domingo, 26 de agosto de 2018

"A maior ameaça ao nosso planeta é a crença de que outros o salvarão"

Este artigo, escrito pelo músico e ativista Bob Geldof, alerta para o estado critico da humanidade, focando-se na alimentação: desperdício alimentar e má distribuição dos alimentos, e apela a novas políticas sérias e eficazes. Abaixo transcreve-se parte do texto, mas vale a pena ler o artigo completo no Jornal de Negócios  (em português) ou no original em Project Syndicate (negrito meu).

«Precisamos de uma revolução alimentar 
por Bob Geldof

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O destino dos habitantes da Ilha de Páscoa ilustra o actual problema do mundo. Em algum momento do século XII, um grupo de polinésios chegou a uma remota ilha vulcânica onde densas florestas forneciam comida, animais, assim como ferramentas e materiais para construir centenas de esculturas de pedra complexas e misteriosas. Mas, pouco a pouco, as pessoas destruíram essas florestas, acabando por cometer um suicídio social, cultural e físico.

Hoje, em termos relativos, temos apenas uma pequena área de floresta - e estamos a destruí-la com muita rapidez. Estamos a ficar sem terra para cultivar e o deserto está a alastrar. Os alimentos que produzimos são muitas vezes desperdiçados, enquanto mil milhões de pessoas não têm o que comer - uma realidade que deixa muita gente com poucas opções a não ser migrar.

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Imagem obtida em  Project Syndicate 
Enquanto o Sul pobre morre de fome, o Norte rico tem demasiada comida. Mais de dois mil milhões de pessoas têm excesso de peso, inchadas por açúcares de baixo valor alimentar e por alimentos processados produzidos em massa e ricos em gorduras. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, bastaria um quarto dos alimentos que deitamos fora ou desperdiçamos todos os anos para alimentar 870 milhões de pessoas famintas. Por todo o mundo, desperdiça-se um terço de todas as colheitas. Como os habitantes da Ilha de Páscoa do passado, estamos a preparar-nos para a auto-aniquilação.

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O que é necessário não é apenas um ajustamento politicamente tolerável às políticas existentes, mas sim uma reforma de fundo que gere resultados reais. Infelizmente, não é evidente que existam políticos à altura do desafio, tanto nos erráticos e polarizados EUA como nos ineficientes Parlamento Europeu e Comissão Europeia.

A hora de ir em frente foi ontem; a hora de adoptar uma nova abordagem é agora. Podemos discutir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas - que incluem metas como "reduzir para metade o desperdício global de alimentos per capita no retalho e no consumidor, e reduzir as perdas alimentares ao longo das cadeias produtivas e de fornecimento até 2030" - até à exaustão. O que importa são políticas bem concebidas, eficazes e abrangentes, implementadas de forma sustentada. E essas não existem em lado nenhum.

A Terra tem 45 milhões de séculos, mas o nosso século é único, porque é o primeiro em que uma espécie pode destruir toda a base da sua própria existência. Contudo, nós, os habitantes da Ilha de Páscoa dos nossos dias, parecemos alheios a esta ameaça existencial, e preferimos construir estátuas em vez de sistemas sustentáveis para a nossa sobrevivência.

Bob Geldof. Imagem
obtida em Jornal de Negócios
Será que só vamos reconhecer a nossa situação quando a terra se tornar um deserto, quando os nossos sistemas de saúde colapsarem, quando até mesmo os ricos enfrentarem escassez de alimentos, quando a água doce se tornar escassa e quando as nossas linhas costeiras forem violadas? Nessa altura, será tarde demais e o nosso destino estará traçado.

A maior ameaça ao nosso planeta é a crença de que alguém o salvará. Cada um de nós deve reconhecer a seriedade da nossa situação e exigir acções concretas para a mudar. 
Estou a falar de si.»

