quarta-feira, 21 de junho de 2017

Como transformar Portugal num imenso eucaliptal

Não podendo deixar de referir a enorme tragédia e devastação provocada pelo brutal incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, e que provocou pelo menos 64 mortos e mais de 150 feridos, porque se relaciona com o ordenamento florestal que aqui já muitas vezes se falou. Para além de toda ajuda possível às vítimas, é essencial que se mude e que se previna estas situações, a curto e a longo prazo.


Foto de Rui Oliveira obtida em DN
Assim, para reflexão republico abaixo o post que está neste blogue desde 18 de julho de 2012 e apelo à assinatura de duas petições que podem contribuir para um melhor ordenamento da floresta e para menor risco de incêndios em Portugal , uma para proteção dos carvalhais, outra para limitação dos eucaliptais:


E já agora, a ler a opinião do Professor Jorge Paiva no Público de 20/6/2017:
Como passámos a ter estradas onde corremos o risco de ser incinerados 


18/07/2012 :::: Como transformar Portugal num imenso eucaliptal :::::

Em Maio passado, saiu esta notícia no ionline: "Portucel. 15 mil novos empregos dependem de 40 mil hectares de eucaliptos", onde se diz, entre outras coisas que: 
Imagem obtida aqui
"Para se tornar auto-suficiente, a empresa precisaria de produzir, actualmente, cerca de 40 mil hectares de eucaliptos. Para alimentar uma nova fábrica seria necessário mais ainda. Neste caso o governo teria, muito provavelmente, de levantar algumas limitações que existem em termos ambientais."

No mesmo mês, e com certeza por mera coincidência, o Governo (MAMAOT) apresenta, para discussão pública a Alteração Legislativa sobre Ações de Arborização e Rearborização, proposta que remove, sem dúvida, muitos entraves à plantação de eucalipto. Sobre esta intenção de alteração à lei, ficam aqui ligações e extratos de algumas das críticas:

Extraído do comunicado da LPN - Liga para a Protecção da Natureza (18 de Julho 2012):

«A recente proposta da ex-Autoridade Florestal Nacional de alteração da legislação sobre Arborização e Rearborização abre a porta à liberalização das plantações de eucalipto, ignorando que estes péssimos investimentos têm contribuído para as piores estatísticas de incêndios da Europa e para a degradação generalizada da paisagem florestal em Portugal. É uma proposta indigna para um país desenvolvido, que submete os interesses da sociedade aos interesses privados de alguns proprietários e das empresas de celulose.

Sob a égide da simplificação dos processos de autorização e da eliminação de redundâncias legais e institucionais, a proposta da ex-AFN, inédita em qualquer país civilizado, propõe a desregulação e desordenamento da actividade florestal. Os impactes irreversíveis da implementação de tal legislação não são tidos em conta, nomeadamente alguns já observáveis que contribuíram para os piores índices de fogos florestais da Europa, a perda de áreas naturais de conservação reservatórios de biodiversidade, a degradação dos solos e a desertificação do país.

Imagem obtida aqui
A utilização extensiva e desordenada de espécies exóticas de produção industrial como o eucalipto, tem consequências absolutamente gravosas, como está documentado não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo, reduzindo biodiversidade, degradando física e biologicamente os solos e contribuindo para um aumento brutal dos incêndios florestais. Não obstante a proposta da ex-AFN prevê, por exemplo, deferimentos tácitos dos pedidos de autorização sempre que não haja uma resposta em 30 dias. Numa altura de cortes e reestruturações em todas as estruturas do Estado, nomeadamente aquelas responsáveis pela emissão destas autorizações, o Governo propõe permissões automáticas, fazendo tábua rasa do princípio da precaução, que aconselha o contrário.

(...)
A Liga para a Protecção da Natureza considera que esta proposta é completamente inaceitável,
submetendo os interesses da sociedade aos  interesses  de alguns proprietários individuais e das
empresas de celulose.  Ao contrário do que  se  anuncia no preâmbulo,  não há na mesma qualquer
preocupação em salvaguardar as já raras formações de floresta nativa, em conservar a paisagem, em prevenir os  fogos florestais nem em contribuir para um  ordenamento florestal correcto. Apelamos a todos os cidadãos preocupados com esta questão, a manifestarem o seu desagrado enviando um email até ao próximo dia 25 para regimearboriz@afn.min-agricultura.pt.»

Leia o comunicado integral da LPN aqui

Extraído do artigo de Daniel Oliveira "Eucaliptar Portugal" no Expresso (18 de Julho 2012):

«Conhecendo-se o impacto ambiental do eucalipto - consumo de água, maior facilidade de propagação de incêndios e efeitos nas espécies autóctones - as leis portuguesas exigiam algumas regas para a sua plantação. E, para impedir o recurso a atividades criminosas que beneficiavam o infrator, determinava-se que nas zonas atingidas por incêndios só se poderia replantar árvores da mesma espécie.

