segunda-feira, 29 de abril de 2019

Nosso Futuro Zero Emissões (por Jeffrey D. Sachs)

«A solução para as alterações climáticas induzidas pelo homem está finalmente à vista. Graças aos rápidos avanços nas tecnologias energéticas sem emissões de carbono e nos sistemas alimentares sustentáveis, o mundo pode acabar com as emissões de gases com efeito de estufa até meados do século, com poucos custos acrescidos (ou mesmo nenhum), e com benefícios decisivos para a segurança e para a saúde. 

Imagem obtida aqui
O principal obstáculo é a inércia: os políticos continuam a favorecer a indústria de combustíveis fósseis e a agricultura tradicional, sobretudo por ignorância ou por interesse.

A maior parte do aquecimento global e uma grande parte da poluição do ar resulta da queima de combustíveis fósseis. carvão, petróleo e gás.. A outra grande fonte de destruição ambiental é a agricultura, incluindo a desflorestação, o usos excessivo de fertilizantes e as emissões de metano do gado.

O sistema de energia deve mudar dos combustíveis fósseis altamente poluentes para fontes de energia limpas, sem emissões de carbono, como a energia eólica e solar, e o sistema alimentar deve mudar de grãos e gado para produtos mais saudáveis e nutritivos.

Essa transformação combinada da energia e dos alimentos faria com que as emissões líquidas de gases de efeito de estufa caíssem para zero em meados do século e se tornassem depois negativas, já que o dióxido de carbono na atmosfera é absorvido pelas florestas e solos.

Atingir emissões líquidas zero em meados do século, seguidas de emissões negativas, asseguraria provavelmente a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação à temperatura pré-industrial. De forma alarmante, o aquecimento já atingiu 1,1ºC e atemperatura global está a aumentar 0,2ºC por década.

É por isso que o mundo deve atingir emissões líquidas zero em 2050, o mais tardar.
A mudança para energia limpa evitaria centenas de milhares de mortes por ano causadas pela poulição do ar, e a mudança para dietas saudáveis e ambientalmente sustentáveis poderia prevenir cerca de dez milhões de mortes por ano.

Imagem obtida aqui
Uma mudança de baixo custo para a energia limpa é agora viável para todas as regiões do mundo, devido à descida acentuada do custo da energia solar e eólica e aos avanços no armazenamento de energia.   Os custos totais do sistema de energia renovável, incluindo transmissão e armazenamento, são agora mais ou menos equivalentes aos dos combustíveis fósseis. 

No entanto, os governos continuam a subsidiá-los, como resultado do lóbi incessante das grandes empresas do setor e da falta de planeamento para alternativas renováveis.
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Com a transformação dos nossos sistemas energéticos e alimentares, podemos desfrutar de energia de baixo custo e dietas saudáveis e satisfatórias, sem arruinar o meio ambiente. Os jovens que se manifestaram pela segurança climática já fizeram o seu trabalho. Políticos como Trump e Bolsonaro precisam de fazer o deles ou desimpedir o caminho.»

JEFFREY D. SACHS, abril 2019

Extraído de "O nosso futuro descarbonizado", Jornal de Negócios 29/4/2019 (tradução de Rita Faria)
Original: "Our Zero-Emission Future", Apr 15, 2019 JEFFREY D. SACHS, Project Syndicate

domingo, 28 de abril de 2019

Apelo das “Pessoas pelo Clima”

«Famílias afetadas pelas alterações climáticas exigem que as alterações climáticas sejam a prioridade sobre o futuro da Europa, a discutir na Cimeira de Sibiu, Roménia a 9 de maio.

A Cimeira de Sibiu, que se realiza no próximo dia 9 de maio, na Roménia, é mais uma oportunidade para os Chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) assumirem a ação climática como uma das prioridades na discussão sobre o futuro da Europa, reforçando a sua liderança para intensificar a ação climática  em antecipação à Cimeira organizada pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que irá decorrer em setembro.


As famílias envolvidas na ação judicial “Pessoas pelo Clima” (People´s Climate Case, em inglês), incluindo três portuguesas, reforçam os argumentos de que as alterações climáticas já estão a afetar hoje os cidadãos europeus, pelo que urge aumentar a ação climática.»
Fonte:  ZERO 

«Carta dos demandantes do caso legal “Pessoas pelo Clima” aos decisores políticos da União Europeia

Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu
Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu
Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia
António Costa, primeiro-ministro de Portugal

Exmos. Senhores presidentes da União Europeia,
Exmo. Senhor primeiro-ministro de Portugal,

Lisboa, 23 de abril de 2019

Estamos a escrever esta carta em nome de todos os europeus afetados pelas alterações climáticas. Somos agricultores, pastores, silvicultores, proprietários de hotéis e restaurantes e estudantes. Somos provenientes de diferentes países da Europa: Suécia, Portugal, França, Itália, Alemanha e Roménia. A única coisa que nos une é a nossa vulnerabilidade às alterações climáticas.

