terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"Como enfrentar a sexta extinção em massa?" por Leonardo Boff


por Leonardo Boff, 26/02/2012

«Referimo-nos anteriormente ao fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter inaugurado uma nova era geológica – o antropoceno – era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o eventual exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Estas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada cem milhões de anos, exterminando grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos quando foram dizimados os dinossauros entre outros.

Até agora todas as extinções eram ocasionadas pelas forças do próprio universo e da Terra a exemplo da queda de meteoros rasantes ou de convulsões climáticas. A sexta está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next Magazin, n.19. Os dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor de ecologia em Standford calcula em 250.000 espécies exterminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson de Harvard dá números mais baixos, entre 27.000 e 100.000 espécies por ano (R. Barbault, Ecologia geral 2011, p.318).

O ecólogo E. Goldsmith da Universidade da Georgia afirma que a humanidade ao tornar o mundo cada vez mais empobrecido, degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em três milhões de anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio civilizatório e quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia americana, escreveu:”Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio mas não sabem lidar com o biocídio e o geocídio”(Our Way into the Future, 1990 p.104).

Podemos desacelerar a sexta extinção em massa já que somos seus principais causadores? Podemos e devemos. Um bom sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões de anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo que suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não contra nós. Mas ele pede a nossa cooperação já que somos os maiores causadores de tantos danos. Agora é a hora de despertar enquanto há tempo.

O primeiro que importa fazer é renovar o pacto natural entre Terra e Humanidade. A Terra nos dá tudo o que precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra. Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e práticas ecocidas e biocidas.

O segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em sintonia com os dinamismos dos ecossistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhes a vitalidade e garantindo-lhes sustentabilidade. Para isso necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de submeter e reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.

O terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos mas para com todos os seres, compaixão como forma de amor e cuidado. A partir de agora eles dependem de nós se vão continuar a viver ou se serão condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida.

No meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozóica que coloca o ecológico no centro de nossas atenções. Só assim há esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso planeta vivo.»


Fonte: leonardoBOFF.com (negrito meu)

7 comentários:

  1. Olá...

    Não temos com o que nos preocupar... A minha última mensagem lá no TEMPO é prova disso. As seguintes, que já estão na calha, serão mais uma prova de que a extinção em massa vai parar... Isso porque nós não somos capazes de "colocar o ecológico no centro de nossas atenções"...

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  2. Olá...

    Vamos ver se já passou a zoeira ao blogger!!!

    Nós não precisamos de mudar... Basta seguir o rumo que está espelhado na minha última mensagem que publiquei lá no TEMPO, e das próximas que vou publicar, para a coisa voltar ao sítio... E não será preciso esperar muito TEMPO!!!

    Bj

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  3. O homem é um ser gregário como os lobos ou elefantes, por exemplo. Neste momento o homem vive como as formigas, numa super-organização. Só que as formigas já nascem com um papel pré definido e os humanos não. Enquanto não se mudar este estado de coisas, não há nada a fazer. Já Marx dizia que a divisão do trabalho e a acumulação de poder no topo da pirâmide da super estrutura nos iria levar à escravidão. Além disso a ganância tornou-se tão medonha que meia dúzia de poderosos criminosos, arrastam milhões para o extermínio em massa... se não forem eles a provocar para se safarem, como estou a ver há já muito tempo. Vê aqui o jogo desses irresponsáveis; É que é isto exactamente: http://vimeo.com/19267941

    Um beijinho.

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  4. Olá Fada do bosque

    Pois é quase tudo verdade isso que dizes, com excepção da parte "Enquanto não se mudar este estado de coisas, não há nada a fazer." Porque se estás à esperas que sejam os governantes a mudar as coisas, então bem podes esperar sentada ou deitada, que eles não mudam.

    Muito boa, essa curta do Juan Falque, que já tinha dado boas provas com "Os Piratas".

    E agora, vou continuar a ver o documentário chamado "O PODER DA COMUNIDADE"

    Beijinhos e obrigada pela visita

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  5. É mesmo isso, nem tu, nem eu mas sim a comunidade. Pena eu estar a ficar com um pouco de misantropia. É o que acontece aos borderline... ou outsiders. Desculpa mas em português é uma palavra que considero feia. Sou totalmente o oposto de ti... que és super sociável... que lhe hei-de eu fazer?
    Depois passa aí no blogue o documentário.

    Um beijinho

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  6. Oh Fada, se pensares em nós as duas na nossa juventude, afinal quem é que é mais sociável? Bem sabes!

    O filme que estou a ver é este: http://youtu.be/L2TzvnRo6_co, mas ainda ando a tentar arranjar com legendas em português. Se o nosso grupo de transição assim achar, vamos tentar que seja o filme para a 3ª sessão de documentários, a 21/04. Já agora, 2ª sessão é a 17 de Março.

    Bjs

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  7. Olá... Felizmente que não teremos que nos preocupar durante muito mais TEMPO sobre estes temas... afinal nós estamos a fazer um excelente trabalho na nossa auto-intoxicação!... Mas a festa louca não se fica por isto que escrevi, que é apenas uma parte de todo o processo, e que nas próximas mensagens loucas irei descrever...

    Não somos capazes de mudar, falo na globalidade, pois não achamos ser necessária efectuar qualquer mudança!

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