sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Crise Terminal do Capitalismo?" - por Leonardo Boff

Imagem: site de Leonardo Boff
Para ler e reflectir, o artigo de Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor universitário brasileiro, publicado no dia 28/06/2011 em Mercado Ético:

"Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.

A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

Imagem obtida em A.C.Almuinha
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

 Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.


Imagem de SIC Notícias
As ruas de vários países europeus e árabes, os “indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: “não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas."

14 comentários:

  1. Pois estão... os ladrões estão refastelados em Wall Streey, tal e qual como na crise de 1929.
    "Os pobres existem para combaterem os pobres"... e quem tem de se preparar somos nós, porque isto não é o fim do capitalismo, isto é o nosso fim.

    Guerra e crise económica

    A guerra está inextricavelmente ligada ao empobrecimento do povo, internamente e por todo o mundo. A militarização e a crise económica estão intimamente relacionadas. O fornecimento de bens e serviços essenciais para atender necessidades humanas básicas foi substituído por uma "máquina de matar" orientada para o lucro a apoiar a "Guerra global ao terror" da América. Os pobres são feitos para combater os pobres. Mas a guerra enriquece a classe superior, a qual controla a indústria, os militares, o petróleo e a banca. Numa economia de guerra, a morte é um bom negócio, a pobreza é boa para a sociedade e o poder é bom para os políticos. Os países ocidentais, particularmente os Estados Unidos, gastam centenas de milhares de milhões de dólares por ano para assassinar pessoas inocentes em distantes países empobrecidos, enquanto internamente o povo sofre as disparidades de pobreza, classe, género e racial.

    Uma "guerra económica" total que resulta em desemprego, pobreza e doença é executada através do mercado livre. Vidas de povos estão numa queda livre e o seu poder de compra é destruído. Num sentido muito real, os últimos vinte anos de economia global de "livre mercado" terminaram, através da pobreza e da exclusão social, com as vidas de milhões de pessoas.

    Ao invés de tratar de impedir a catástrofe social, os governos ocidentais, que servem os interesses das elites económicas, instalaram uma polícia de Estado "Big Brother", com mandato para confrontar e reprimir todas as formas de oposição e discordância social.

    A crise económica e social não atingiu de forma alguma o seu clímax e todos os países, incluindo a Grécia e a Islândia, estão em risco. Basta apenas olhar para a escalada da guerra no Médio Oriente e Ásia Central e para as ameaças dos EUA-NATO à China, Rússia e Irão para testemunhar como a guerra e a economia estão intimamente relacionados.
    Análise ao livro: A crise económica global. A Grande Depressão do século XXI.

    Texto integral Aqui

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  2. Olá Manuela...

    Pode parecer, assim de relance, que nada tem haver com esta mensagem, mas no fundo está tudo ligado...

    Como é que ficou o caso dos Produtos Naturais à venda por cá (EU)?

    Na América o ataque a produtos Naturais também já começou... a FDA apresentou nova linhas de orientação que passam ao lado da legislação e obrigam todos os produtores de produtos de origem natural (suplementos e coisas do género) a fazem o que podes ver aqui, a seguir ao esquema podes ver os formulários que têm de ser preenchidos para cada ingrediente que caia na categoria pós 1994!!! E como muitos dos suplementos que se vendem por cá são fabricados lá... ups... acabou!

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  3. Olá Manuela :))
    Fiz link... inevitavelmente, não é? ... pois!... obrigada... e bom fim-de-semana :)
    Um beijinho

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  4. Voz... metes aqui um link que para uma leiga, pouca diferença faz do chinês... Diz lá o que querias dizer. É que eu também gostaria de saber o que se passa... faz um pequeno esforço, faz favor. :)

    Para se resolver o problema do capitalismo com algum sucesso, que não seja a guerra o melhor seia começar por isto e para isso é necessária a mobilização pública:

    A necessidade de responsabilizar os políticos... Rainer Daehnhardt
    A NECESSIDADE DE RESPONSABILIZAR OS POLÍTICOS