Armando viu parte significativa da floresta das suas propriedades ser destruída nos incêndios florestais que ocorreram em Portugal, em 2017. Ele dedicou mais de 20 anos da sua vida à gestão e proteção de uma floresta biodiversa.

Alfredo gere uma cooperativa agrícola, onde conjuntamente com 35 famílias, uma das quais a de Joaquim, praticam agricultura em modo de produção biológico. Eles sabem que, num cenário de alterações climáticas acima do limiar de 1,5º C, poderão ter de abandonar esta atividade, por incapacidade do sistema agroflorestal se adaptar ao aumento de temperatura e aos períodos de seca.

Sanna é uma jovem sueca de 23 anos, herdeira das renas de Saami e representa a Associação Juvenil Saami. Devido às alterações imprevistas no clima da região, a sua comunidade deixou de poder contar com o conhecimento indígena tradicional. O stress mental causado pela imprevisibilidade climática que afeta o seu modo de vida e a subsistência da comunidade resultou em elevadas taxas de suicídio entre os mais jovens.

Maurice, um agricultor especializado no cultivo de lavanda, perdeu 44% do seu rendimento nos últimos seis anos devido a períodos de seca consecutivos no sul de França.

Maike and Michael trabalharam ao longo de 20 anos para construir, a partir do zero, um negócio familiar com um hotel e restaurante na sua cidade natal de Langeoog, na Alemanha, e correm agora o risco de perder tudo devido ao aumento do nível do Mar do Norte.

Petru é agricultor nas montanhas dos Cárpatos na Roménia e testemunha como as alterações climáticas estão a afetar os recursos hídricos na sua região. Ele enfrenta um sério risco de perder as terras agrícolas da família devido aos períodos de seca e falta de água na região.

A família de Ildebrando está no negócio da apicultura em Portugal há décadas. As alterações na estação de floração e o clima cada vez mais quente começaram a dizimar as colmeias e a sua família perdeu 60% da sua produção em 2017.

A família de Giorgio produz localmente produtos biológicos e administra uma pequena pousada nos Alpes italianos que depende das famosas condições de escalada nas montanhas existentes na região. As alterações na temperatura estão a tornar a escalada cada vez mais perigosa e a afetar a receita das famílias daquela região alpina.

Em maio de 2018, juntamente com os nossos filhos e a Associação de Jovens Saami na Suécia, iniciámos uma ação judicial contra a União Europeia (UE) no Tribunal Europeu de Justiça devido à inadequada meta climática da UE para 2030. Defendemos que a atual meta climática da UE para 2030 – que visa reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em pelo menos 40%, por comparação com os níveis de 1990 – é inadequada em relação à necessidade real de prevenir as consequências resultantes das alterações climáticas, e longe do necessário para proteger os nossos direitos fundamentais de vida, saúde, ocupação e propriedade.

Desde então, as instituições europeias concordaram repetidamente com a nossa reivindicação. O Parlamento Europeu votou duas resoluções, apelando para um aumento da meta climática da UE para 2030, de 40% para 55%. A estratégia de longo prazo apresentada pela Comissão Europeia reconheceu que o atual objetivo climático da UE não está em conformidade com o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura em 1,5ºC. Estes sucessivos reconhecimentos da falta de ambição climática para 2030 provam que estamos certos em exigir metas climáticas mais ambiciosas dos políticos europeus. Melhores políticas e mais ação climática são a única forma de proteger os nossos direitos e criar um futuro melhor para todos nós.

A 9 de maio, V. Exas. irão reunir com os Chefes de Estado e de Governo dos 28 Estados-membros da UE para discutir o futuro da Europa.

Vimos apelar a V. Exas. e aos Chefes de Estado e de Governo que coloquem a ação climática no centro deste debate e o compromisso de limitar o aumento global da temperatura do planeta em 1,5ºC.

Enquanto cidadãos Europeus, o nosso futuro depende do futuro da Europa.

