quinta-feira, 29 de julho de 2010

A fome

Nós que temos o que comer todos os dias, não imaginamos o que é a fome. No entanto, uma em cada seis pessoas no mundo, não têm alimento suficiente para ter saúde. Cerca de 1020 milhões de pessoas vivem em fome crónica.

Grandes e pequenas organizações e associações tentam minimizar o problema da fome. Haverá corrupção pelo meio e desvio de fundos? Certamente, pois onde há pessoas há falhas, e sempre haverá quem se aproveite da desgraça dos outros. E se não existissem essas instituições que apelam à ajuda de cada um de nós, de empresas, de estados, não seria muito pior a situação? No entanto, o problema da fome, que deveria ser a prioridade n.º 1 de todos os estados, de todos os cidadãos, está longe  de ser resolvido, e continua a agravar-se. E as alterações climáticas ainda pioram o que já é muito mau.

Por isso hoje, deixo aqui um texto retirado do tocante livro "Tudo o que eu tenho trago comigo" de Herta Müller, Prémio Nobel da Literatura 2009, e a premiada curta-metragem "Ilha da Flores", de Jorge Furtado, 1989, que a Fada do Bosque sugeriu e que eu agradeço.

"É estranho, quando a erva começa a tingir-se e há muito se tornou intragável é que é verdadeiramente bela. Deixa-se então ficar quieta na berma da estrada, protegida pela sua beleza. Passou o tempo de comer erva. Mas não a fome, que é sempre maior do que nós próprios. O que é que se pode dizer da fome crónica. Pode-se dizer que há uma fome que te põe doente de fome. Que se vem juntar sempre mais faminta à fome que já se tem. A fome sempre nova, que cresce insaciável e se lança em salto mortal para dentro da fome eternamente velha, a custo dominada. Como é que uma pessoa anda por este mundo, quando sobre si nada mais sabe dizer, a não ser que tem fome. Quando já não consegue pensar noutra coisa. O céu-da-boca é maior que a cabeça, alto e de ouvido aguçado até ao cocuruto do crânio, uma cúpula. Quando já não se aguenta a fome, o céu-da-boca  retesa-se, como se nos tivessem esticado atrás da cara uma pele de lebre recente a secar. As faces murcham e cobrem-se de pálida penugem.Herta Müller, em "Tudo o que eu tenho trago comigo" ("Atemschaukel"), tradução de Aires Graça, Junho 2010, D.Quixote




Se quiser ajudar a minorar a fome, visite a página Ser Solidário e actue. Podemos sempre dizer que mais vale ensinar a pescar do que dar o peixe. Mas não se consegue ensinar aqueles que já morreram de fome a pescar. E será que os que governam o mundo pensam nisto?

7 comentários:

  1. Um bom tema,
    É preciso abanar as consciências para acordarem e verem claro.
    Sugiro uma c«visita ao post que se relaciona com este assunto:
    ONU Paz e Justiça Social global

    Abraço
    João
    Do Miradouro

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  2. Não, não pensam!
    Não sou de baixar os braços, mas sinto-me numa luta desigual, numa luta sem resultados à vista, sem políticas que mostrem vontade de resolver/minimizar este problema.
    Que desencanto por estes governantes, estes senhores do mundo! Que mágoa, que raiva, que vergonha por existirem homens (serão?) responsáveis pela vida, pela sobrevivência de outros Homens, e que nada fazem.
    Beijinho.

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  3. Este filme foi-me partilhado por um amigo do FB, Antoine Proença, ex activista da Greenpeace. Embora não esteja no activo, nunca baixa os braços! o mesmo acontece connosco.. há que fazer valer os nossos Direitos e um deles é o protesto e nunca baixar os braços... denunciar.
    Obrigada Nela, pelo excelente post.

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  4. Já está!
    Uf, se por acaso não passasse por aqui hoje nunca me perdoaria.
    Manuela, posso deixar um grande abraço à Fada?
    Estava a ver que nunca mais te via, Guerreira! Já viste as tuas coisas lindas que postei no Crónicas?!
    Abraço para ambas.

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  5. Olá caro A. João Soares

    Este vídeo, apesar de ter mais de 20 anos, continua a abanar consciências, mas é pena que seja só daqueles que estão predispostos a vê-lo...

    Quanto à ONU, que deveria ser a balança do mundo, contribuindo para o seu equilíbrio, é como diz no texto, está manietada pelos detentores do poder económico, quase tanto com o estão os governantes dos países.

    Temos de ser nós, o povo, a abrir os olho e a exigir mudança. Mas só poderemos exigir mudança depois de percebermos o mal que vai o mundo, pois a maioria está longe de querer ver isso.

    Vai devagar, devagar demais...

    Obrigada pelo seu contributo, e um abraço

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  6. Olá Fada, bem vinda de volta :)

    Obrigada pelo vídeo, que não conhecia e sobre o qual aguardei que fizesses o texto (post). Como não o fizeste, acabei por aceitar a tua sugestão de o fazer eu, socorrendo-me de uma das descrições da "fome" que Herta Muller tão dura e poeticamente faz no livro referido.

    Tanta gente a sofrer uma dor inimaginável, e não há meio de os governantes estabelecerem acabar com a fome como a primeira das primeiras prioridades!

    Obrigada e um beijinho

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  7. Olá Teresa

    Concordo consigo, é uma luta desigual, que nos traz um desencanto tamanho com as políticas e os políticos... Mas nada de baixar os braços, como diz o Octávio Lima do blogue Ondas 3: "Só os peixes mortos seguem com a corrente". E nós estamos vivas!

    Muito obrigada pelo voto e pelas palavras de apoio :)

    Beijinhos

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