    PELOS ESTRAGOS QUE CAUSAM COM AS SUAS ACÇÕES



    Qualquer automobilista é responsabilizado pelas suas acções no trânsito.
    Um restaurante é responsabilizado pelo que serve à mesa.
    Um médico é responsabilizado pela sua conduta profissional.
    Então, por que razão, nenhum político é responsabilizado pelos seus actos?
    Instalou-se mundialmente um sistema de intocabilidade religiosa em dois meios fortemente interligados, que são o financeiro e o político.
    O pior que pode acontecer a um financeiro ou a um político é não ser reeleito para o seu cargo. As desgraças que as suas actuações causam a tanta gente são consideradas irrelevantes.
    Isto está profundamente errado!
    Procurar vestígios de corrupção, para ver se algum banqueiro ou governante acumulou fortunas pessoais de forma ilegal, é apenas um levantar de uma cortina de fumo, para não mostrar a verdadeira gravidade da situação.
    Os seus comportamentos devem ser vistos, individualmente, como as origens das feridas, que as suas acções causaram, com efeitos nefastos, ao povo e à pátria, que supostamente deviam defender.
    Proponho que pessoas qualificadas "avaliem a performance" (permito-me, neste caso específico, a usar a terminologia dos próprios), de todos os políticos, que ocuparam cargos no pós-25 de Abril de 1974.
    Apoderaram-se de uma nação, que existia em harmonia desde da Ilha do Corvo até Macau.
    O que fizeram dela?
    Deve-se calcular, em números, os prejuízos, que suas actuações causaram, não apenas à metrópole, mas também aos povos ultramarinos.
    Deve-se criar um escalão onde se atribua as percentagens de peso nas decisões, que correspondam a cada lugar governamental e por dia de ocupação.

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  5. continuação:
    De seguida, deve-se procurar saber quais foram as pessoas que ocuparam estes lugares e qual o montante de estragos por elas causados.
    Logicamente, devem ser responsabilizados pessoalmente; a igualdade de direitos e deveres com todas as outras profissões a isto obriga.
    Não existe fundamento lógico que justifique que os governantes não possam ser chamados à responsabilidade. Qualquer taxista, talhante, dentista ou educador é responsabilizado pelos seus actos.
    Um julgamento público, devidamente transmitido pelos média, é suficiente para acabar com o assassinato da identidade nacional e conseguir o reestabelecimento imediato da soberania!
    Qualquer um dos políticos responsabilizados devem ter direito de defesa e explicação do porquê das suas acções.
    A justiça e a ordem pública têm de prevalecer!
    Se as suas acções forem consideradas justificáveis perante o povo e a pátria, será absolvido.
    Se as suas acções forem causadoras de endividamento da nação, do empobrecimento (espiritual ou monetário) do povo, terá que tentar indemnizar a nação e o povo. Caso não tenha bens suficientes para fazer face ao peso dos danos, terão que responder todas as pessoas, firmas ( incluindo os seus accionistas), ou instituições, que lucraram com as suas decisões e responder dentro dos montantes por eles indevidamente recebidos, para que se reponha o estado da Nação ao nível da data da sua tomada de posse.
    Este julgamento terá, como consequência imediata, a dissuação do aparecimento de novos caçadores de fortunas fáceis na governação.
    Isto, por sua vez, será a vassourada de limpeza ética que uma profissão (que devia ser merecedora de respeito) necessita urgentemente.

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  6. E tao simples como isso, o complicado e fazer perceber que sem a nossa (de TODOS) participaçao na vida publica, nao havera justiça.
    Estamos nesta situaçao porque deixamos durante decadas prevalecerem as injustiças.
    E continuamos a deixar...
    Desculpem a falta de acentos