Alfredo Sendim, agricultor, Portugal
Armando Carvalho, proprietário de terrenos florestais, Portugal
Giorgio Elter, agricultor e proprietário de uma pousada, Itália
Ildebrando Conceição, apicultor, Portugal
Joaquim Caixeiro, agricultor, Portugal
Maike e Michael Recktenwald, proprietários de hotel e restaurante, Alemanha
Maurice e Renaud Feschet, agricultores, França
Sanna Vannar, presidente de Sáminuorra, Suécia (em nome da juventude Saami)
Vlad Petru, agricultor e pastor, Roménia»

Fonte:  ZERO / Carta integral em:  https://bit.ly/2DqrPfo  (e Público)


quarta-feira, 24 de abril de 2019

Petição contra a Extração de Minerais na Peneda e Soajo

Vamos fazer alguma coisa para defender a Serra da Peneda e Soajo contra os interesses económicos tão acarinhados pelos governantes... por isso, apelamos à assinatura da petição

«Contra a Prospeção e Extração de Depósitos Minerais na área denominada Fojo- Serra da Peneda e Soajo

Para: 
Direção de Serviços de Minas e Pedreiras; Direção Geral de Energia e Geologia; 
Ministério do Ambiente e Transição Energética.

Os cidadãos signatários desta petição vem por este meio, de acordo com o "Direito de Petição"(ponto 1 do artigo 52º da Constituição da República Portuguesa Lei nº43/90, de 10 de Agosto, com as alterações introduzidas, e retificadas pela Declaração nº23/2017, de 5 de Setembro):

1 - manifestar a sua opinião em relação ao Pedido de Atribuição de Direitos de Prospeção e Pesquisa de Depósitos Minerais, na área denominada “Fojo”, à qual corresponde o Aviso nº 4722/2019, de 20 de Março de 2019(Diário da República nº56/2019, IIª Série), requerido pela Fortescue Metals Groupe Exploration Pty Ltd., o qual se encontra em fase de consulta pública na Direcção de Serviços de Minas e Pedreiras, da Direcção Geral de Energia e Geologia, no cumprimento do estipulado pelo nº1 do artigo 6º do Decreto-Lei nº99/90, de 16 de Março.

2 – Solicitar o seu INDEFERIMENTO, com base na fundamentação que em seguida se apresenta: ..

Fonte e continuação em:  https://peticaopublica.com/?pi=PT92714


terça-feira, 23 de abril de 2019

Em nome das futuras gerações

«Meu nome é Greta Thunberg. Tenho 16 anos. Eu venho da Suécia. E falo em nome das futuras gerações.

Eu sei que muitos de vós não nos quereis ouvir - vós dizeis que somos apenas crianças. Mas nós estamos apenas repetindo a mensagem da ciência climática unida.


Foto: Facebook de Greta Thunberg, 23/4/2019
Muitos de vós pareceis preocupados com o fato de estarmos a desperdiçar valioso tempo de aulas, mas asseguro-vos que voltaremos à escola no momento em que começais a ouvir a ciência e a dar-nos um futuro.  Será que isso é realmente pedir muito?

No ano 2030 eu terei 26 anos de idade. Minha irmãzinha Beata terá 23 anos. Assim como muitos dos vossos próprios filhos ou netos. Essa é uma ótima idade, disseram-nos. Quando tens toda a sua vida pela tua frente. Mas não tenho certeza de que seja assim bom para nós.

Tive a sorte de nascer num tempo e lugar onde todos nos diziam para sonhar alto; Eu poderia me tornar o que eu quisesse. Eu poderia morar onde quisesse. Pessoas como eu tinham tudo o que precisávamos e muito mais. 

Coisas que nossos avós nem podiam sonhar. Nós tínhamos tudo que poderíamos desejar e, no entanto, agora podemos não ter nada.

Agora, provavelmente, não temos mais futuro.

Porque esse futuro foi vendido para que um pequeno número de pessoas pudesse ganhar quantias inimagináveis de dinheiro. 

Foi nos roubado cada vez que vós dissestes que o céu era o limite, e que só se vive uma vez.

Vós mentistes-nos. Vós destes-nos falsas esperanças.

Vós dissestes-nos que o futuro era algo para se ansiar. E o mais triste é que a maioria das crianças nem sequer sabe o destino que nos espera.

Nós não vamos entender até que seja tarde demais. E, no entanto, ainda somos os sortudos. Aqueles que serão mais afetados já estão a sofrer as consequências. Mas suas vozes não são ouvidas.

O meu microfone está ligado? Podeis ouvir-me?

Por volta do ano 2030, daqui a 10 anos 252 dias e 10 horas, estaremos numa situação em que desencadearemos uma reação em cadeia irreversível, para além do controle humano, que provavelmente levará ao fim de nossa civilização como a conhecemos.

