Encontrei este texto chamado "
Não desista do Brasil" de
Robson Fernando no blogue parceiro
Arauto da Consciência. Indo de encontro ao que eu penso e ao cansaço de um ano de trabalho que me deixou sem inspiração, e sendo um texto óptimo para deixar como reflexão enquanto faço uma pausa para descansar, não podia deixar de aproveitar a oportunidade de o deixar aqui, quase integral.
E basta substituir "Brasil" por "Portugal" ou "brasileiros" por portugueses", que o texto se adapta como uma luva ao meu país. É um pouco comprido, mas vale bem a pena ler até ao fim!
«Não desista do Brasil
por Robson Fernando
Esta mensagem é para você que, vendo tantos problemas sociais e políticos no Brasil e sem saber se há solução para eles, afirma que gostaria muito de ir embora e morar num país menos problemático. Para você que afirma algo como “O Brasil não tem mais jeito. Não dá para viver direito aqui. Quero fugir pra um outro país e viver mais dignamente.”
Diante de um cenário de violência em alta, distribuição indecente de renda, corrupção, promessas eleitorais descumpridas, ensino público caindo aos pedaços etc., realmente é sedutora a imagem de morar no Canadá, ou na Inglaterra, ou na Austrália, ou na Alemanha... longe do caos sociopolítico que nos tem como cativos. Mas pergunto: será que isso realmente é o melhor a se fazer?
Penso que o que faria uma pessoa voltar atrás de sua vontade emigratória seria que o Brasil se tornasse uma nação livre de tantos problemas, ou pelo menos com esses defeitos em um grau muito menor. Creio que você esteja concordando comigo. Mas como você espera que isso aconteça, se um número insuficiente de pessoas se engaja em tentar consertar nosso país?
De fato vemos, de um lado, governos que não cumprem o papel de trabalhar pelo povo, de assegurar o cumprimento e respeito dos direitos sociais que temos. Governos ocupados por pessoas que buscam interesses próprios, não o bem comum, e para isso promovem atos de negligência social, corrupção e atendimento de lobbies escusos.
Do outro, há um povo dormindo em berço esplêndido, esquecendo o que nossa Constituição diz sobre a cidadania ser fundamento da República brasileira e todo o poder emanar do povo. Uma população que não tem como costume exigir justiça social dos governantes, ou protestar contra quem lhe faz mal, preferindo aceitar o estado de coisas enquanto ele não se torna absolutamente insuportável. Há exceções, gente que faz valer seu atributo de cidadãos, mas ainda assim é muito pouca para melhorar substancialmente o Brasil.
Pergunto a você: quem te inspira mais? Aqueles que manifestam o desejo de se mudar para o exterior e esquecer os problemas de seu país de origem, ou os que trabalham duro e fomentam diariamente a esperança, a qual de tempos em tempos aflora em você e em outras pessoas, pelas mudanças de que a nação precisa? Quem dá mais motivos de apreciação? Cabe a você refletir.
Ir embora para outra nação por desistência da terra natal pode ser reconfortante, o El Dorado para quem tem condições de emigrar e construir uma vida lá fora. Mas fará mal para as pessoas que são deixadas para trás. Quando tomamos tal atitude, estamos demonstrando que não nos importamos com as pessoas que convivem conosco no nosso bairro, cidade, estado e país. Estamos mostrando, mesmo que não pensemos explicitamente assim, que não damos a mínima para o nosso próximo. Terminamos dando a ideia de que queremos mais que o Brasil e quem vive nele afundem longe de nós, com todos os seus problemas ditos insolúveis.
É de se pensar: se cem mil brasileiros, em vez de se manterem conformados ou se autoexilarem por desalento social, começassem a exercer seus potenciais com espírito de cidadão, fariam toda a diferença, mesmo nacionalmente. Nossa sociedade já se tornaria bem mais politizada do que é hoje, teria muito mais poder para reivindicar justiça social e até melhorar a vida de conterrâneos pelo voluntariado. A que população você preferiria pertencer? À de quem desligou todas as possibilidades de agir pelo bem do seu país por se exilar, ou à dos cem mil que transformaram sua indignação concentrada em cidadania ativa?
É de se considerar também que, em vários momentos da História mundial, muitas pessoas preferiram não só manter o apego fiel ao seu país e sociedade como também forçar melhorias no lugar onde viviam. Em vez de dizer “Eu queria muito ir embora daqui porque aqui não tem mais jeito”, disseram “Aqui é cheio de problemas, mas nós vamos fazer com que os resolvam”. Preferiram consertar a barca a abandoná-la furada.
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É de se pensar também: esses países que os brasileiros vislumbram como um lar muito melhor do que o Brasil só se tornaram lugares dignos justamente porque seus cidadãos antepassados ou contemporâneos, em vez de pensar conformisticamente ou buscar autoexílio, lutaram pela dignidade, pelo direito de viver com decência. Não fossem essas lutas cidadãs, a tão desejada Europa ainda hoje estaria com sua população assalariada em situação de penúria e exploração; diversos países europeus e americanos ainda estariam sob jugo de ditaduras sangrentas; o Canadá e a Austrália seriam apenas colônias oprimidas da Grã-Bretanha, não países soberanos e livres – ainda que tendo mesmo hoje a rainha britânica como chefe de Estado.
Você então passa a querer perguntar a mim: “Como é que nós vamos resolver alguma coisa? Como vamos consertar esse país tão falho?”. O melhor a fazer é você começar a mudar o país iniciando o processo por VOCÊ MESMO. Desapegue-se aos poucos do costume de ver a programação fútil da televisão, que te induz à alienação e ao conformismo. Leia livros que te ensinem a compreender nossa realidade socioeconômica e política de uma forma diferente da que a TV nos induz a enxergar.
Em vez de sempre falar sobre as banalidades do dia-a-dia, sobre dinheiro, novelas, carros, música, celebridades etc., reserve um pouco de seu tempo para conversar com quem entende de política e sociedade. Procure também conhecer o trabalho de ONGs cidadãs, que atuam contra a violência, a corrupção, a miséria etc. e/ou a favor dos direitos humanos, do meio ambiente, dos animais, da educação, da democracia... Você poderá se interessar por alguma(s) e aderir a ela(s) como sócio ativo ou mensalista.
Dedique pelo menos um dia por quinzena para usar suas habilidades de trabalho para atividades de cidadania. Se você é webdesigner, crie voluntariamente um site para uma ONG ou um layout para um blog ciberativista. Se você é pintor, pinte cartazes de protesto contra algum mal que esteja prejudicando a sociedade, faça uma cotinha para imprimir cópias e distribua para as pessoas nos ônibus ou na rua. Se você trabalha escrevendo, escreva textos direcionados à conscientização das pessoas, os quais podem ser xerocados e distribuídos nas ruas, nas escolas e faculdades, no trabalho, na vizinhança... Se você tem alguma outra habilidade profissional, pense direitinho e procure saber como utilizá-la pelo bem comum.
Se você deseja um país melhor, precisa começar a mudá-lo de dentro para fora, a partir de você mesmo. Quanto mais pessoas assimilam a atitude de mudar o estado de coisas nesse sentido, maior é a população disposta a lutar pela cobrança de mudanças. Maior é a quantidade de gente suficientemente consciente para se habilitar a aderir a manifestações – não obrigatoriamente insurretas e violentas – em prol de forçar o poder público a se adequar a nossas necessidades e direitos.
(...)»