sábado, 25 de fevereiro de 2023

A Hidra do Greenwashing

GREENWASHING ou LAVAGEM VERDE  consiste na apropriação de supostas preocupações ambientais através de técnicas de marketing para convencer o consumidor (definição do documentário Segunda Pele). Trata-se de um gigante esquema enganador deste século, correntemente usado  pelas grandes empresas, sobretudo as mais poluentes. 

Num artigo de janeiro 2023 da Planet Tracker, o greenwashing é comparado ao monstro da mitologia grega, a Hidra de 7 cabeças, ou Hidra de Lerna, contra quem o herói Hércules teve de lutar. O problema da hidra é que quando se corta uma das cabeças, duas aparecem.... 

Leia o artigo na publicação original, ou na tradução (livre, resumida e não integral) que se segue:


«A Hidra do Greenwashing


O greenwashing, através do qual as empresas se fazem parecer mais ecológicas do que realmente são, tornou-se uma fera de muitas cabeças. A Planet Tracker acredita que as estratégias de greenwashing estão se a tornar cada vez mais sofisticadas. Elas vão desde dar ênfase a uma atividade verde, sem referir que o restante dos negócios da empresa é prejudicial ao ambiente, até esconder-se no meio da multidão movendo-se à velocidade do adotante mais lento.

Greenwashing é enganador, mas nem sempre ilegal; brechas na legislação são por vezes usadas. O que é surpreendente é que continua tão predominante, apesar de ser criticada por ONG, média e, cada vez mais, reguladores. Os investidores devem permanecer vigilantes – afinal, eles estão a ser enganados.

O que é o greenwashing?

O greenwashing corporativo é definido pela ClientEarth como o uso de “publicidade e mensagens públicas para parecer mais favorável ao clima e ambientalmente sustentável do que [uma empresa] realmente é. É também uma técnica usada por certas empresas para distrair os consumidores do facto de que seu modelo de negócios e atividades realmente causam muitos danos e prejuízos ambientais”.

O incentivo do greenwashing

Há várias razões do por que empresas praticam greenwashing. É possível que ocorra como resultado da ignorância corporativa. No entanto, muitas vezes uma empresa é incentivada a tornar seus produtos mais atraentes para os consumidores, aumentando assim os volumes de vendas e/ou possibilitando aumentos de preços. Táticas de greenwashing podem conseguir esse objetivo. Além disso, um número crescente de funcionários é atraído para trabalhar em empresas com fortes credenciais de sustentabilidade.

Empresas com fortes credenciais ESG* podem atrair prémios de avaliação em relação a seus pares, à medida que o investimento em fundos sustentáveis e ESG aumenta. Por sua vez, isso pode reduzir o custo do capital, pois seu património atrai preços mais altos e, portanto, eles precisam emitir menos ações para captar recursos. O mesmo se aplica à dívida verde, em que os investidores estão preparados para aceitar um rendimento menor em troca de metas de sustentabilidade e ESG.

Em resumo, simplesmente fazer uma empresa parecer mais ambientalmente sustentável e cuidadora parece trazer apenas vantagens, a menos que as alegações sejam falsas. Deve-se lembrar que fazer falsas alegações ambientais impede o desenvolvimento da economia verde.

Por que o greenwashing precisa parar

O Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI de outubro de 2021 aborda as razões pelas quais o greenwashing precisa parar. O relatório afirma que 'o setor de fundos de investimento sustentáveis pode ser um importante impulsionador da transição para uma economia verde, apoiando o comportamento pró-transição das empresas por meio de administração e potencialmente aumentando os gastos de investimento de empresas que poderiam promover a transição'. Mas aponta alguns obstáculos que os gerentes de investimento e financiadores enfrentam, como 'lacunas de dados, risco de lavagem verde corporativa, vários padrões de divulgação e falta de taxonomias aceites globalmente'. Essas questões dificultam as estratégias de investimento que suportam a transição e podem resultar na má alocação de capital.

Pior ainda, declarações enganosas podem financiar e perpetuar práticas ambientais inadequadas.

