sábado, 4 de outubro de 2014

"A carne é fraca"

Imagem obtida aqui
Os nossos hábitos alimentares foram-nos transmitidos pela nossa família e pela sociedade em que estamos inseridos. A maior parte de nós pouco pensa no assunto, e, infelizmente, cada vez menos tempo dedicamos à alimentação. Mas dela depende a nossa saúde ou a nossa doença, o equilíbrio ou a devastação do planeta, o bem estar ou o sofrimento dos animais.

Não olhe para o lado, não feche os olhos, saiba o que se passa!

Durante o século 20, e na civilização ocidental, que entretanto se transmutou em capitalismo e se globalizou, esses hábitos sofreram grandes mudanças. Uma delas, foi o aumento do consumo de carne e outros produtos de origem animal. De 1961 para 2007, o consumo mundial (anual) per capita passou de 22 kg para 40kg; em 2010, esta média esteve nos 46,6 kg. Dados da FAO de 2007, num estudo de 177 países, apresentam no topo dos consumidores de carne per capita, o Luxemburgo (136,73 kg), seguido dos Estados Unidos (122,79 kg) e da Austrália (122,70 kg), e na base da tabela a Índia (3.26 kg). A Espanha aparece em 5º lugar (111,56 kg), Portugal no 16º (92,62 kg), e o Brasil em 34º (80,49 kg).

 Em paralelo, cada vez há mais estudos que associam o consumo de carne a doenças como o cancro (ver no Green Savers e na revista Nutrition & Metabolism) e que provam que veganos e vegetarianos vivem em média, quase mais uma década que os que comem carne (ver na ANDA e no The Huffington Post).

Os maiores consumidores de carne per capita  do mundo - 2007 
(Imagem de The Economist)
O consumo de carne, através da "indústria" pecuária, tem impactos ambientais enormes: a quantidade de área utilizada, em expansão predadora, tem levado à destruição de vastas áreas de floresta, com implicações extremamente negativas a nível de redução de biodiversidade e de redução da absorção de CO2; a energia que utiliza de forma altamente ineficiente: "são necessários 8 vezes mais combustíveis fósseis para produzir proteína animal do que proteína vegetal e que a primeira é apenas 1,4 vezes mais nutritiva do que a segunda"; e o consumo elevadíssimo de água: para obter um quilograma de carne de vaca é preciso gastar, em média, 15 mil litros de água.

Para além das questões de saúde e ambientais, é preciso colocar no lugar que merecem, as questões éticas. Para comer um animal, é preciso que alguém o mate. E se uma grande maioria dos humanos considera isso "normal", também uma grande maioria pensaria duas vezes antes de comer carne se imaginasse sequer as condições de sofrimento na vida e na morte a que tantos milhões de animais são sujeitos.

Respeitar os animais implica considerar que a nossa espécie não está acima das outras (especismo), e o mínimo que lhes devemos é não ignorar o enorme sofrimento que indiretamente lhes infligimos. Só assim poderemos tomar decisões conscientes do nosso dia a dia; para isso proponho que ganhe um pouco de coragem e veja o documentário brasileiro "A carne é fraca", de 2005, produzido pelo Instituto Nina Rosa, sobre os impactos que o ato de comer carne representa para a saúde humana, para os animais e para o ambiente (53 min).



Sobre a questão da ética e do sofrimento dos animais,  ficam aqui as ligações:

«EARTHLINGS (Terráqueos), 2005, é um premiado documentário  sobre o sofrimento dos animais para comida, moda, animais de estimação, entretenimento e investigação médica. Considerado o documentário mais persuasivo de sempre, EARTHLINGS é apelidado de "o fazedor de veganos", pelas suas sensíveis filmagens gravadas em abrigos e lojas de animais, “fábricas de filhotes”, quintas-fábrica de pecuária, matadouros, negócios de couro e peles, eventos desportivos, circos e laboratórios de pesquisa. O filme, de  Shaun Monson, é narrado por Joaquin Phoenix e tem música de Moby . Inicialmente ignorado pelos distribuidores, EARTHLINGS hoje é considerado “o filme” sobre direitos dos animais por organizações de todo o mundo. » (tradução de parte do texto do site oficial)
Filme Earthlings (original)  (95 min)
Filme Earthlings legendado (95 min)
Filme Earthlings legendado (em 10 partes) 