A não ser que nesse espaço de tempo tenham ocorrido mudanças permanentes e sem precedentes em todos os aspetos da sociedade, incluindo uma redução das emissões de CO2 em pelo menos 50%.

Por favor, note que esses cálculos dependem de invenções que ainda não foram inventadas em escala, invenções que deveriam limpar a atmosfera de quantidades astronómicas de dióxido de carbono.

Além disso, esses cálculos não incluem pontos de inflexão imprevisíveis e ciclos de retroalimentação como a libertação do extremamente poderoso gás metano do permafrost do ártico com o rápido degelo.  Nem esses cálculos científicos incluem o aquecimento já bloqueado, oculto pela poluição tóxica do ar.

Nem a equidade - ou justiça climática - claramente expressa no acordo de Paris, e que é absolutamente necessário para que ele funcione em escala global.

Também devemos ter em mente que estes são apenas cálculos. Estimativas. Isso significa que esses “pontos de não retorno” podem ocorrer um pouco mais cedo ou mais tarde do que 2030. Ninguém pode ter certeza. Podemos, no entanto, ter certeza de que eles ocorrerão aproximadamente nesses prazos, porque esses cálculos não são opiniões ou palpites.

Essas projeções são apoiadas por fatos científicos, concluídos por todas as nações através do IPCC. Quase todos os principais órgãos científicos nacionais de todo o mundo apoiam sem reservas o trabalho e as conclusões do IPCC.

Você ouviu o que eu acabei de dizer? 
O meu inglês está bom? 
O microfone está ligado? 
Porque eu começo a duvidar.

Durante os últimos seis meses, viajei pela Europa durante centenas de horas em comboios, carros elétricos e autocarros, repetindo muitas vezes estas palavras transformadoras.

Mas ninguém parece estar a falar sobre isso e nada mudou.
Na verdade, as emissões ainda estão a aumentar.

Quando viajo para falar em diferentes países, sempre me oferecem ajuda para escrever sobre as políticas climáticas específicas em países específicos. Mas isso não é realmente necessário.

Porque o problema básico é o mesmo em todos os lugares.

E o problema básico é que basicamente nada está a ser feito para deter - ou mesmo retardar - o colapso climático e ecológico, apesar de todas as belas palavras e promessas.

O Reino Unido é, no entanto, muito especial. Não apenas pela sua histórica dívida de carbono, mas também pela sua atual e muito criativa contabilidade de carbono.

Desde 1990, o Reino Unido alcançou uma redução de 37% em suas emissões territoriais de CO2, de acordo com o Global Carbon Project. E isso soa muito impressionante. Mas esses números não incluem as emissões da aviação, da navegação e as associadas às importações e exportações.  Se esses números forem incluídos, a redução é de cerca de 10% desde 1990 - ou uma média de 0,4% ao ano, segundo Tyndall Manchester.

E a principal razão para esta redução não é uma consequência das políticas climáticas, mas sim uma diretiva da UE de 2001 sobre a qualidade do ar que essencialmente obrigou o Reino Unido a encerrar as suas antigas e extremamente sujas centrais a carvão e a substituí-las por centrais de gás menos sujo. E mudar de uma fonte de energia desastrosa para outra menos desastrosa resultará, obviamente, numa redução das emissões.

Mas talvez o equívoco mais perigoso sobre a crise climática é que temos que “baixar” nossas emissões. Porque isso está longe de ser suficiente.

Para ficarmos abaixo de 1,5-2ºC de aquecimento, as nossas emissões precisam parar.

A “redução das emissões” é obviamente necessária, mas é apenas o início de um processo rápido que deve levar a uma paragem dentro de menos de duas décadas. E por "stop" quero dizer balanço zero - e depois rapidamente para números negativos. Isso exclui a maior parte das políticas atuais.

O fato de estarmos a falar de “baixar” em vez de “parar” as emissões é talvez a maior força dos negócios do costume (business as usual).

O atual apoio do Reino Unido à nova exploração de combustíveis fósseis - por exemplo, a indústria de fraturamento de gás de xisto do Reino Unido, a expansão dos campos de petróleo e gás do Mar do Norte, a expansão dos aeroportos e a permissão de planos para uma nova mina de carvão – é para além do absurdo.

Este comportamento irresponsável contínuo será, sem dúvida, lembrado na história como um dos maiores fracassos da humanidade.

As pessoas sempre me dizem e aos outros milhões de grevistas da escola que devemos nos orgulhar pelo que conseguimos.

Mas basta-nos olhar para a curva de emissões. 
E lamento, mas ainda está a aumentar. 
Essa curva é a única coisa que temos de olhar.

