terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Fukuoka e os legumes limpos

Extrato do capítulo "Criar legumes como se fossem plantas selvagens" do livro "A Revolução de Uma Palha", 1975, do japonês Masanobu Fukuoka (1913-2008), que com a sua agricultura selvagem, sem químicos, sem máquinas e com pouco trabalho, foi o precursor do conceito da permacultura:

Imagem obtida em Create&Share
«Falemos agora dos legumes. Tanto pode tratar-se de uma horta para consumo doméstico ou de cultivo em campo.

Em relação à horta basta dizer que devemos cultivar os legumes certos no momento certo num solo preparado com composto orgânico e estrume. No Japão antigo, o método para cultivar legumes de consumo doméstico misturava-se harmoniosamente com o modo de vida natural. As crianças brincavam sob as árvores de fruta da horta. Os porcos comiam os restos da cozinha e patinhavam em círculos. Os cães ladravam e brincavam enquanto o camponês semeava a terra fértil. Minhocas e insectos cresciam junto com os legumes, as galinhas debicavam as minhocas e punham ovos para as crianças. 

Era assim que, há não mais de vinte anos, a família rural típica cultivava os seus legumes.


Preveniam-se as doenças das plantas fazendo crescer as culturas tradicionais no momento certo, conservando o solo de boa saúde fazendo regressar à terra de todos os resíduos orgânicos, e praticando a rotação de culturas. Os insectos nocivos eram apanhados à mão ou comidos pelas galinhas. Na parte sul de Shikoku, havia uma espécie de galinhas capazes de comer as minhocas e os insectos sem esgaravatar as raízes nem estragar as plantas.


Algumas pessoas poderão mostrar-se inicialmente cépticas quanto à ideia de usar o esterco animal e os dejectos humanos. É que hoje as pessoas querem legumes "limpos". Por isso, os agricultores cultivam-nos em estufas quentes sem utilizar terra alguma. Culturas em cascalho, culturas em areia e culturas hidropónicas tornam-se cada vez mais populares. Os legumes desenvolvem-se graças a substâncias químicas e a luz é filtrada através de toldos de vinil. Parece estranho que as pessoas tenham acabado por pensar que estes legumes cultivados quimicamente são "limpos" e saudáveis para consumo. Os alimentos que cresceram num solo equilibrado através da acção das minhocas, dos microorganismos e dos esterco animal em decomposição são os mais limpos e sadios de todos.»

 Fonte: "A Revolução de Uma Palha", Masanobu Fukuoka, Editora Via Óptima, 2008

(Nota de 14/12/2013: livro disponível para download aqui)

2 comentários:

  1. Isto é quase o mesmo que isto:
    Casa limpa, tem que ter cheiro de perfumes altamente químicos. Assim como tudo o resto.
    Pois eu prefiro uma casa com cheiros naturais, de lenha, de comida, de pessoas, apenas limpas...
    Prefiro ter uns insectos (vivo no campo), do que borrifar insecticidas, alguns sem cheiro (um tal de Bio Kill que as pessoas compram achando que é altamente biológico só por ter bio no nome, ihihihihi), mas que matam eficazmente.
    E-QUI-LÌ-BRIO, a palavra chave em alguns casos, em outros, simplesmente abolir costumes/hábitos/enganos.

    bjs

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  2. aNaTureza

    100% de acordo :) Aquilo que hoje se julga "limpo" é normalmente o que há de mais "sujo"

    Beijinhos

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