"Se os matadouros tivessem paredes de vidro, não seríamos todos vegetarianos? Mas os matadouros não têm paredes de vidro. A arquitetura do abate é projetada no interesse da negação, para garantir que não vejamos mesmo que quiséssemos olhar. E quem quer olhar?" (do filme)
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Nestes quase 4 anos de blogue, esta foi a mensagem que mais me custou a preparar; mas se por causa dela houver menos 1 animal a sofrer, terá valido a pena.
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Mensagem publicada em 04/jan/2013, republicada em 4/out/2014, Dia Mundial do Animal.

16 comentários:

  1. Olá Manuela...

    Boa forma de começar o "novo" ano!

    De qualquer maneira, como em tantas outras questões, a formatação a que somos sujeitos desde que nascemos é forte!

    Pode ser que a crise financeira traga como lado positivo o menor consumo de carne, a bacana do BACF já o afirmou "comer bife todos os dias... é coisa de rico!"

    O pior é se nos tornamos como os chineses... Bidão de água a ferver na lenha... E gato vivo lá para dentro!

    De resto... É mais do mesmo! E a moda é mesmo o lema "Onde? Não vi!"

    Abraços
    voz a 0 db

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    1. Olá Voz

      Pois, comecei o ano a " tentar matar-me": ver os Earthlings foi dose! Depois disso, abrir a cabeça contra uma porta, foi canja...

      Acho que este mundo já está tão mal, que se calhar só pode melhorar.

      Abraço

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  2. Uma questão a merecer toda a atenção... Uma questão complexa, que talvez requeira ser partida... que tal respeitar a vida?

    O mundo não se melhora, somos nós que o temos de melhorar... e a tarefa é imensa....

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    1. Viva, Rogério

      Pode ser uma questão muito complexa, mas sobretudo é uma questão difícil. Como em tantos outros temas, o ignorar reina, mas neste tema o ignorar é consciente...

      A tarefa é imensa mesmo, mas somos mesmo nós que temos de melhorar :)

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  3. "Precisamos de um outro conceito mais sábio e talvez mais místico, em relação aos animais e tudo o que nos rodeia.
    Removido da sua natureza universal e vivendo valores artificiais, fabricados pelo lucro, o homem civilizado examina as outras criaturas através da lente do seu pouco conhecimento e vê uma imagem distorcida.
    Tratamos os animais com condescendência, pelo trágico destino de terem um cérebro tão inferior ao nosso...
    E é aí que erramos, pois os outros animais não devem ser medidos pelo homem.
    Eles movem-se num mundo mais antigo e completo do que o nosso, dotados com a extensão de sentidos que perdemos ou nunca os alcançamos, vivendo vozes que nunca escutaremos...
    Eles são outras nações, apanhadas connosco na rede da vida e do tempo"

    Este texto está no documentário Earthlings e acho que espelha bem a realidade (poderá não estar bem traduzido, mas...).

    É um tema difícil porque à partida as pessoas recusam-se a querer sentir esta (e outras) realidade, sentimento esse necessário para resolverem mudar de hábitos.

    Eu acordei para este assunto já há alguns anos e dói-me ver a maioria, diariamente, esquecerem-se (porque querem) destes seres. Este autêntico holocausto não tem desculpa, nem mesmo a saúde, basta pesquisar por si próprio, muito antes pelo contrário. É a desumanidade no seu pior, porque é praticada pela maioria. Os que não a praticam por compaixão,ainda são olhados como se fossem uns "tontinhos"...mas o exemplo e a nossa grande convicção têm feito melhorias, pequenas perante a imensidão, mas concretas...e quem é minimamente inteligente e crítico, vai acabando por perceber e "cair na real" :).

