domingo, 15 de maio de 2022

Um país muito pouco circular

Na ECONOMIA CIRCULAR, os produtos são criados de forma a nunca se tornarem desperdício, os materiais são mantidos em uso, e restauramos e protegemos o mundo natural. Esta definição (da Ellen MacArthur Foundation) está em oposição à ECONOMIA LINEAR, em que os produtos são extraídos dos recursos naturais, são transformados, usados e deitados ao lixo.

Os meus avós nasceram e viveram num mundo com economia circular. Eu ainda me lembro, nos tempos da tenra infância, que na quinta dos meus avós nem sequer existia o conceito de lixo. Nos inícios dos anos 60 do século XX, nas aldeias de Portugal, praticamente tudo era reutilizado.

Chegamos ao final desse século XX com a insustentável moda de uma economia linear - de usar e deitar fora. Quem o não fizesse, era (e ainda é) considerado retrógrado ("que horror, ainda usas isso?").

Finalmente, no século XXI, tarde e a más horas, começou a aparecer alguma consciencialização sobre a necessidade de proteger os recursos naturais e fazer menos lixo: "renasce" então o conceito de economia circular!

Nos últimos anos, tanto se tem falado, aqui em Portugal, de Economia Circular, que realmente pensei que já se estivesse a fazer algo substancial neste aspeto. No entanto, veja-se o seguinte gráfico Eurostat com a taxa de circularidade dos países da União Europeia em 2020:


Com tanta conversa sobre economia circular, é muito triste ver ali Portugal nos últimos classificados, com APENAS 2,2% de uso de materiais reciclados. E não haja desculpas com a pandemia, pois, por um lado, a mesma afetou todos os países, por outro lado, desde 2015, pelo menos, que Portugal anda na casa dos 2%.

Veja-se a evolução nos países da União Europeia entre 2010 e 2020, apresentada na  Revista do Premio Nacional de Sustentabilidade 20|30 do Jornal de Negócios :


Nessa mesma revista, são apresentados muitos exemplos de projetos de economia circular, em muitas áreas da economia e da sociedade, alguns muito inspiradores, alguns bastante criativos, mas também, e sobretudo a nível de grandes empresas, alguns muito "greenwashing". Aqueles que "vendem" muito bem a "sustentabilidade", mas quanto a eficácia... bom, isso é outra história. São as grandes empresas que têm o poder maior para mudar esta situação, mas também são elas que, por estarem presas a uma ideia de "crescimento económico", não conseguem pensar "fora da caixa" e dar o verdadeira salto para dentro do círculo de uma nova e necessária e economia. 


Precisamos não só de uma economia circular, como de uma nova economia. 

Uma economia sem desperdício de recursos naturais e sem desperdício de recursos humanos.  Uma economia em que o trabalho não é escravatura, não é o principal objetivo da vida. 

Uma economia em que o objetivo de trabalhar não é ter dinheiro para comprar muitas coisas, mas ter o essencial a uma vida feliz enquanto se é útil à sociedade. 

E, sobretudo, uma economia em que o objetivo não é o lucro, mas contribuir para uma sociedade melhor.

Precisamos de uma Economia da Felicidade

 

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Na UE, a Comissão Europeia adotou em dezembro de 2015 o primeiro «Plano de Ação para a Economia Circular», visando garantir o crescimento sustentável na União Europeia e estimular a transição da Europa para uma economia mais circular.

O A nível nacional para a economia circular é o «Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal»,  aprovado através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 190-A/2017, de 23 de novembro, cujo objetivo consiste em definir uma estratégia nacional para a economia circular assente na produção e eliminação de resíduos e nos conceitos de reutilização, reparação e renovação de materiais e energia.

No dia 11 de março de 2020, a Comissão Europeia adotou um novo Plano de Ação para a Economia Circular, que constitui um dos principais alicerces do Pacto Ecológico Europeu, o novo roteiro da Europa para o crescimento sustentável.

Fonte: DGAE

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 Abaixo, a definição de TAXA DE CIRCULARIDADE segundo o Eurostat (tradução daqui)

«A 'taxa de circularidade', mede em percentagem, a proporção de material reciclado e devolvido à economia - economizando assim a extração de matérias-primas primárias - no uso geral de material. A taxa de circularidade é assim definida como a razão entre o uso circular dos materiais (U) e o uso total do material (M).

O uso total de materiais é medido pela soma do consumo interno de materiais (DMC) e o uso circular de materiais (M = DMC + U). O DMC é definido nas contas de fluxo de materiais de toda a economia.

A utilização circular de materiais é aproximada da quantidade de resíduos reciclados nas centrais de valorização domésticas (RCV_R), menos os resíduos importados destinados à reciclagem (IMPw), mais os resíduos exportados destinados à reciclagem no estrangeiro (EXPw). ...

Assim, a Taxa de Circularidade (CMU) é calculada da seguinte forma:

Um valor de Taxa de Circularidade mais alto indica mais materiais secundários substituindo matérias-primas primárias, ou seja, evitando os impactos ambientais da extração de matéria prima.»

2 comentários:

  1. Excelente, como sempre
    (talvez cá venha buscar algo, para levar para o meu espaço)
    Abraço

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    1. Obrigada Rogério, (pode sempre levar, eu é que agradeço). Abraço

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