Cada vez que tomamos uma decisão, devemos nos perguntar: como esta decisão afetará essa curva? 

Não devemos mais medir a nossa riqueza e sucesso no gráfico que mostra o crescimento económico, mas na curva que mostra as emissões de gases de efeito estufa. Não devemos mais perguntar apenas: "Temos dinheiro suficiente para levar isto adiante?", Mas também: "Temos orçamento de carbono suficiente para gastar com isto?". Isso deve e tem de se tornar o centro da nossa nova moeda.

Muitas pessoas dizem que não temos soluções para a crise climática. E eles estão certos. Porque, como poderíamos?

Como "resolveis" a maior crise que a humanidade já enfrentou? 
Como "resolveis" uma guerra? 
Como "resolveis" ir à lua pela primeira vez? 
Como "resolveis" inventar novas invenções?

A crise climática é a questão mais fácil e mais difícil que já enfrentamos. O mais fácil porque sabemos o que devemos fazer. Temos que parar as emissões de gases de efeito estufa. O mais difícil, porque nossa economia atual ainda depende totalmente da queima de combustíveis fósseis e, para criar crescimento económico, destrói os ecossistemas.

"Então, exatamente como resolvemos isso?", vós perguntais-nos - às crianças que estão em greve escolar pelo clima.

E nós dizemos: “Ninguém sabe ao certo. Mas temos que parar de queimar combustíveis fósseis e restaurar a natureza e muitas outras coisas que talvez ainda não tenhamos descoberto.”

Então vós dizeis: "Isso não é uma resposta!"

Então, dizemos: "Temos que começar a tratar a crise como uma crise - e agir mesmo se não tivermos todas as soluções".

"Isso ainda não é uma resposta", vós dizeis.

Então começamos a falar de economia circular, de restaurar a natureza e da necessidade de uma transição justa.

Então vós não entendeis do que falamos.

Dizemos que todas essas soluções necessárias não são conhecidas por ninguém e, portanto, devemos nos unir atrás da ciência e encontrá-las juntos ao longo do caminho.

Mas vós não escutais. Porque essas respostas são para resolver uma crise que a maioria de vós não entende completamente. Ou não quereis entender.

Vós não ouvis a ciência porque apenas estais interessados em soluções que permitirão que tudo continue como antes. Como agora. E essas respostas não existem mais. Porque vós não agistes a tempo.

Evitar o colapso do clima exigirá o pensamento da catedral. Nós devemos fazer as fundações mesmo sem saber exatamente como construir o teto.

Às vezes simplesmente temos que encontrar um caminho. No momento em que decidimos cumprir alguma coisa, podemos fazer qualquer coisa.

E tenho certeza de que, no momento em que nos começarmos a comportar como se estivéssemos numa emergência, poderemos evitar a catástrofe climática e ecológica. Os humanos são muito adaptáveis: ainda podemos consertar isso.

Mas a oportunidade de fazê-lo não durará muito tempo. Nós devemos começar hoje. Não temos mais desculpas.

Nós, crianças, não estamos a sacrificar a nossa educação e a nossa infância para que vós nos digais o que considerais politicamente possível na sociedade que vós criastes.

Nós não fomos às ruas para vós tirardes selfies connosco e nos dizerdes que realmente admirais o que fazemos.

Nós, crianças, estamos a fazer isso para acordar os adultos.

Nós, crianças, estamos a fazer isso para vós colocardes as vossas diferenças de lado e começardes a agir como se fosse uma crise.

Nós, crianças, estamos a fazer isso porque queremos as nossas esperanças e sonhos de volta.

Espero que meu microfone estivesse ligado. Espero que todos vós me possais ouvir

Fonte:  
Greta Thunberg, 23 de abril 2018, discurso no Parlamento Britânico (tradução livre);
Via The Guardian, ‘You did not act in time’: Greta Thunberg’s full speech to MPs,

domingo, 21 de abril de 2019

Uma mensagem vinda do futuro

"O nosso futuro ainda não foi escrito, nós podemos ser aquilo que tivermos a coragem de imaginar"  Alexandria Ocasio-Cortez

 O Intercept apresenta um filme narrado por Alexandria Ocasio-Cortez* e ilustrado por Molly Crabapple, que abraça a possibilidade um futuro melhor.

O filme consta de uma mensagem vida de um tempo futuro, a algumas décadas de agora, e conta como foi possível combater a crise climática e a concentração de riqueza, superando o maior obstáculo de todos: o ceticismo sobre a mudança.

