sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Greta Thunberg na COP25

Uma menina mais lúcida que a grande maioria dos adultos! E com a coragem de dizer a verdade!



Mensagem de Greta Thunberg,  de16 anos,  na COP25, Madrid, dia 11 de dezembro de 2019:

«Há um ano e meio atrás eu não falava com ninguém a menos que eu realmente precisasse.

Mas então eu encontrei uma razão para falar e desde então eu fiz muitos discursos e aprendi que para falar em público, se deve começar com algo pessoal ou emocional para chamar a atenção de todos, dizendo coisas como “a nossa casa está pegando fogo”, “eu queria entrar em pânico” ou “como se atrevem?”

Mas hoje não vou fazer isso, pois as pessoas focam-se nessas frases e não se lembram dos factos, as verdadeiras razões pelas quais eu digo essas coisas.
Há cerca de um ano que falo constantemente sobre o rápido declínio dos nossos orçamentos de carbono. Mas como isso ainda está sendo ignorado, continuarei repetindo.

No capítulo 2, na página 108 do relatório SR 1.5 do IPCC lançado no ano passado, diz que podemos ter uma possibilidade de 6% a 7% de limitar o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 graus Celsius. Em 1 de Janeiro de 2018, tínhamos um orçamento de 420 gigatoneladas de CO2 para emitir. E é claro que esse número é muito menor hoje, pois emitimos cerca de 42 gigatoneladas de CO2 por ano, incluindo o uso da terra.


Imagem daqui
Com os níveis de emissões atuais, esse orçamento restante será esgotado em cerca de 8 anos. Esses números não são opiniões ou visões políticas de ninguém. Esta é a melhor ciência disponível atualmente. Embora muitos cientistas sugiram que esses números sejam moderados demais, esses são os que foram aceites pelo IPCC.  Note que esses números são globais e, portanto, não dizem nada sobre a equidade, que é absolutamente essencial para fazer com que o Acordo de Paris funcione em escala global.

Isso significa que os países mais ricos precisam fazer sua justa parte e reduzir as emissões para zero muito mais rapidamente e, em seguida, ajudar os países mais pobres a fazer o mesmo, para que as pessoas nas partes menos favorecidas do mundo possam elevar seus padrões de vida. Esses números também não incluem a maioria dos círculos de retorno (feedback loops ), pontos de inflexão não lineares ou aquecimento adicional oculto pela poluição tóxica do ar.

Muitos modelos assumem, no entanto, que as gerações futuras serão capazes de sugar biliões de toneladas de CO2 do ar com tecnologias que não existem na escala necessária e talvez nunca existam. 6% a 7% são as melhores hipóteses dadas pelo IPCC. E agora temos menos de 340 gigatoneladas de CO2 para emitir nesse orçamento para partilhar de forma justa.

E por que é tão importante ficar abaixo de 1,5 graus? Porque mesmo com um 1 grau, estão a morrer pessoas devido à crise climática. Porque é isso que a ciência unida pede para evitar desestabilizar os climas, de forma a que seja possível evitar reações em cadeia irreversíveis, como derreter glaciares, o gelo polar e o degelo do permafrost do Ártico. Cada fração de um grau importa! Esta é a minha mensagem. É nisto que quero que se foquem!

Então por favor digam-me: Como é que se reage a esses números sem sentir pelo menos algum nível de pânico? Como é que se responde ao facto de que basicamente nada está a ser feito sobre isto, sem se sentir pelo menos um bocado enfurecido? Como é que se comunica isto sem soar alarmista? Eu realmente gostaria de saber!

Desde o Acordo de Paris, os bancos globais investiram 1.9 biliões de dólares (1.900.000.000.000 $) em combustíveis fósseis. 100 empresas são responsáveis por 71% das emissões globais. Os países do G20 representam quase 80% do total de emissões. Os 10% mais ricos do mundo produzem metade de nossas emissões de CO2, enquanto os 50% mais pobres representam apenas um décimo. De facto, temos algum trabalho a fazer, mas alguns mais que outros.