    Obrigada Manuela, por postares sobre este tema!

    E sim, é preciso querer saber o que se passa para ver estes documentários, simplesmente é um "mal necessário", porque "longe dos olhos, longe do coração".

    VIVA A VIDA e beijinhos para ti, querida!

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    1. Simplesmente, OBRIGADA, Ana Teresa :)
      Beijinhos e Viva a Vida!

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    2. Olá Ana... Olá a todos...

      Então vamos ver um pequeno trabalho feito por mim (e publicado lá no TEMPO no longínquo ano de 2011!) que espelha a forma como são formatadas as mentes dos animais humanos nesta nossa bela sociedade de consumismo, para aceitarem tudo! Nem adjectivo mais pois apenas descarrilava...

      Fiquem então com este simples exemplo...

      Bom apetite... Bom McDonalds

      LONGE DOS OLHOS... LONGE DO CORAÇÃO...

      Bjs e Abraços
      voz a 0 db

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    3. Voz, eu vi na altura que publicaste e partilhei com os meus contactos.
      Simplesmente inacreditável a cegueira...mas eu tb já fui cega, não tanto, mas...
      "Na era da informação, a ignorância é uma escolha"

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  4. Mas não estranhem...

    Eu sou um optimista por Natureza pois sei que mais ano, menos ano, esta nossa putrefacta Civilização vai RUIR por completo...

    E então aí teremos a nossa hipótese de recomeçar... E começar a VIVER em Sintonia e Harmonia como todos os Seres Vivos - para algo de positivo e harmonioso tem de servir esta nossa auto-declarada inteligência - que habitam este pedaço de poeira cósmica...

    voz a 0 db

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  5. "Repense seus hábitos.
    Informe-se sobre o Vegetarianismo e o Veganismo.

    Ao invés de mentir, omitir e confundir, as universidades deveriam ensinar que seres humanos são animais que sobreviveram por cerca de 4 milhões de anos basicamente com alimentos vegetais crús: deveriam ensinar, por exemplo, que o PH do sangue humano é alcalino, e que os alimentos adequados à saude humana são os alimentos alcalinizantes, a saber....alimentos vegetais, preferencialmente crus; deveriam ensinar que os alimentos impróprios à nossa alimentação são os alimentos acidificantes, ou seja: TODOS os de origem animal, que à propósito, geram as patologias, as doenças infecciosas e as degenerativas, como câncer, leucemia, arterioesclerose, diabetes, esclerose múltipla, infarto, obesiddade etc, pois todas estas doenças não conseguem sobreviver num ambiente alcalino.
    É necessário reaprendermos a comer por demasiados motivos. A escolha é de cada um, mas não escolha uma alimentação baseada em morte, na dos outros e na nossa posteriormente."

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  6. Achei esta palestra sobre o assunto muito boa e por isso deixo aqui para partilharem:

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=7vWbV9FPo_Q#!

    Carnism: The Psychology of Eating Meat

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  7. Reparei agora que o "link" para a Palestra de Gary Yourofsky estava incorreto, acabei de corrigir. Será que ninguém reparou? Pelo menos, ninguém avisou! Vale a pena ouvi-lo!

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  8. Não consegui ver o terráqueos até ao fim de tanto enjoada que estava

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  9. Vi os dois documentários e não entendo como há pessoas que, mesmo depois de assistirem, continuam a pagar para que os animais morram (e, consequentemente, a Natureza). São as mesmas pessoas que, esgotados os argumentos, disparam um E que tal ajudares quem está a passar fome? quando são precisamente elas que indirectamente roubam a comida que podia muito bem ser distribuída para quem precisa.
    Parabéns pelo blogue, eu sigo-o pela página de Facebook :) Fiz uma videoteca só com documentários e materiais audiovisuais relacionados com o veganismo: https://despertar-da-ataraxia.blogspot.com

    Beijinho*

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