*Alexandria Ocasio-Cortez  é uma jovem política e ativista, atualmente a congressista na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos por Nova Iorque.
**O Novo Acordo Verde (Green New Deal - GND) é a proposta de um programa para combater as alterações climáticas e a desigualdade económica, apresentado pela Congressista Alexandria Ocasio-Cortez e pelo Senador Ed Markey.



quarta-feira, 17 de abril de 2019

Ajam como se a casa estivesse a arder (Greta Thunberg)

O meu nome é Greta Thunberg, venho da Suécia e quero que entrem em pânico. Quero que ajam como se a casa estivesse a arder.
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Ontem o mundo assistiu, com desespero e grande tristeza, a Notre Dame a arder em Paris.Alguns edifícios são mais que edifícios. Mas Notre Dame será reconstruída.
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A nossa casa está se desmoronando e os nossos líderes precisam começar a agir de acordo. Porque no momento, eles não estão!
...
As eleições da UE estão a chegar.

E muitos de nós que serão mais afetados por esta crise, pessoas como eu, não têm direito a votar.
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E é por isso que milhões de crianças estão nas ruas com a greve à escola para chamar a atenção para a crise climática.

Vocês precisam nos ouvir, nós que não podemos votar.

Vocês precisam votar por  nós, pelos seus filhos e netos.

O que estamos a fazer agora em breve não poderá mais ser desfeito.

Nesta eleição vocês votam para as futuras condições de vida para a humanidade.
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Nossa casa está a cair aos pedaços.
O futuro, assim como o que conquistamos no passado, está literalmente em vossas mãos agora.
Mas ainda não é tarde para agir.
Será necessária uma visão de longo alcance.
Será preciso coragem.
Será preciso determinação feroz para agir agora, para estabelecer as fundações quando ainda  não sabemos como vai ser o telhado.

Por outras palavras, será necessário pensamento “catedral”.

Peço que vocês, por favor, acordem e façam as mudanças necessárias.
Fazer o vosso melhor já não é o suficiente.
Todos nós devemos fazer o que parece impossível.
E tudo bem se você se recusar a me ouvir.
Afinal, eu sou apenas uma estudante de 16 anos da Suécia.
Mas vocês não podem ignorar os cientistas ou a ciência.
Ou os milhões de crianças em greve que estão clamando pelo direito a um futuro.
Eu imploro, por favor, não falhem nisto.»

Palavras de Greta Thunberg (16 anos) dirigidas ao Parlamento Europeu, no dia 16 de abril de 2019, conforme vídeo abaixo.




«Greta Thunberg, ativista climática sueca de 16 anos, fez um apelo apaixonado ao planeta no Parlamento Europeu na terça-feira (16 de abril), exortando os deputados a "começarem a entrar em pânico com a mudança climática" em vez de "perder tempo discutindo Brexit" .

Em outro discurso impressionante aos membros da UE, desta vez em frente à comissão de meio ambiente do Parlamento, Thunberg disse aos deputados que “eu quero que vocês ajam como se a vossa casa estivesse em chamas. Eu quero que entrem em pânico".

A ativista reconheceu que "algumas fações não me querem aqui hoje porque elas não querem falar sobre o colapso climático", mas reiterou que "está tudo bem se me ignorarem, mas não podem ignorar a ciência".

Traçando paralelos com o trágico inferno da noite de segunda-feira que varreu o teto da catedral de Notre-Dame, em Paris, Thunberg esperava que "as fundações de nossa civilização fossem ainda mais fortes que as de Notre-Dame. Temo que não sejam."

Ela acrescentou que "se a casa estivesse a desmoronar-se, vocês não perderiam tempo discutindo sobre o Brexit" e que "mudanças permanentes e sem precedentes" são necessárias, incluindo garantir que as emissões sejam cortadas em pelo menos 50% até 2030. A meta atual é 40%.»

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=14w8WC1I3S4

terça-feira, 16 de abril de 2019

Rebelião ou extinção

"Extinction Rebellion" é um movimento global de ação que pretende exigir aos governos medidas sérias e de dimensão adequada ao tamanho do problema, para enfrentar a crise das alterações climáticas. Este movimento está a promover, a partir de 15 de abril de 2019, ações não violentas para chamar a atenção para o problema.   No âmbito desta campanha, em Portugal, os Rebeldes pela Vida (Rebelião de Extinção – Extinction Rebellion Portugal) convidam a uma  semana de protestos.  Entretanto, já ocorreram pelo menos três ações em Portugal:  - Dia 15/4 - na sede da Nestlé em Lisboa (ato 1);   - Dia 15/4 - no European Climate Summit, Lisboa (ato 2);  - Dia 16/4 (hoje) - nos estúdios da CMTV em direto (ato 3).   Para o dia 20 de abril está prevista a ação "Morrer ou Viver" no Porto.

