terça-feira, 28 de novembro de 2017

Glifosato: traição e corrupção a favor deste veneno

O glifosato é o herbicida mais vendido no mundo, conhecido pelo nome comercial Roundup (da Monsanto), o qual foi classificado como cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde.

Imagem obtida aqui
Depois de meses de impasse sobre a sua reautorização na Europa, ontem a traição e corrupção conseguiram nova aprovação por mais 5 anos na União Europeia, graças à viragem da Alemanha. 
Posição estranha é também a abstenção de Portugal, o país da Europa mais contaminado com este veneno, tanto quanto se sabe.  

A seguir, o desabafo de Margarida Silva:

«Há momentos de desalento. 

Ontem o glifosato foi reautorizado (5 anos, sem restrições) por uma maioria qualificada de Estados Membros graças à Alemanha, que mudou de posição.  

Esta reviravolta resultou afinal de um golpe palaciano: o ministro da agricultura e a do ambiente (da Alemanha) combinaram que o país se ia abster, tal como até aqui... mas depois o da agricultura mandou para o representante em Bruxelas a indicação para votar a favor do glifosato, torpedeando assim o seu colega de governo.

Manifestação em Bruxelas esta segunda-feira contra a aprovação
do uso do glifosato YVES HERMAN/REUTERS, Via Público
E a Comissão rejubilou. 

Não adiantou o milhão de assinaturas, não adiantou todo o acumular de provas de corrupção via Monsanto Papers, não adiantou o Parlamento Europeu ter pedido restrições, não adiantou a ausência de critérios para avaliar a desregulação endócrina, nada adiantou nada. 

Depois não se admirem de o cidadão comum se sentir atraiçoado pela classe política convencional e se deixar atrair pelo radicalismo.

Votos - Portugal foi a única abstenção:
  • A favor (18): BG, DE, CZ, DK, EE, IE, ES, LV, LT, HU, NL, PL, RO, SV, SK, FI, SE, UK
  • Contra (9 ): BE, EL, FR, HR, IT, CY, LU, MT, AT
  • Abstenção (1): PT»

Margarida Silva, doutorada em Biologia Molecular, docente universitária e ativista da Plataforma Transgénicos Fora.  Via email recebido da  lista OGM (para se inscrever nesta lista envie um email vazio para o endereço ogm_pt+subscribe@googlegroups.com)

Ver a notícia referida em GMWatch, 27/11/2017: Scandal erupts around German glyphosate vote

domingo, 26 de novembro de 2017

O Decrescimento

O conceito do Decrescimento (Decroissance em francês, Degrowth, em inglês) assenta no facto de o crescimento económico ser insustentável no ecossistema global, pois o planeta é finito e os recursos  naturais limitados, pelo que não é possível o crescimento infinito. Por oposição, o pensamento económico dominante considera que a melhoria do nível de vida só depende do aumento do PIB, promovendo o perpétuo crescimento  económico.

Imagem obtida aqui
«O decrescimento é um conceito social, político e económico e defende a redução da produção e do consumo uma vez que considera o excesso de consumo como a principal causa dos problemas ambientais e de desigualdade social.»

Esta é a definição constante de um documento resumo
elaborado por  Luís Coentro (novembro 2017), da Rede Transição Portugal, no qual se encontra informação acessível sobre o movimento do Decrescimento, a sua história, exemplos de soluções e obstáculos. 

Também encontram informação sobre este tema em português no blogue Decrescimento.

Abaixo, o vídeo "Dessine-moi l'éco: la décroissance, une solution à la crise? (O Decrescimento, uma solução para a crise), da série francesa Dessine moi l'éco, que acabo de legendar em português.


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

2º Aviso dos Centistas à Humanidade


William J. Ripple, Christopher Wolf, Mauro Galetti, Thomas M. Newsome, Mohammed Alamgir, Eileen Crist, Mahmoud I. Mahmoud, William F. Laurance, e mais de 15 mil cientistas de 184 países (a lista dos signatários encontra-se aqui)


Revista BioScience, 13 de novembro de 2017

«Há vinte e cinco anos, a Union of Concerned Scientists e mais de 1700 cientistas independentes, incluindo a maioria dos então laureados com o Prémio Nobel nas ciências, assinaram a Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade de 1992 (veja-se Arquivo Suplementar S1).

