agosto de 2019

As ditas "infestantes" e os herbicidas

Na sequência do documentário "A inteligência das árvores", estou a ler o livro de Stefano Mancuso com o título "A revolução das plantas".
Centeio (Secale ereale), daqui
Stefano Mancuso é um biólogo italiano, investigador na área da Neurobiologia Vegetal, professor na Universidade de Florença, e autor de bestsellers de divulgação científica.

Ainda não acabei de ler o livro, e conto voltar a falar do mesmo aqui no blogue, face ao tema interessantíssimo, ao fabuloso conteúdo e à linguagem muito acessível.  Se quiser saber do que trata desde já, leia uma parte disponível aqui.

Mas por agora, e porque plantas "infestantes" e herbicidas são temas frequentes neste blogue, vou transcrever um pequeno texto do livro sobre estes temas. O excerto segue-se a uma parte onde o autor explica como o centeio surgiu como cultura há milhares de anos, depois de aparecer como "infestante" de culturas de trigo e de cevada.


"Se a história do centeio é um caso de mimetismo vaviloviano bem-sucedido, muitos outros casos, porém, não o são. Refiro-me à resistência que muitas espécies conseguem desenvolver como resposta à aplicação de quantidades cada vez mais elevadas de herbicidas na agricultura. Nos últimos decénios, o uso destes cresceu de forma exponencial. E paralelamente a um aumento que podemos definir como «fisiológico», alguns herbicidas, como o glifosato, mostram um crescimento quase patológico, em parte devido à introdução nas culturas de plantas geneticamente modificadas para resistir à sua ação. 

Uso de glifosato e hectares de milho e soja plantados nos EUA (1987-2008), daqui
Trata-se de exemplares sobre os quais, por exemplo, o glifosato não tem qualquer efeito, permitindo, portanto, aos agricultores um uso indiscriminado deste herbicida. Afinal de contas, se a cultura principal está protegida e não sofreu qualquer dano, o que é que impede o homem de intervir administrando quantidades crescentes de herbicida até conseguir eliminar cada uma das incómodas «ervas daninhas»? A prová-lo, os dados sobre o uso deste herbicida são assustadores: em 1974 , somente nos Estados Unidos, consumiam-se 360 000 quilos de glifosato na agricultura; em 2014, chegou-se aos 113,4 milhões de quilos. Em quarenta anos, portanto, o uso deste herbicida aumentou mais de trezentas vezes!


Amaranto em campo de soja, imagem daqui
Esta enorme pressão química sobre as infestantes favoreceu a evolução de casos de resistência nas espécies normalmente associadas  à cultura principal, ou seja, as infestantes miméticas que já referi. Assim, existem hoje nos Estados Unidos populações de Amaranthus palmeri - um cereal comestível, mas detestado pelos agricultores por ser infestante - totalmente resistentes ao glifosato. A difusão destes cereais que prosperam nos campos de milho ou de soja tornou-se um grave problema que é combatido com doses sempre mais elevadas de glifosato e com a combinação de outros herbicidas.

E, assim, as infestantes resistentes estão a aumentar em todo o lado. A mim, este dado não me perturba absolutamente nada: sempre gostei de plantas infestantes; desde sempre me fascinou a sua capacidade de sobreviver onde não são desejadas, tal como a sua inteligência e adaptabilidade.
Sopa de urtigas, daqui
De qualquer modo, uma tal expansão não devia ser combatida  com o emprego de herbicidas, destruindo, desta forma  toda a esperança de salvar os nossos ecossistemas agrícolas, mas sim através de outras técnicas respeitadoras do ambiente. E, quando possível, devíamos aprender a conviver com elas. Repito, tenho pelas infestantes uma certa simpatia; quer quando se tornam úteis, como o centeio, quer quando não querem saber do homem, como todas as outras.  E também seria bom recordarmos que os prejuízos causados ao ambiente na tentativa de as eliminar são muito maiores dos que aqueles que elas alguma vez poderão causar ás nossas culturas. Isto no caso de elas continuarem a existir...
"

Stefano Mancuso, "A REVOLUÇÃO DAS PLANTAS -  Como a inteligência vegetal está a inventar o futuro do planeta e da humanidade", 2017; versão portuguesa: editora Pergaminho, 2019.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Limites da ciência

«Eu pensava que os principais problemas ambientais eram a perda de biodiversidade, o colapso dos ecossistemas e as alterações climáticas. 

Eu pensava que 30 anos de boa ciência poderiam resolver esses problemas.

Eu estava errado.

Os principais problemas ambientais são egoísmo, ganância e apatia, e para lidar com isso precisamos de uma transformação cultural e espiritual. 

E nós, cientistas, não sabemos como fazer isso.»
Gus Speth

Fontes: World Economic Forum, 11/6/2019;  WineWaterWatch.org, 5/2016 (imagem);  Via Miguel Leal 

Sobre o tema, recomendo também: Ervin Laszlo - Os limites pessoais da humanidade

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Comer plantas selvagens - Ançarinha branca

É infindável a lista de plantas que nascem espontâneamente por todo o lado e que podem ser utilizadas para fins medicinais. Mas também há muitas plantas espontâneas que são comestíveis, e que nos "infestam" as nossas hortas. Não gosto de lhe chamar daninhas, porque todas elas têm a sua função, mas lá que algumas são danadas, são! Um pouco de conhecimento faz toda a diferença.

Aos poucos vou estudando e aprendendo com quem sabe a conhecer as plantas selvagens comestíveis, e já experimentei a ançarinha-branca (salteada), a beldroega (sopa e salada), o dente-de-leão (salada). A seguir, hei-de experimentar a sopa de urtiga (para já tenho-lhe dado outro uso),  o saramago e até a labaça, que este ano está mesmo uma praga lá na quinta.

A Ançarinha-branca (Chenopodium album), também conhecida como falsa-erva-de-santa-maria, quenopódio ou espinafre-selvagem, é uma planta anual que começa agora em junho a nascer por tudo quanto é lado da horta, com uma força espantosa, e, se a deixar crescer, chega a atingir 1 metro de altura em pouco tempo.

Pois este ano, em vez de lutar com a planta, deixo-a crescer um pouco e depois arranco, cozinho e como-a. E é uma delícia.

A seguir, receita de ançarinha branca salteada que o meu tio José Alberto me deu. A receita é rápida e idêntica a grelos salteados, mas com a particularidade de cozer as folhas de ançarinha-branca em duas águas:





- Escolher as folhas tenras e lavar bem;
- Mergulhar em água a  ferver e deixar ferver 2 minutos;
- Escorrer e voltar a mergulhar em nova água a ferver, desta vez com um pouco de sal, e deixar ferver mais 2 minutos;
- Voltar a escorrer e saltear numa frigideira com azeite e alho picado.
- Servir


(Post publicado inicialmente em 14/6/2013 no blogue "Agir pela Sustentabilidade").