Mas as ações acontecem em várias partes do mundo, a rebelião pela vida está a chegar e ninguém a vai conseguir parar! 

«Apenas a rebelião evitará um apocalipse ecológico. Ninguém virá para nos salvar. Desobediência civil em massa é essencial para forçar uma resposta política.» George Monbiot, via Greta Thunberg

«Exigimos que a verdade deixe de ser escamoteada, que a crise climática e ecológica seja tratada como tal, e que uma transição justa seja aplicada desde já, com sentido de urgência! Assim, entre 15 e 21 de Abril, na Semana Internacional de Rebelião, estaremos nas ruas para exigir e construir um planeta justo e habitável.




O tempo acabou. Rebelião ou extinção!»



Extinction Rebellion está a chegar a Portugal! from Climaximo on Vimeo.


«A verdade
Enfrentamos uma emergência global sem precedentes. A vida na Terra está em crise: os cientistas concordam que entramos num período de ruptura abrupta do clima, e estamos no meio de uma extinção em massa que nós próprios criamos.»

Fonte: https://rebellion.earth  (tradução)




Rebelião de Extinção – Extinction Rebellion Portugal

DECLARAMOS
Uma rebelião internacional não-violenta contra os governos do mundo por causa da inação criminal sobre a crise ecológica.

REIVINDIAÇÕES

1. Que os governos digam a verdade sobre a crise ecológica

2. Redução drástica das emissões de gases de efeito de estufa através de uma mobilização massiva de emergência climática e uma transição justa
3. Democracia participativa

Mais informação sobre as exigências, valores e princípios da Rebelião de Extinção: https://rebellion.earth

O PLANO EM PORTUGAL
Durante a Semana Internacional de Rebelião (15-21 de abril), vai haver várias ações de desobediência civil relacionados aos temas
  • energia
  • transportes
  • alimentação
  • decisões políticas
  • indústria de moda
  • greenwashing
  • resíduos e plástico
Este site (http://rebeldespelavida.climaximo.pt/ ) não faz parte da organização de nenhuma destas ações e serve meramente como uma ferramenta de coordenação de comunicação. Qualquer pessoa e qualquer coletivo que concorda com os princípios e os valores da Rebelião de Extinção pode formar o seu grupo de afinidade e preparar ações.

A lista dos temas serve como inspiração e não como limitação. (Aliás, muitos dos temas mencionados têm vários subtemas que merecem uma elaboração mais profunda.)»

sábado, 13 de abril de 2019

Peneda e Soajo em risco de exploração mineira

«As serras do Soajo e da Peneda enfrentam a sua maior ameaça de sempre. A nascente do rio Vez está dentro da área. 

A anunciada intenção de prospecção terá efeitos gravosos e deixará marcas eternas numa área vasta e provocar a contaminação do rio Vez desde a nascente. 

E estamos a falar do impacto na fase da prospecção. 

Se se concretizar a exploração mineira podem, em último caso, aplanar montanhas inteiras, como o "Pedrinho" »


Fonte. Rui de Brito Mendes,  (vídeo abaixo)



Na maravilhosa região da Serra da Peneda e do Soajo, no Alto Minho, por terras de Arcos de Valdevez, pela belíssima aldeia de Sistelo, o turismo de natureza é uma das importantes fontes de rendimento dos locais.  

Passear pelos trilhos ou passadiços, pela serra ou junto ao rio Vez é mais que uma lufada de ar fresco, é ganhar saúde e deliciar a alma.

Mas, as garras de empresas gigantes estão já a ser afiadas para começarem a prospeção mineira, os avisos de intenção já foram publicados nas últimas semanas. 

E claro, se a população não se opuser a sério, o governo, este como qualquer outro, entrega de mão beijada os recursos naturais às grandes corporações, sem acautelar impactos ambientais ou sociais. As partes más da História  repetem-se continuamente.

«É uma empresa relativamente recente no sector – foi fundada em Perth, na Austrália, em 2003 – mas já é um dos gigantes da mineração, sobretudo quando em análise está a extracção e exploração de ferro em todo o mundo. A Fortescue é a quarta maior produtora global de minério de ferro, com uma operação integrada de exploração, mineração e transporte, que engloba a “ferrovia de carga pesada mais rápida do mundo”, um gigantesco porto de cinco ancoradouros de onde saem navios para todo o mundo, com particular frequência para a China. Toda esta operação fica do outro lado do planeta, mas agora no seu radar entrou um pequeno país na ponta ocidental da Europa.