Esses profissionais alarmados apelavam à humanidade para que reduzisse a destruição ambiental e alertavam ser "necessária uma grande mudança em nossa gestão da Terra e da vida para se evitar uma vasta miséria humana". Em seu manifesto, mostravam que os humanos estavam em rota de colisão com o mundo natural. Expressavam preocupação com os danos presentes, iminentes ou potenciais infligidos ao planeta Terra, envolvendo depleção da camada de ozono, disponibilidade de água doce, colapsos da pesca marinha, zonas mortas no oceano, perdas de floresta, destruição da biodiversidade, mudanças climáticas e crescimento contínuo da população humana. Proclamavam a urgente necessidade de mudanças fundamentais, de modo a evitar as consequências que nossa trajetória traria.

Os autores da declaração de 1992 temiam o fato da humanidade estar impelindo os ecossistemas da Terra além de sua capacidade de suportar a teia da vida. Descreviam como estávamos rapidamente nos aproximando de muitos dos limites do que o planeta pode tolerar sem danos substanciais e irreversíveis. Os cientistas exortavam-nos a estabilizar a população humana, descrevendo como nossos grandes números – aumentados em mais 2 mil milhões de pessoas desde 1992, um aumento de 35% – exercem sobre a Terra pressões que podem anular outros esforços para realizar um futuro sustentável (Crist et al., 2017).

Imploravam que reduzíssemos as emissões de gases de efeito estufa (GEE), eliminássemos os combustíveis fósseis, reduzíssemos o desmatamento e revertêssemos a tendência ao colapso da biodiversidade.

No 25º aniversário dessa Advertência, voltamos os olhos para trás e avaliamos a resposta humana, explorando os dados disponíveis em séries históricas. Desde 1992, com exceção da estabilização da camada de ozono estratosférico, a humanidade fracassou em fazer progressos suficientes na resolução geral desses desafios ambientais anunciados, sendo que a maioria deles está piorando de forma alarmante (Figura 1, Arquivo Suplementar S1).

Especialmente perturbadora é a trajetória atual das mudanças climáticas potencialmente catastróficas, devidas ao aumento dos gases de efeito estufa (GEE) emitidos pela queima de combustíveis fósseis (Hansen et al. 2013), desmatamento (Keenan et al., 2015) e produção agropecuária – particularmente do gado ruminante para consumo de carne (Ripple et al. 2014). Além disso, desencadeamos um evento de extinção em massa, o sexto em cerca de 540 milhões de anos, no âmbito do qual muitas formas de vida atuais podem ser aniquiladas ou, ao menos, condenadas à extinção até o final deste século.

A humanidade está agora a receber um segundo aviso, conforme ilustrado por essas tendências alarmantes (figura 1). Estamos a ameaçar o nosso futuro ao não refrear o nosso intenso consumo material, embora geografica e demograficamente desigual, e ao não perceber o rápido e contínuo crescimento da população como motor primário de muitas ameaças ecológicas e mesmo sociais (Crist et al., 2017)

Ao fracassar em limitar adequadamente o crescimento populacional, em reavaliar o papel de uma economia enraizada no crescimento, em reduzir os gases de efeito estufa, em incentivar as energias renováveis, em proteger os habitats, em restaurar os ecossistemas, em parar a defaunação, e em restringir as espécies exóticas invasoras, a humanidade não está tomando as medidas urgentemente necessárias à salvaguarda da nossa biosfera em perigo.

Dado que a maioria dos líderes políticos é sensível à pressão, os cientistas, os formadores de opinião nos media e os cidadãos em geral devem insistir para que seus governos tomem medidas imediatas, como um imperativo moral em relação às gerações atuais e futuras da vida humana e de outras espécies. Com uma vaga de esforços organizados e popularmente embasados, é possível vencer oposições obstinadas e obrigar os líderes políticos a fazer o que é certo.

Também é hora de reexaminar e mudar nossos comportamentos individuais, incluindo a limitação de nossa própria reprodução (idealmente, o nível de reposição no máximo) e diminuir drasticamente nosso consumo per capita de combustíveis fósseis, de carne e de outros recursos.

O rápido declínio global das substâncias que destroem o ozono mostra que podemos fazer mudanças positivas quando agimos resolutamente. Também fizemos avanços na redução da pobreza extrema e da fome (www.worldbank.org). Outros progressos notáveis (que ainda não se apresentam nos conjuntos de dados globais na figura 1) incluem: o rápido declínio nas taxas de fecundidade em muitas regiões, atribuível aos investimentos na educação de meninas e mulheres (www.un.org/esa/population), o declínio promissor da taxa de desmatamento em algumas regiões e o rápido crescimento do setor de energia renovável. Aprendemos muito desde 1992, mas o avanço das mudanças urgentemente requeridas nas políticas ambientais, no comportamento humano e nas desigualdades globais ainda está longe de ser suficiente.