Segundo nova legislação que o governo apresenta agora, inédita na Europa, a arborização até cinco hectares e a rearborização até dez hectares poderá ser feita com qualquer espécie, sem necessidade de qualquer autorização. Volta-se à regra do deferimento tácito, um convite descarado à corrupção sem rasto. (...)»
Leia o artigo integral de Daniel Oliveira aqui


Comunicado da Quercus (14 de Junho 2012): ver aqui

E para finalizar, um extracto do texto do Professor Jorge Paiva, biólogo e uma das pessoas mais credenciadas em Portugal sobre floresta (que não se cansa de dizer que um "eucaliptal  é uma monocultura, não é uma floresta") intitulado:



«(...) A partir de meados do século passado (XX) os pinhais têm vindo a ser substituído por eucaliptais, particularmente de  Eucalyptus globulus. Os eucaliptos interessam mais às celuloses por serem árvores de crescimento mais rápido do que os pinheiros. Nas últimas décadas incrementaram-se tão desenfreadamente as plantações de eucaliptos que se criou em Portugal a maior área de eucaliptal contínuo da Europa.  

Com as montanhas ocupadas por eucaliptais, deu-se o êxodo rural pois, como os eucaliptos são cortados periodicamente de dez em dez anos, o povo não fica dez anos a olhar para as árvores em crescimento, sem  ter mais nada que fazer. Isto porque os eucaliptais não dão para mais nada a não ser madeira para as celuloses, pois além de não terem praticamente mato útil, não podem ser cortados para lenha nem fornecem boa madeira para construção ou mobiliário. Assim, o povo além do abandono rural a que foi “forçado”, ficou ainda numa dependência económica monopolista, um risco para o qual não é, nem nunca foi, alertado.   

Como é do conhecimento geral, a partir de 1975 aumentaram espectacularmente os fogos florestais em Portugal, constituindo um verdadeiro escândalo nacional a destruição não só da nossa vasta área de pinhal, como de algumas relíquias florestais  e até de zonas agrícolas. Na nossa opinião, a delapidação técnica e humana dos Serviços Florestais, operada pelos sucessivos governos após a “Revolução dos cravos” (25. IV. 1974) e a impreparação democrática da maior parte da população que, inicialmente, entendeu que liberdade era libertinagem são  as principais causas desta situação. Por outro lado, como já foi referido, deu-se  a desumanização do meio rural, além do abandono a que foram votadas as montanhas pela diminuição de técnicos florestais. Concomitantemente, as casas florestais são abandonadas e, consequentemente, degradadas.   

Como consequência da devastação do pinhal, como também foi referido, tem-se vindo a assistir a um aumento sistemático da área ocupada por eucaliptos e acácias ou mimosas, estas últimas por serem invasoras bem adaptadas a zonas incendiadas e os eucaliptos por serem plantados indiscriminadamente devido ao seu presente valor económico.  

O declínio da riqueza florística implica empobrecimento faunístico, constituindo os eucaliptais, por vezes com  um coberto arbustivo e herbáceo exíguo, as plantações industriais mais pobres sob o ponto de vista faunístico e florístico.  

Imagem obtida aqui
Apesar disso, os carvalhais e os montados de sobro e de azinho ocupam ainda quase um milhão de hectares em Portugal, sendo necessário, no entanto, para a defesa, manutenção e aumento dessa área, que haja uma radical modificação nas políticas agrícola e agroflorestal do nosso país.  

Não se pode continuar apenas com explorações agroflorestais e agrícolas monoespecíficas. Não só porque são explorações que provocam baixas drásticas na Biodiversidade, como também são formações de elevada homogeneidade genética. Tal homogeneidade conduz a um empobrecimento dos genes disponíveis e não permite o melhoramento e selecção das espécies que  ficam, assim, com menor aptidão para a sobrevivência. Isso implica maiores riscos de catástrofes, como incêndios mais devastadores e maior facilidade de propagação de epidemias. (...) »


Leia o texto completo do Prof. Jorge Paiva aqui

6 comentários:

  1. Olá a Todos...

    E para não variar muito... Mais uma vez apenas medidas tendo em vista o nosso querido LUCRO!

    Curiosamente é algo que nós europeus já estamos habituados a fazer, a diferença é que obrigamos outros países de outros continentes a fazê-lo... Exemplo típico é a política europeia dos biocombustíveis que provoca a destruição de milhares e milhares de hectares de Florestal Tropical! Sem contar também com a indústria alimentar não essencial e com a indústria cosmética, que leva mais uns milhares de hectares...

    Finalmente decidimos ter vergonha na cara e começar a destruir a nossa própria Floresta e Bosques em favor da "Biounidade"... Claro que o que importa são os empregos que se criam e os LUCROS, e o aumento do PIB e cenas do género...

    Continuamos no bom caminho...Como já venho a dizer desde 2009 - Quanto mais depressa melhor!