Seis tons de verde

O que o Planet Tracker acha perturbador é que o greenwashing parece estar a tornar-se cada vez mais sofisticado. Presumivelmente, as melhores mentes de marketing e comunicação estão a ser usadas pelas empresas. Abaixo, discutimos algumas das principais táticas de greenwashing que observamos.

Greencrowding - baseia-se na crença de que você pode se esconder no meio da multidão para evitar ser descoberto; ele depende da segurança em números. Se políticas de sustentabilidade estão sendo desenvolvidas, é provável que o grupo avance na velocidade dos mais lentos.

Greenlighting  - ocorre quando as comunicações da empresa (incluindo anúncios) destacam uma característica particularmente ecológica de suas operações ou produtos, por menor que seja, a fim de desviar a atenção de atividades prejudiciais ao meio ambiente realizadas em outros lugares.

Greenshifting -  quando as empresas insinuam que o consumidor é culpado e transferem a culpa para eles.

Greenlabelling - ou rotulagem verde é uma prática em que os profissionais de marketing chamam algo de verde ou sustentável, mas um exame mais detalhado revela que suas palavras são enganosas.

Greenrinsing - refere-se a quando uma empresa muda regularmente suas metas ESG antes de serem alcançadas.

Greenhushing - refere-se ao ato de equipas de gestão corporativa subnotificarem ou ocultarem suas credenciais de sustentabilidade para evitar o escrutínio dos investidores.

"O greenwashing provará ser um dos maiores escândalos de venda abusiva dos tempos modernos?"»

Fonte: Planet Tacker, janeiro de 2023, https://planet-tracker.org/wp-content/uploads/2023/01/Greenwashing-Hydra-3.pdf

*ESG - Environmental, Social and Governance, em português, Ambiental, Social e Governança, é um conceito que abrange critérios para um conjunto alargado de questões, desde a pegada de carbono até práticas de trabalho e de corrupção.

Concluindo, como também refere a ClientEarth, o Greenwashing é perigoso!


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Segunda pele

Segunda pele é um documentário da Rádio Comercial sobre os impactos da indústria têxtil e do  consumo excessivo de roupa, realizado pela jornalista Tânia Paiva, da qual foram extraídas os seguintes números e frases:

- A indústria têxtil é responsável por 10% das emissões globais de CO2;
- Por ano, são fabricados 80 mil milhões de toneladas de têxteis;
- Só para o algodão, são usados 200 mil toneladas de pesticidas por ano;
- A cada segundo, é enviado para o lixo um camião de roupa;
- 35% dos microplásticos no mar são provenientes das roupas;
- Apenas 1% dos do vestuário é reciclado;
- Só travando a fundo neste tipo de consumismo é que a situação poderá ser invertida.
 
Como é fácil de concluir a partir do documentário ou de alguma investigação, não basta saber se a peça de roupa a comprar tem uma cadeia de fabrico socialmente e ambientalmente responsável, não basta procurar as melhores matérias primas, não basta que a indústria têxtil faça alterações aos processos de fabrico com menor consumo de água, químicos ou energia, é sobretudo necessário CONSUMIR MENOS ROUPA, não se deixar influenciar pelos ritmos da moda ou pela ideia de status que esta transmite, mas pensar pela própria cabeça.

Sim, mudar para métodos de fabrico mais sustentáveis, ambientalmente e socialmente, é necessário e urgente, conforme falado no documentário por representantes da indústria têxtil RIOPELE e do centro de investigação têxtil e do vestuário CITEVE, ambas instituições de Vila Nova de Famalicão.

Mas mais necessário e urgente é reduzir drasticamente o consumo de roupa.
   
«Para produzir uma simples t-shirt são necessários quase três mil litros de água. A cada segundo, um camião de têxteis é depositado num aterro ou queimado a céu aberto. As emissões de carbono do setor têxtil são superiores às emitidas pelo transporte aéreo e marítimo juntos. "Segunda Pele" é um documentário sobre o que a produção e o consumo desenfreado de roupa fazem ao Planeta.»