Transições em direção à sustentabilidade ocorrem de diversas maneiras e todas requerem pressão da sociedade civil e argumentação baseada em evidências, liderança política e uma sólida compreensão de instrumentos políticos, dos mercados e de outros fatores.

Eis alguns exemplos de passos diversos e efetivos que a humanidade pode dar para uma transição em direção à sustentabilidade (não por ordem de importância ou urgência):
  • priorizar a criação de reservas conectadas, bem financiadas e bem gerenciadas de modo a preservar uma proporção significativa dos habitats terrestres, marinhos, de água doce e aéreos do mundo;
  • cessar a destruição das florestas, prados e outros habitats nativos, de modo a manter os serviços ecossistémicos da natureza;
  • restaurar comunidades nativas de plantas em larga escala, particularmente paisagens florestais;
  • renaturalizar regiões com espécies nativas, especialmente predadores do topo da pirâmide alimentar, para restaurar processos e dinâmicas ecológicas;
  • desenvolver e adotar instrumentos políticos adequados para reparar a defaunação, a crise de caça ilegal e a exploração e o tráfico de espécies ameaçadas;
  • reduzir o desperdício de alimentos através da educação e de uma melhor infraestrutura;
  • promover transições na dieta, sobretudo na direção de uma alimentação à base de plantas;
  • reduzir ainda mais as taxas de fecundidade, garantindo que as mulheres e os homens tenham acesso à educação e a serviços de planeamento familiar voluntário, especialmente onde tais serviços ainda não estão disponíveis.
  • aumentar a educação natural e ao ar livre para crianças, bem como o engajamento geral da sociedade na apreciação da natureza;
  • reorientar investimentos e compras no sentido de incentivar mudanças ambientais positivas;
  • detectar e promover novas tecnologias ecológicas, com adoção massiva de fontes de energia renováveis, eliminando os subsídios à produção de energia através de combustíveis fósseis;
  • rever a nossa economia para reduzir a desigualdade económica e garantir que os preços, a tributação e os sistemas de incentivo levem em conta os custos reais impostos ao nosso ambiente por  nossos padrões de consumo; e
  • estimar um tamanho de população humana cientificamente defensável e sustentável a longo prazo, reunindo nações e líderes para apoiar esse objetivo vital.

Para evitar miséria generalizada e perda catastrófica de biodiversidade, a humanidade deve adotar práticas mais ambientalmente sustentáveis e alternativas em relação às práticas atuais.

Esses preceitos foram bem formulados pela liderança científica mundial há 25 anos, mas, na maioria dos aspectos, não acatamos sua advertência.  Em breve será tarde demais para mudar o curso de nossa trajetória de fracasso e o tempo está se esgotando. 

Devemos reconhecer, em nossa vida quotidiana e em nossas instituições de governo, que a Terra, com toda a sua vida, é nosso único lar.»

Figura 1 - Tendências ambientais identificadas na advertência dos cientistas à humanidade de 1992. Os anos antes e depois desse alerta de 1992  são mostrados como linhas cinza e preta, respetivamente. Ver legenda completa  aqui
Fonte, agradecimentos, referências e  legenda do gráfico em Tradução para português do "World Scientists’ Warning to Humanity: A Second Notice" , por Luiz Marques (com algumas  adaptações para português de Portugal).

Cientistas podem ainda assinar em http://scientists.forestry.oregonstate.edu/

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Odisseia Moderna

Um vídeo forte, uma crítica mordaz à sociedade atual, que não precisa de palavras:

"IN-SHADOW: A Modern Odyssey".

Se tem coragem, veja e deixe cair a máscara!


IN-SHADOW: A Modern Odyssey from Lubomir Arsov on Vimeo.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Apartheid no século XXI

Apela-se à leitura e divulgação da notícia da Amnistia Internacional (21 de novembro de 2017), na sequência  de uma investigação de dois anos e do relatório “Caged without a roof: Apartheid in Myanmar’s Rakhine state“ (Enjaulados sem teto: o apartheid no estado birmanês de Rakhine), da qual se transcreve a primeira parte:


O povo rohingya em Myanmar (Birmânia) está encurralado num sistema perverso de discriminação institucional e sancionada pelo Estado que constitui apartheid, considera a Amnistia Internacional ao publicar uma nova e abrangente análise às causas de raiz da atual crise no estado birmanês de Rakhine.