Nas últimas semanas foram publicados em Diário da República seis avisos a dar conta de que a Fortescue Metals Group Exploration requereu a atribuição “de direitos de prospecção e pesquisa de depósitos minerais de ouro, prata, chumbo, zinco, cobre, lítio, tungsténio, estanho e outros depósitos minerais ferrosos e minerais metálicos associados” em várias áreas do país, no norte e Centro de Portugal. Os anúncios são para as áreas denominadas “Cruto” (99,1 km2, localizados no concelhos de Braga, Barcelos e Vila Verde), “Fojo” (74,7 km2, nos concelhos de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez), “Viso” (133,3 km2, em Vieira do Minho, Montalegre, Cabeceiras de Bastos, Fafe); “Calvo” (375,2 km2, nos concelhos de Almeida, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo), “Crespo” (189,6 km2, em Idanha-a-Nova) e “Nave” (308,5 km2, nos concelhos de Guarda, Almeida e Sabugal).

Todo somado, são mais de 1100 km2 de área a pesquisar, todos à volta das áreas que foram identificadas como de elevado potencial na estratégia nacional do lítio – e cuja autorização para pesquisa e exploração vai ser definida por concurso público internacional.»

Fonte: DGEG

De acordo com o aviso 4722/2019 publicado a 20 de março , podem ser apresentadas reclamações fundamentadas, até 19 de abril:

«Atendendo ao Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de março, convidam-se todos os interessados, no prazo de 30 dias a contar da data da publicação do presente, a apresentar por escrito:

a) Ao abrigo do n.º 1 do artigo 6.º, reclamações fundamentadas.

b) Ao abrigo do n.º 1 e do n.º 3 do artigo 5.º, propostas contratuais.

O pedido está patente para consulta, dentro das horas de expediente, na Direção de Serviços de Minas e Pedreiras da Direção -Geral de Energia e Geologia, sita na Av.ª 5 de Outubro, n.º 208 (Ed. Santa Maria), 1069-203 Lisboa, entidade para quem devem ser remetidas as reclamações.»

(Fotos minhas, Arcos de Valdevez e Sistelo, nov 2018)


*********************** aditado em 16/4/2019 *************************

Email para enviar a pedir o INDEFERIMENTO: ver aqui


quarta-feira, 10 de abril de 2019

O cartel do veneno

«A ecologista Vandana Shiva denuncia o "cartel de veneno". Segundo ela, as multinacionais se enriquecem vendendo remédios para curar doenças que elas próprias causaram.»



Com legenda em inglês: Facebook

domingo, 7 de abril de 2019

Você vê?

«Eu vejo um sistema económico mundial que não tem outra escolha senão ser abandonado»

"Ver" é o primeiro passo para exigir a mudança. Já muitos estão a "ver" o que se passa, e a mudança lenta que ocorre não chega, vai ter de acelerar, e muito.

Eu vejo a maior parte do que está no filme abaixo, e é por isso que ainda ando pela blogosfera, 10 anos depois;  e é sobretudo por isso que ainda me mantenho em algumas redes sociais; a ver se ajudo mais algumas pessoas a "ver".

«Há tantas guerras a nível mundial porque "a rica Europa e América vendem armas (...) para matar crianças e matar pessoas."
"Um país que fabrica e vende armas tem na sua consciência a morte de todas as crianças e a destruição de cada família."
Declarações do Papa Francisco, fonte: TSF, 6/4/2019

«Um consórcio de estados ocidentais – incluindo os EUA, o Reino Unido e a França – continuam a fornecer armamento a membros da coligação de liderança saudita e dos EAU, apesar de provas avassaladoras de que este está a ser usado para cometer crimes de guerra. Apenas uma mão-cheia de países suspendeu as vendas de armas, incluindo estes a Holanda, a Noruega, a Dinamarca, a Finlândia e a Suíça.»
Fonte: "Iémen: quatro anos de um conflito mortífero", Amnistia Internacional, 25/3/2019


Sim, eu também vejo as ações maravilhosas de gente maravilhosa de todas as idades, ao meu redor e pelo mundo fora. 
São essas pessoas  que me inspiram e que ainda me dão esperança. 
Mas é preciso que mais "vejam" e se lhes juntem na construção de um novo mundo.

Esta mensagem (abaixo dos ****) com o vídeo "Você vê o que eu vejo?" foi publicada neste blogue em 31/7/2012, republicada hoje, 7/4/2019.

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"Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade" Ayn Rand

Versão em inglês aqui

Nota: 1 bilhão (Brasil) = mil milhões (Portugal)