    Abraços para Todos
    voz a 0 db

    ResponderEliminar
  2. E-mail enviado. Só gostaria que quem anda pela blogosfera tivesse o mínimo "trabalho" de o enviar.
    Estamos mesmo a deixar "lixar" tudo.

    beijinhos Manuela

    ResponderEliminar
  3. Uma solução permanente para os incêndios florestais / A permanent solution to forest fires

    Nós – um grupo de portugueses e estrangeiros que acreditamos que tem de haver uma melhor maneira para o ambiente E para as pessoas – criámos esta página porque acreditamos que AGORA é uma excelente oportunidade para reflorestar as florestas devastadas no Portugal com árvores autóctones como castanheiros e sobreiros.

    JUNTA-TE A NÓS E AJUDA-NOS A LEVAR ESTA CAMPANHA À FRENTE. Acolhemos todas as ideias.
    ________________________________

    We - a group of Portuguese and foreigners who believe there has to be a better way for the environment AND the people - have set up this page because we believe that NOW would be the perfect opportunity to replant the devastated forests of Portugal with the indigenous forest of sweet chestnut and oak.

    PLEASE JOIN US AND HELP TAKE THIS CAMPAIGN FORWARD. We welcome all ideas.

    FACEBOOK PAGE:
    http://www.facebook.com/pages/Floresta-Portuguesa-Sustent%C3%A1vel-Sustainable-Forests-for-Portugal/345039065588647

    OPEN DISCUSSION GROUP:
    https://www.facebook.com/groups/212064558834038/

    ResponderEliminar
  4. Petição pela revogação da liberalização do eucalipto

    A revogação do DL não impede a florestação de eucaliptos, nem resolve todos problemas da nossa floresta, mas obriga a que as entidades competentes voltem à necessária tarefa de análise e aprovação da sua plantação.

    Desde a década de 1980 que as áreas ardidas em Portugal são superiores à média Europeia, tornando-se no país líder na Europa em número de incêndios, com cerca de 700.000 mil, e de área de território ardido, com mais do equivalente a 40% de todo o território nacional (seguido pela Grécia, Itália e Espanha, todos com cerca de 12%).

    Portugal é o país do mundo com maior área de território ocupada por eucalipto (cerca de 10% de todo o seu território), a que correspondem quase 30% de área florestal sendo este valor inclusivamente superior ao da Austrália, país de sua origem.

    Os dados apontam para a coincidência temporal entre o início da era do eucalipto com o início da intensificação dos fogos florestais, o que evidencia que nenhum dos vários governos deu até hoje a devida e necessária atenção às globalmente reconhecidas consequências da massificação desta espécie:

    - Destruição dos recursos hídricos causada pelo seu “consumo de luxo” de água e consequente erosão extrema dos solos, ao ponto de se desconhecer a duração da reposição dos nutrientes necessários à plantação de qualquer outra cultura;

    - Destruição da biodiversidade da flora dada a excessiva quantidade de biomassa produzida não permitir qualquer interacção com outras plantas e árvores;

    - Desaparecimento quase total de fauna (curiosamente nem os animais de origem australiana, cuja alimentação é exclusiva de folhas de eucalipto, fazem uso das espécies predominantes por cá);

    - Susceptibilidade para a ignição de incêndios de fulminante propagação e enorme intensidade, sendo que os bombeiros australianos sugestivamente alcunham a espécie por cá predominante (eucalyptus globulus), de “gasoline tree” (árvore da gasolina), tal o seu nível de combustão.

    Está por isso na altura de nos questionarmos se devemos continuar vertiginosamente no caminho da auto destruição dos nosso recursos, a troco de uma contribuição de cerca de 2% do PIB e alguns empregos gerados pela industria da celulose?

    ResponderEliminar
  5. Olá Manuela!

    Lá tiveste de me obrigar a descobrir uma forma de ultrapassar a treta do publico.pt (pelos vistos tinha usado todos os créditos, que nem sabia ter!) e lá consegui e lá li o artigo do bacano!

    A forma como acaba é divertida!
    "É melhor ficarmos por aqui, pois eu, como português que me honro de ser, tenho VERGONHA de viver num país que importa madeira de carvalho para mobiliário, por não replantar a floresta nativa."

    É estranho esta forma de estar... ter orgulho e vergonha da mesma coisa em simultâneo, mas enfim.

    Quanto ao tema em si...

    DADO QUE NADA MUDOU... Podem ler o meu comentário lá de cima que está actualizadíssimo!

    E apenas serve de demonstração prática que dado o nosso ambiente legislativo... uma petição tem tanta utilidade como o voto!

    Também não compreendo a surpresa da malta! Os humanóides actuais não querem saber de trabalhos em ambiente rural... Só querem trabalhos em zonas citadinas com wi-fi gratuito e muita diversão!

    Fica bem
    Bjhs e Abraços
    E até daqui a 5 anos com o re-re-copiar da mesma mensagem...

    voza0db

    ResponderEliminar

Obrigada por visitar o blogue "Sustentabilidade é Acção"!

Agradeço o seu comentário, mesmo que não venha a ter disponibilidade para responder. Comentários que considere de teor insultuoso ou que nada tenham a ver com o tema do post ou com os temas do blogue, não serão publicados ou serão apagados.