  • os rohingya são segregados e alvo de abusos em “prisões a céu aberto”
  • investigação feita ao longo de dois anos revela as causas da atual crise no estado de Rakhine
  • sistema de discriminação configura o crime contra a humanidade de apartheid


A investigação feita pela organização de direitos humanos ao longo de dois anos revela que as autoridades birmanesas restringem virtualmente todos os aspetos da vida dos rohingya no estado de Rakhine. A população rohingya está confinada ao que equivale a uma existência em ghetto, onde se debate para aceder a cuidados de saúde, a educação e, em algumas zonas, até se veem impedidos de deixar as suas aldeias. A situação atual preenche todas as caraterísticas da definição legal de apartheid, configurado como um crime contra a humanidade.

“As autoridades birmanesas estão a manter mulheres, homens e crianças rohingya segregados e intimidados num sistema desumanizante de apartheid. Os seus direitos são violados todos os dias e a repressão apenas se intensificou nos anos recentes”, frisa a diretora de Investigação da Amnistia Internacional, Anna Neistat. “Este sistema parece ter sido criado para tornar as vidas dos rohingya tão humilhantes e sem esperança quanto possível. A campanha brutal de limpeza étnica levada a cabo pelas forças de segurança nos últimos três meses é apenas mais uma manifestação extrema desta atitude chocante”, prossegue a perita da organização de direitos humanos. ... »

Fonte e continuação em Amnistia Internacional Portugal 

domingo, 19 de novembro de 2017

A maior crise ambiental

Crise Ambiental | Porque amanhã é sempre tarde demais

Estamos na maior crise ambiental da história desta civilização. Nunca como agora a humanidade enfrentou desafios tão grandes. A escassez de recursos, as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e as desigualdades, colocam-nos num ponto em que grandes remédios já não chegam para grandes males. Vamos precisar também dos pequenos remédios, de todos eles.

V. N. de Famalicão: Lemenhe – crepúsculo; set/2014
A população aumenta, os recursos escasseiam

Hoje o nosso planeta sofre, agudamente, com o excesso de recursos que a espécie humana utiliza. Por um lado, o crescimento exponencial da população, que duplicou nos últimos 45 anos (de 3,7 mil milhões em 1970 para 7,6 mil milhões atualmente); por outro lado, o gigantesco consumo de recursos provocado por uma sociedade que usa e deita fora, que valoriza o ter em detrimento do ser e que dá primazia a uma economia sem ética, obsoleta, que depende do consumo e do crescimento; por último, um planeta que é finito. Tudo isto junto, e estamos numa crise sem precedentes na história da humanidade. Consomem-se mais 50% de recursos do que a Terra consegue regenerar, a pegada ecológica dos países ditos “desenvolvidos” é muitas vezes superior ao sustentável. Precisaríamos de muitos planetas Terra para continuar neste ritmo; mas há só um. Acrescentemos a isto ainda as alterações climáticas, e estamos num caldeirão explosivo.

As alterações climáticas já aí estão

O dióxido de carbono (CO2) é um gás que faz parte da composição da atmosfera. É essencial à vida, e a sua capacidade para provocar o efeito de estufa permitiu o desenvolvimento das sociedades humanas. Desde que a agricultura apareceu e as civilizações humanas se começaram a desenvolver, há cerca de 10 a 12 mil anos, e até à era pré-industrial (1750), a concentração de CO2 na atmosfera manteve-se abaixo das 200 ppm (partes por milhão); a partir daí, a queima do carvão e do petróleo e seus derivados, motivaram a revolução industrial e também o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Hoje ultrapassamos as 400 ppm e a atmosfera e o oceano estão mais quentes. Não faltaram avisos dos cientistas nas últimas três décadas sobre o efeito das emissões de CO2 no aquecimento global e nas alterações climáticas; mas a tal primazia da economia ensurdeceu políticos e populações. Hoje sentimos na pele e no nosso território as alterações climáticas: a seca, os incêndios devastadores; noutros lados, furacões mais intensos do que nunca e chuvas torrencialmente destruidoras.

A sexta extinção em massa

Penacova: Rio Mondego – teia de aranha; nov/2016
A sexta extinção em massa já começou, e foi a espécie humana, com os seus impactos territoriais e ambientais, que a causou. A desflorestação e a perda de biodiversidade são alarmantes. Os cientistas estimam que atualmente se extingam entre 11 mil e 58 mil espécies por ano. Só em animais vertebrados terrestres, extinguiram-se pelo menos 27600 espécies desde o início do século 20. Desde 1990, foram destruídos 129 milhões de hectares de floresta (o que corresponde a 14 vezes a área de Portugal), transformando-a em produção de monoculturas de alimentos para gado, produção de biocombustíveis, extração mineira (Amazónia), para a indústria alimentar (óleo de palma na Indonésia), ou mesmo para a extração de petróleo (areias betuminosas no Canadá). Para além dos impactos negativos na biodiversidade e nas populações locais, a desflorestação implica a redução drástica de absorção de CO2 e tem impactos diretos e indiretos no clima. O planeta sofre, mas o planeta vai sobreviver, com mais ou menos espécies; o mesmo não se pode dizer desta civilização e da espécie humana.