Extrato do artigo de Bob Geldof de 12 de julho 2018 em Project Syndicate, com tradução de Rita Faria publicada no Jornal de Negócios  de 7 de agosto de 2018.

domingo, 19 de agosto de 2018

Ignoramos as alterações climáticas há mais de um século

«Sabemos sobre o efeito estufa há quase 200 anos e sobre o aquecimento global há mais de um século, mas temos tido dificuldade em agir porque nossos cérebros são demasiado pequenos para um problema tão grande.»

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Lidar com o aquecimento global

«O maior obstáculo para lidar com as alterações climáticas somos nós, diz o psicólogo e economista Per Espen Stokes. 

Ele passou anos a estudar as defesas que usamos para evitar pensar sobre o extinção de nosso planeta e descobrindo uma nova maneira de falar sobre o aquecimento global que nos impeça de desistir. 

Afaste-se das narrativas do dia do juízo final e aprenda como fazer o cuidado pela Terra algo agradável, possível e fortalecedor com esta palestra divertida e informativa.»

Fonte:  palestra TED de Per Espen Stokes, Nova Iorque, setembro 2017

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Pessoas pelo Clima: famílias processam a UE

O Tribunal Geral da UE aceitou formalmente o processo “Pessoas pelo Clima”, uma ação em que famílias estão a levar a União Europeia a tribunal devido às políticas no âmbito das alterações climáticas.


«Em maio de 2018, 10 famílias de 7 países (Portugal, Alemanha, França, Itália, Roménia, Quénia e Fiji) e a Associação Juvenil Sáminuorra (Suécia) apresentaram uma ação legal no Tribunal Geral da União Europeia (UE) contra o Parlamento e o Conselho Europeus, por considerarem que a UE não está a fazer tudo o que está ao seu alcance para combater as alterações climáticas e proteger os seus direitos fundamentais dos efeitos adversos das alterações climáticas que estão já a sentir.

Esta foi uma iniciativa inédita de cidadãos que apelaram para uma maior ambição na meta de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030, a assumir pela UE como um todo, para cumprir o Acordo de Paris. Consideram que a atual meta de redução de, pelo menos 40%, até 2030, é inadequada em relação à necessidade real de prevenir os efeitos das alterações climáticas.

O Tribunal Geral da UE aceitou formalmente o caso e é publicado hoje no Jornal Oficial da UE , pelo que este é um primeiro passo importante no processo “Pessoas pelo Clima”. O Parlamento e o Conselho Europeus são os alvos desta ação e deverão apresentar a sua defesa nos próximos dois meses.

Esta notícia surge num momento em que a maioria dos europeus ainda está a sofrer os impactos adversos de ondas de calor, secas e incêndios florestais, eventos climáticos extremos que os cientistas relacionam com as alterações climáticas e que estão a atingir as famílias envolvidas neste caso.»

Fonte: ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, comunicado de 13/8/2018

O que pode fazer?


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

8 setembro: Marcha Mundial do Clima 2018

«A verdadeira liderança climática emerge das bases.

A mudança começa conosco — faça parte do movimento que está acabando com a era dos combustíveis fósseis e construindo um mundo com 100% de energia limpa, livre e renovável para todos.

Nas ruas, nas praças e em prédios públicos em todo o mundo, as pessoas vão se unir para exigir que os políticos apoiem suas comunidades, bairros e cidades, e entreguem mais do que apenas palavras.

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Parar o petróleo! Pelo clima, justiça e emprego!

No dia 8 de setembro, vamos juntar-nos à mobilização internacional “Rise for Climate” para exigir um mundo livre dos combustíveis fósseis, em que as pessoas e a justiça social estejam acima dos lucros.

A verdadeira liderança climática nasce a partir das bases. Isto significa ver o poder nas mãos das pessoas, em vez das corporações; significa uma vida melhor para quem trabalha e justiça para as populações mais afetadas pelos impactos das alterações climáticas e pelas atividades das petrolíferas.

Vamos marchar para exigir:
– uma transição justa e rápida para as energias renováveis;
– zero infraestruturas de combustíveis fósseis novas: nem em Aljezur, nem em Aljubarrota, nem em lugar nenhum.