Recentemente, vários países ricos comprometeram-se a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente tantos por cento até aquela data, ou a tornar-se neutros em termos de clima em tantos anos. Isso pode parecer impressionante à primeira vista, mas, embora as intenções possam ser boas, isso não é liderança. Isso não é liderar. Isso é enganoso, porque a maioria dessas promessas não inclui aviação, transportes nem importações e exportações de bens, nem o consumo . Contudo, incluem a possibilidade de os países compensarem suas emissões em outros lugares.

Essas promessas não incluem as taxas de redução anual imediata necessárias para os países ricos, que são necessárias para permanecer dentro do pequeno orçamento restante. Zero em 2050 não significa nada; se continuarem as emissões elevadas mesmo por alguns anos, o orçamento restante se esgotará. Sem ver o quadro completo, não resolveremos esta crise. Encontrar soluções holísticas deveria ser o objetivo da COP, mas parece ter se transformado nalgum tipo de oportunidade para os países negociarem brechas e evitarem aumentar sua ambição.

Os países estão a encontrar maneiras inteligentes de contornar a ação real. Como contar duas vezes as reduções de emissões, como deslocar as suas emissões para o exterior, como voltar atrás nas suas promessas de aumentar a ambição, ou recusar-se a pagar soluções ou indemnizações por perda e danos. Isso tem que parar. 

O que precisamos é de cortes drásticos nas emissões na fonte, mas é claro que apenas reduzir as emissões não é suficiente. Nossas emissões de gases de efeito estufa precisam parar. 

Para ficar abaixo de 1,5 graus, precisamos manter o carbono no solo. 

Apenas definir datas distantes e dizer coisas que dão a impressão de que a ação está em andamento provavelmente fará mais mal do que bem, porque as mudanças necessárias ainda não estão em lugar nenhum. A política necessária não existe hoje, apesar do que se possa ouvir dos líderes mundiais. E ainda acredito que o maior perigo não é a inação. O verdadeiro perigo é quando políticos e CEOs (dirigentes empresariais) estão a fazer parecer que ações reais estão a acontecer , quando, na verdade, quase nada está a ser feito além de contabilidade inteligente e relações públicas (marketing) criativas.

Tive a sorte de poder viajar pelo mundo. E minha experiência é que a falta de consciencialização é a mesma em todos os lugares, mesmo entre os eleitos para nos liderar.  Não há qualquer sentido de urgência, os nossos líderes não se comportam como se fosse uma emergência.  Numa emergência você muda seu comportamento. Se estiver uma criança parada no meio da estrada e os carros estão a chegar a toda velocidade, você não desvia o olhar porque é muito desconfortável, você imediatamente corre e resgata essa criança.  E sem esse sentido de urgência como podem as pessoas entender que estamos diante de uma verdadeira crise, e se as pessoas não estão totalmente cientes do que está a acontecer, elas não vão pressionar quem está no poder para agir. E sem a pressão das pessoas, os nossos líderes podem se safar basicamente não fazendo nada, que é onde estamos agora. E assim andamos à roda.

Daqui a apenas três semanas entraremos numa nova década, uma década que definirá nosso futuro. No momento, estamos desesperados por qualquer sinal de esperança. Bem, eu digo, há esperança. Eu já a vi, mas não vem dos governos ou das corporações. Vem do povo. 

As pessoas que desconheciam, mas agora estão começando a acordar. E uma vez que tomamos consciência, mudamos. As pessoas podem mudar. As pessoas estão prontas para a mudança. E essa é a esperança, porque temos democracia e a democracia está acontecendo o tempo todo. Não apenas no dia das eleições, mas a cada segundo e a cada hora. 

É a opinião pública que governa o mundo livre. De facto, todas as grandes mudanças ao longo da história vieram do povo. Não precisamos esperar. Podemos começar a mudança agora mesmo. 
Nós as pessoas. 
Obrigada. »
Greta Thunberg   (tradução livre)

4 comentários:

  1. Desse discurso
    reduzi-o
    muito

    mas tá lá tudo

    https://youtu.be/yHG4IFgDCGM

    pouco mais de 4 minutos
    e com legendas

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    1. Obrigada Rogério, assim achei a versão legendada!
      Essa metade do discurso contém os números, a razão. A restante, o apelo, a emoção.

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  2. A COP25 irá ser um flop
    quando era tão necessário
    que assim não fosse

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    1. Está difícil manter a esperança... mas devêmo-la aos jovens

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