As desigualdades a aumentar

Na era da globalização, as disparidades no estilo de vida humana são também sintoma de uma sociedade global profundamente em crise. As comunidades não vivem desligadas do ambiente que as rodeia e são afetadas pelo ambiente global, como vemos no caso das alterações climáticas. Enquanto que uma pequena parte da população, ligada ao mundo corporativo, acumula cada vez mais riqueza, a maioria, sobretudo dos países do hemisfério sul, é despojada de suas terras e vive em condições de miséria. Parece inadmissível, mas 1% da população global detém a mesma riqueza que os 99% restantes; aliás, os oito (apenas 8) homens mais ricos do mundo têm tanta riqueza como metade da população mundial. A escassez de recursos das populações mais desfavorecidas espoleta, inevitavelmente, conflitos, e a situação agrava-se. Nunca houve tantos refugiados como nos últimos anos.


Enfrentar a crise


Mirandela: Rio Tua – pedrada na água; out/2014
Quando nos deparamos com a dimensão da crise ambiental (e social, pois estão e estarão sempre ligadas), a nossa primeira reação é negar, agir como se ela não existisse. É nesse estado de negação que se encontra ainda a grande maioria da população. Depois, quando paramos de negar e aceitamos os factos e as evidências, ficamos pessimistas, desanimados, revoltados ou mesmo desesperados. Acabaremos mais tarde por perceber que o pessimismo e o desespero não resolvem nada, que nos resta fazer a parte que nos cabe, esperando que possamos contagiar aqueles que nos rodeiam a fazer a parte deles.
Hoje é já muito tarde. Mas amanhã será ainda mais tarde. Talvez estejamos no ponto de não retorno. Ou talvez possa haver algo a fazer, talvez consigamos viver de forma mais sustentável e em harmonia com a natureza. Devemos a esperança às gerações futuras, aos nossos filhos (ou dos nossos amigos), netos e bisnetos; precisamos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para lhes deixar um planeta onde possam viver e ser felizes. Não chega esperar que os políticos ou os poderosos façam alguma coisa. Sim, é necessário que eles se empenhem. Mas não chega, temos de lhes exigir, e temos de dar o exemplo. Todos e cada um!


Como disse Edmund Burk: 
Ninguém cometeu maior erro que aquele que não fez nada, só porque podia fazer muito pouco”.

Fontes dos dados numéricos: worldometers;  FAOBBCwikipediaobservadorpúblico

Texto publicado primeiramente no recente Jornal Digital  VILA NOVA, em 10/11/2017

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Vegetariano à semana

Para aqueles que sabem os impactos negativos que a pecuária tem no ambiente, e que se preocupam com a saúde e o bem estar animal, mas não estão prontos para serem vegetarianos, uma solução poderia ser seguir o concelho de Graham Hill, o canadiano fundador do site Treehugger: ser vegetariano de segunda a sexta-feira.

Imagem obtida aqui
Sabemos que não é nada fácil mudar hábitos, sair da zona de conforto. Custa, dá trabalho! Mas se não fazemos nada por convicção, apenas porque é hábito, ou porque a sociedade também faz, a vida fica sem sentido!

Para quem come em casa, é mais fácil introduzir uma dieta vegetariana, vai-se aprendendo e a culinária até é mais fácil, embora use mais ingredientes e mais diversificados. Já quem tem de comer fora de casa, é mais complicado, pois a maior parte dos locais em Portugal não estão preparados, sobretudo fora das grandes cidades como Lisboa e Porto. Mas se mais pessoas começarem a perguntar pela opção vegetariana, mais depressa se adaptarão.

domingo, 12 de novembro de 2017

O perigo dos aerossóis e da geoengenharia



As nações, seus governos  e suas pessoas, já sabem há décadas que a atual economia está a alimentar o aquecimento global. Não conseguiram, porque não quiseram,  travar o aquecimento global enquanto era tempo, continuando a consumir combustíveis fósseis e a desflorestar, como se nada (ou quase nada) se passasse.