  • LISBOA: Cais do Sodré, 17h00
  • PORTO: Praça da Liberdade, 17h00
  • FARO: Praia de Faro, 17h00

Fonte e mais informações: www.salvaroclima.pt 


domingo, 5 de agosto de 2018

Tanto plástico nos oceanos

5 biliões de partículas de plástico flutuam nos oceanos, correspondendo a cerca de 270 mil toneladas.  Mais propriamente, são cerca de 5.250.000.000.000 partículas, das quais cerca de 93% têm dimensões inferiores a 5 milímetros.  Em termos de peso, são cerca de 268 940 toneladas de plástico, das quais 13% têm dimensões inferiores a 5 mm milímetros.

Os giros, as chamadas "ilhas" de plástico nos oceanos, 2 no Pacífico, 2 no Atlãntico e 1 no Índico  são cada vez maiores, e no Mediterrâneo, a situação consegue ainda ser pior!

«Os giros são sistemas de correntes circulares criados pelos ventos e pela rotação da Terra, que absorvem os detritos à volta e os colocam no centro da sepiral". .. O que se forma nos oceanos é uma espécie de "névoa" de fragmentos, alguns microscópicos, que desafiam qualquer esforço d limpeza. Essas névoas, de tal forma dispersas, não são visíveis por satélite, muito menos é possível pisálas como a uma ilha»

Fonte: artigo "Há mar e mar", texto de João Diogo Correia e infografias de Carlos Esteves (como a imagem a seguir), Revista do Expresso de 4/8/2018

(fonte: artigo "Há mar e mar", Expresso de 4/8/2018)

Sobre os efeitos nocivos e brutais que este plástico tem nos ecossistemas marinhos, ou muito deste plástico acaba sendo ingerido pelos próprios humanos não vou falar agora.

Sobre as quantidades brutais, vale a pena ler o artigo da Revista do Expresso "Há mar e mar" de João Diogo Correia com infografias de Carlos Esteves (como a imagem acima), rubrica Fisga,  e ver com atenção as imagens e infografias que aqui ficam. Noutras ocasiões falamos de impactos.



Produção global, uso e destino de resinas de polímeros, fibras sintéticas e aditivos (1950 a 2015; em milhões de toneladas)


(gráfico F2 obtido no artigo de Roland Geye e outros, 2017: "Production, use, and fate of all plastics ever made"")


Produção cumulativa de plástico em milhões de toneladas, plástico descartado, incinerado e reciclado, desde 1950 e estimativas até 2050 

(gráfico F3 obtido no artigo de Roland Geye e outros, 2017: "Production, use, and fate of all plastics ever made")


Entrada de resíduos de plástico no oceano em 2010. Estima-se que os 192 países com costa para os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico e para os mares Mediterrâneo e Negro tenham produzido 275 milhões de toneladas de resíduos plástico em 2010, e que 8 milhões de toneladas de resíduos plástico tenham entrado nos oceanos nesse ano.


(imagem obtida no artigo"Eight million tons: Researchers calculate the magnitude of plastic waste going into the ocean ", 2015, Universdade da California)



Estimativa do número de partículas (em dezenas de milhares de milhão) e do peso (em centenas de toneladas) de plástico nos oceanos Pacífico Norte (NP), Atlântico Norte (NA), Pacícico Sul (SP), Atlântico Sul (SA), Oceano ìndico (IO), Mar Mediterrâneo (MED) e no global dos oceanos (Total).

(quadro obtido no artigo de Markus Eriksen e outros, 2014: "Plastic Pollution in the World's Oceans: More than 5 Trillion Plastic Pieces Weighing over 250,000 Tons Afloat at Sea")


Distribuição de hotspots de plástico marinho. Os plásticos marinhos podem ser transportados por correntes oceânicas e ventos, e acumulam-se em corpos de água rotatórios chamados Giros: o Giro do Pacífico Norte, também conhecido como a “Grande Mancha de Lixo do Pacífico”, é estimado em duas vezes o tamanho do Texas.
(imagem obtida na página "Waste Free Oceans: The Issue")

De resto, já sabe:

Use menos plástico, por favor!