Fonte: (texto a azul, imagens e filme): https://radiocomercial.iol.pt/artigo/segunda-pele

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Rede de gás - fim da obrigatoriedade de instalação em construções

Desde 2018 que um lei déspota da Assembleia da República, a Lei 59/2018, veio obrigar a que todas as construções novas tivessem rede de gás. Em contrário a todas as diretivas europeias e mesmo outras leis nacionais relativas às alterações climáticas.

Depois de  um apelo à Provedoria de Justiça, e de uma petição à Assembleia da República, finalmente o o Governo percebeu o erro e retirou a obrigatoriedade de instalar rede de gás, não só em construções habitacionais mas em qualquer construção.

Isto foi através do Decreto-lei n.º 11/2023 de 10 de fevereiro,  alterou pela segunda vez o Decreto-Lei n.º 97/2017, alterado pela Lei n.º 59/2018, que estabelece o regime das instalações de gases combustíveis em edifícios. Podem verificar esta alteração no artigo 14º da referida legislação (pag.26), que revoga os n.ºs 1 e 2 do artigo 3º do DL 97/2017, que por via da Lei 59/2018 obrigada todos os edifícios novos a ter rede de gás. 

Isto é uma parte boa do Decreto-lei n.º 11/2023, o chamado:

"Simplex Ambiental"

Confesso que ainda não o li todo, mas apenas o preâmbulo e a legislação que altera, faz-me temer o pior em relação à preservação da natureza e do ambiente em Portugal. Depois verei melhor, mas eis o que à primeira vista me aparenta: 

  • serão muitos os casos em  que não obrigam a estudos de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), e elimina-se a renovação de licença ambiental abrindo caminhos aos negócios destrutivos do ambiente;
  • será mais fácil destruir sobreiros e azinheiras;
  • será mais fácil usar extrai água da natureza (ex. indústria);
  • será mais fácil destruir a Reserva Ecológica Nacional (REN);
  • será mais fácil construir junto a rios ;
  • será mais fácil obter licença de resíduos ou estar isentado dela, e tratar pior os aterros;
  • de uma maneira geral, sem AIA e com deferimentos tácitos a torto e direito, será mais fácil ainda destruir o pouco que resta de natureza em Portugal.
Mas como apenas li o preâmbulo e a parte relativa à rede de gás, ficarei muito feliz por estar a fazer conjeturas erradas. Mas, infelizmente, não deve ser o caso.  No entanto, vejam aqui a opinião da ZERO:

«ZERO considera escandalosa a proposta do Governo privilegiar o deferimento tácito no licenciamento. SIMPLEX é mais um NÃOPLEX ao Ambiente; propostas destroem um dos instrumentos mais relevantes de desenvolvimento sustentável – a avaliação de impacte ambiental»



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Dia Mundial das Zonas Húmidas 2023

 «O Dia Mundial das Zonas Húmidas celebra-se, anualmente a 2 de fevereiro, por ocasião da assinatura da «Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas», a 2 de fevereiro de 1971, na cidade irariana de Ramsar.

Este ano é o segundo ano que é comemorado como dia internacional da Organização das Nações Unidas (ONU), na sequência da sua adoção em 31 de agosto de 2021, pela Assembleia Geral.

Este dia tem como objetivo sensibilizar para a proteção das zonas húmidas e sublinhar a importância que estas têm para a existência de vida no nosso planeta.

O tema de 2023 «É tempo de restaurar as zonas húmidas!» chama atenção para a necessidade urgente de dar prioridade ao restauro das zonas húmidas e convoca toda uma geração a tomar medidas para reavivar e restaurar as zonas húmidas degradadas. Este tema enquadra-se, assim, na Década das Nações Unidas para o Restauro dos Ecossistemas. Esta iniciativa global, que vai de 2021 a 2030, lidera e inspira o restauro de ecossistemas em todo o mundo.»

Fonte (texto e imagens):  https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-mundial-das-zonas-humidas