Entretanto, em vez de agarrar as soluções sustentáveis, como as energias renováveis ou a diminuição do consumo,as soluções de geoengenharia imaginadas por cientistas, que visam manipular o clima, começam a ser faladas mais "abertamente".

Imagem obtida em PET.EAA -UFV
Estas técnicas já são estudadas há vários anos, (ver este o artigo "Um guarda-sol para refrescar a Terra" de 2006) e até são financiadas por milionários, como Bill Gates (ver no The Guardian, 2012). No entanto, nunca foram testadas, porque não o podem ser, já que só há uma atmosfera, só há uma escala de ensaio - a realidade.

É o caso de lançar aerossóis na atmosfera, que não fazem ideia das potenciais consequências negativas que daí advém.  E há quem afirme que essas soluções já estão no ar!

O ser humano têm sérias dificuldades em duas coisas: perceber o princípio da precaução e mudar de comportamentos! E desta maneira coloca a sua espécie (e muitas outras) em risco de extinção.

Sobre este assunto, aconselho o extrato da conversa com Filipe Duarte Santos e Luísa Schmidt no vídeo no topo, e também o vídeo da NASA, mais abaixo, que explica o que são aerossóis. Pelo meio, um extrato de um artigo do jornal DW Brasil sobre o uso de aerossóis de sulfato na estratosfera para travar o aquecimento global.

«Sulfato na estratosfera

A gestão de radiação solar com o uso de aerossóis reflexivos na estratosfera não está incluída nos cenários de redução de emissões do IPCC, mas o painel da ONU a descreveu como um meio de, "compensar,em certa medida, o aumento da temperatura global e alguns de seus efeitos". Outras tecnologias de SRM, como colocar espelhos no espaço para desviar os raios solares, também estão sendo avaliadas, mas são consideradas caras e complicadas demais para serem executadas.

Já os aerossóis são vistos como baratos e viáveis. Ainda assim, eles provavelmente são a mais controversa das tecnologias de geoengenharia. Além de envolver uma intervenção direta no sistema planetário, com consequências amplamente desconhecidas, essa opção não lida com as causas do aquecimento global. Ela também gera questões complicadas, como: quem vai regular o termostato global? E como impedir conflitos entre as nações sobre os efeitos colaterais?

Imagem de DW
É quase certo que vaporizar sulfato ou outros tipos de aerossóis na estratosfera, a no mínimo 19 quilômetros de altura, com o objetivo de refletir a radiação solar, vai reduzir as temperaturas globais. Esse efeito foi observado depois da violenta erupção vulcânica no Monte Tambora, na Indonésia, em 1815, quando o tempo ruim e as baixas temperaturas levaram a uma queda disseminada nas colheitas e ao "ano sem verão".

Testar como os aerossóis se comportam na estratosfera e que outras consequências eles poderiam ter exige uma experiência de campo numa escala equivalente ao uso previsto. Como isso não é possível, os pesquisadores terão de confiar em modelos matemáticos computadorizados que replicam de forma imperfeita o mundo real.

Alguns mostram que a redução da radiação solar levaria a uma diminuição nas chuvas e na disponibilidade de água nos trópicos, enquanto outros apontam para uma recuperação lenta da camada de ozônio sobre a Antártida.

"O grau de incerteza é muito elevado", comenta a pesquisadora Ulrike Niemeier, do Instituto Max Planck de Meteorologia, de Berlim. E isso não vale só para a ciência. Se, por exemplo, o clima estiver sujeito à manipulação, e um determinado país passar por um período de seca por causa disso, esse país poderia adotar ações legais. Ou até algo pior.»

Fonte: "Os riscos da manipulação do clima pela geoengenharia", Jennifer Collins,  18.10.2017, DW Brasil

sábado, 11 de novembro de 2017

Adiada decisão sobre glifosato na Europa

«A Comissão Europeia adiou para o final do mês a decisão sobre a renovação da licença para a utilização de glifosato por mais 5 anos.
...
Os Estados Membros não chegaram a acordo sobre a renovação de licença do herbicida que a Organização Mundial de Saúde diz ter riscos cancerígenos.  Portugal absteve-se na votação que teve 14 votos a favor, nove votos contra e cinco abstenções.»
Fonte: RTP

Neste caso, adiar a decisão é melhor do que permitir, mas é triste que Portugal, com um índice de contaminação por glifosato absurdo, não tenha assumido uma posição contra este herbicida cancerígeno, mais conhecido por Roundup.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Portugal vota esta semana o destino do herbicida glifosato

Comunicado da Plataforma Transgénicos Fora:

«PORTUGAL VOTA ESTA SEMANA O DESTINO DO HERBICIDA GLIFOSATO
2017/11/07 _ Com o maior nível de contaminação de toda a União Europeia

É esta quinta, 9 de novembro, a votação em Bruxelas onde deverá ficar decidido o futuro do glifosato – o herbicida mais usado em Portugal. A Comissão Europeia pretende a renovação da licença, que expira já a 15 de dezembro, mas não tem conseguido apoio suficiente por parte dos Estados Membros. O Ministério da Agricultura português (que se absteve na reunião anterior) é chamado a defender os interesses do país e juntar-se aos que exigem o fim do glifosato – a única opção defensável, considerando as evidências já acumuladas a nível nacional e não só.

Contaminação generalizada em Portugal
De acordo com os dados disponíveis Portugal é o território europeu mais poluído por glifosato. Um estudo científico[2] publicado há menos de um mês avaliou os resíduos de glifosato (que persiste no solo, ao contrário do que a publicidade afirma) em terrenos agrícolas de 11 Estados Membros representativos e verificou que 53% das amostras de solo portuguesas continham este herbicida – colocando o nosso país no topo destacado da tabela (a França, o 2º país mais contaminado, ficou-se por 30% de amostras positivas). Além disso Portugal tem também a maior quantidade de glifosato no solo: 11.4 vezes mais do que a pior amostra da Itália, por exemplo.

Estes dados estão alinhados com os valores conhecidos de contaminação humana. Em 2016 o levantamento realizado pela Plataforma Transgénicos Fora[3] evidenciou níveis inesperadamente elevados deste herbicida na urina de todos os voluntários testados. Os portugueses apresentaram, em média, vinte vezes mais glifosato do que os seus homólogos alemães. Comparando com o valor mais elevado obtido em 182 análises de diversos países europeus, a pior amostra portuguesa está 18 vezes mais contaminada – e, se estivesse em água de consumo, contaminaria essa água 320 vezes acima do limite legal.

Enquanto o Ministério da Agricultura não souber explicar como é que Portugal ficou tão contaminado por glifosato, e não implementar medidas que reduzam drasticamente este problema, é impensável permitir que a utilização generalizada na agricultura, nas ruas e até para fins domésticos possa continuar. Não aceitamos que se subestime a toxicidade do glifosato pois, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o glifosato causa cancro nos animais de laboratório em que foi testado.[4]

Processo europeu com omissões graves
Curiosamente há quem desvalorize a avaliação da OMS. A Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) e a Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) concluíram, de uma forma muito criativa, que o glifosato é inócuo. A legislação comunitária estipula que uma substância seja classificada como cancerígena desde que dois estudos independentes com animais demonstrem aumento de tumores. No caso do glifosato pelo menos 7 em 12 estudos de longo prazo apresentam esse acréscimo tumoral, mas a EFSA e a ECHA optaram por desqualificar esses estudos independentes e limitaram as suas conclusões aos trabalhos pagos pela indústria.[5] Estas omissões e as diversas justificações apresentadas violam diretamente as regras em vigor, mas isso talvez não seja de espantar uma vez que o principal relatório oficial copiou na íntegra páginas e páginas do documento inicial apresentado pela multinacional Monsanto.[6]

A bióloga Margarida Silva, da Plataforma Transgénicos Fora, lembra: "O glifosato é tão incontornável como antigamente o DDT, que era usado por tudo e por nada. Aprendemos a viver sem o DDT (exceto em casos muito pontuais) quando se percebeu quais os seus efeitos na saúde, e podemos fazer o mesmo com o glifosato. A indústria quer convencer-nos que a agricultura sem glifosato está condenada, mas a verdade é que com glifosato o que está condenado é a nossa saúde."

Note-se que o glifosato não serve sequer para a conservação do solo, como propõem os defensores da "mobilização mínima" e "não mobilização". É já sabido que o glifosato é tóxico para múltiplos organismos do solo, contribuindo assim para a redução da sua fertilidade.[7] Infelizmente práticas destas, que envolvem vastas aplicações de glifosato (incluindo na chamada "produção integrada"), são em Portugal consideradas medidas agroambientais e recebem os respetivos subsídios nacionais e comunitários.

Os dias do fim
Já há países e até empresas[8] a fazer a transição para a época pós-glifosato. As alternativas não faltam.[9] O governo francês, por exemplo, já anunciou uma linha de financiamento de 5 mil milhões de euros em cinco anos para apoiar o período de mudança.[10] Claro que a indústria dos agroquímicos luta vigorosamente contra essa evolução: na União Europeia a venda de glifosato rende mil milhões de euros anualmente.[11]

A coordenadora da campanha Autarquias Sem Glifosato/Herbicidas, Dra. Alexandra Azevedo, conclui: "Ao contrário do propagandeado o glifosato é perigoso e o alerta público para os seus riscos está a aumentar no nosso país. A sondagem do passado mês de outubro[12] mostra que 77% dos portugueses pretendem a proibição imediata deste herbicida e apenas 8% preferem manter o seu uso. A nível comunitário mais de um milhão de pessoas aderiu a uma Iniciativa de Cidadania Europeia para acabar com o glifosato.[13] Seja qual for a decisão europeia, o nosso governo não tem legitimidade política para manter o glifosato em circulação."

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Nota
A Comissão começou por propor uma renovação por 15 anos[14] mas nem reduzindo para 10, 7, 5 e 3 anos foi possível atingir a maioria qualificada necessária[15], de acordo com relatos da reunião de 25 de outubro. A reunião de 9 de novembro é no âmbito do SCOPAFF – Comité Permanente dos Vegetais, Animais e Alimentos para Consumo Humano e Animal (Secção de fitofármacos): http://tinyurl.com/yaz2aaf6

Referências
(1) http://tinyurl.com/yd6w3kys
(2) http://tinyurl.com/ybdselpv
(3) http://tinyurl.com/y9ol2ykq
(4) http://tinyurl.com/y8r32up8
(5) http://tinyurl.com/ybhlycoh
(6) http://tinyurl.com/y8mvug9j
(7) http://tinyurl.com/y8228h3v
(8) http://tinyurl.com/ycd3uj4e
(9) http://tinyurl.com/y72848fr
(10) http://tinyurl.com/ya76pzod
(11) http://tinyurl.com/yablz4pe
(12) http://tinyurl.com/ya75x6wb
(13) http://tinyurl.com/yb2paggn
(14) http://tinyurl.com/ybzdmz8d
(15) http://tinyurl.com/y8rs9grk»

Comunicado aqui.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Este não é o filme que Portugal merece


This is Portugal from Shortfuse on Vimeo.

«Este não é o filme que queríamos ter feito. 
Este não é o filme que Portugal merece.

Maior área ardida de sempre.
Mês mais seco em 87 anos.
Mais de 500 fogos activos num dia.
Mais de 100 mortos.

Não podemos esquecer.
#PortugalPrecisaDeTi»

Fonte: Shortfuse


Veja como ajudar a comunidade vítima dos incêndios neste site da TVI (ajuda para Seia, Vouzela, Tábua, Arganil, Mangualde, Santa Comba Dão e Viseu) ou aqui (Leiria), e também no Jornal de Negócios. Somos um povo solidário, não esqueçamos!

Para ajudar a Quinta de Cabeço do Mato (permacultura), que ardeu completamente, contribua aqui

Para ajudar a Quinta dos Melros (eco-construção), que ardeu completamente, contribua aqui

(menciono estes dois casos porque os conheço pessoalmente: já estive na  outrora belíssima Quinta do Cabeço do Mato e o Chris Ripley da Quinta dos Melros já veio a Famalicão fazer um interessante workshop sobre a bomba carneiro). 

Para entender melhor os incêndios de Portugal em 2017, ver o Relatório da comissão técnica independente sobre os incêndios de Pedrógão Grande e a reportagem da TVI "O Cartel do Fogo".

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Workshop Higiene e Cosmética Natural (Famalicão, 12 nov)

A Associação Famalicão em Transição está a promover um Workshop Higiene e Cosmética Natural. No próximo dia 12 de novembro, aprenda a cuidar de si com produtos naturais, livres de químicos sintéticos, e fáceis de fazer.

Este workshop é facilitado por  Débora Moura, licenciada em Psicologia, especialista em Terapias Naturais e Complementares, e criadora dos produtos naturais "MIMOS DA NATUREZA".

«A maioria dos produtos de higiene e cosmética presentes no mercado inclui ingredientes nocivos à saúde e ao ambiente e muitos ainda têm origem animal e/ou testam em animais... mas existem alternativas mais saudáveis, mais éticas, naturais e eficazes! Venha aprender a fazer alguns produtos naturais de higiene e cosmética!»

Dia 12 de novembro, das 10h00 às 12h30
Serviços Educativos do Parque da Devesa, Vila Nova de Famalicão

Valor: 10 € (8 € para sócios da Associação Famalicão em Transição)
Mais informações: famalicaom@gmail.com