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  7. ihih ó FADA... assim como tu devem estar muitos produtores de suplementos ou ingredientes de origem biológica, pois as Corporações Químicas e Farmacológicas têm a FDA como seu braço defensivo, mandam nela e a FDA faz o que elas querem... Assim criaram esta nova infestação de burocracia que é praticamente impossível de ultrapassar por um pequeno produtor ou mesmo uma pequena empresa... o esquema mostra os passos a seguir para todos os ingredientes dietéticos que tenham sido introduzidos/utilizados no mercado a partir de 1994, se não estiverem "registados" lá na FDA tem que se preencher os impressos que podes ver a seguir ao esquema... e é de tal forma absurdo que chegam ao ponto de solicitar que se informe o nome do autor do LBN (em pt nomenclatura binomial), imagina um ingrediente descoberto por um zé qualquer no séc XIX mas que só começou a ser utilizado no suplemento depois de 94 o produtor tem que ir à pesca do nome LBN e do nome do autor!!! Estás a ver um suplemento com por exemplo 8 ingredientes todos eles pós 94 o produtor ter que fazer esta pesquisa e tem que ter estudos de "segurança" para os ingredientes todos de forma isolada...

    Claro que o esquema, como foi elaborado pela tais Corporações as isenta pois se o ingrediente for sintetizado em laboratório ou for alvo de qualquer alteração química está isento de registo... se for de origem 100% natural... TOMA...

    Por isso escrevi que apesar de não parecer isto está directamente ligado ao Capitalismo, e é apenas mais uma tentativa para manter o Animal...

    Que tal? Expliquei bem?

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  8. Obrigada Voz... claro que explicaste bem. Chiiiiça!!!! eles inventam obstáculos para os outros, para os "pequeninos" do arco da velha!!
    Nós sabemos onde isto vai parar...

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  9. Com tanta msg se calhar nem deram conta da minha pergunta!!!!

    Como é que ficou o caso dos Produtos Naturais à venda por cá (EU)?

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  10. Lena, Voz, Ana Paula e Ana Teresa

    Antes de mais, peço desculpa por não responder aos vossos comentários, mas se quase sempre os leio logo que posso, nem sempre tenho disponibilidade de tempo ou inspiração para responder. E para dizer algo só por dizer, prefiro dar tempo e responder algo com conteúdo. Mas por vezes, o tempo não dá mesmo. Por isso, agradeço muito a vossa participação, mas por favor, não levem a mal quando não respondo.

    Voz, bem sabemos o enorme poder das corporações da indústria química e farmacêutica - uma coisa indescritívelmente doentia.
    Quanto à petição "
    Stop the Traditional Herbal Medicinal Products Directive", tanto quanto sei continua a recolher assinaturas, neste momento está com cerca de 178 mil.
    A Directiva 2004/24/EC entrou em vigor em 30/04/2011, mas como os estados membros levam o seu tempo a transpor para a sua ordem jurídica, não sei se já está a produzir os efeitos nefastos expectáveis...

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  11. Voz, esses 178 mil referem-se à petição gopetition lançada pela Gaia Health. AAvaaz, entretanto, já vai em cerca de 862 mil assinaturas.

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  12. É,o texto de Leonardo me lembra a historia da cobra que ao se ver sem alimento começou a engolir sua própria cauda.
    Acabou por se engasgar é evidente e assim morreu.
    A historia da humanidade ou civilizações é remotíssima,não é dificil conhece-la,para tanto é só deixar de lado os conceitos pre-estalelecidos por cientistas acadêmicos e governos duvidosos e aí é só começar a argumentar e aprender com muitos livros antigos(antigos mesmo)o que vem se repetindo em desastres com as civilizações do passado.
    Quando o passageiro humano terrestre deixa de ser a matéria principal e em seu lugar aparece a moeda,o poder de mando,as pseudos lideranças manobristas das massas,então estamos perto realmente de mais uma repetição na historia das civilizações que por este planeta ja passaram.
    Bem postada esta matéria Manuela.
    Porque repetimos os erros ??
    Manuela,podem passar anos,séculos,milênios porem o problema não reside no tempo passado,presente ou futuro,o grave problema planetário reside no ser humanoide terrestre,este sim,é AUTO DESTRUTIVO,QUANDO ELE EXTINGUE QUASE TUDO ENTÃO VAI FAZER IGUAL A COBRA.
    Cada vez que vejo Leonardo me vejo no espelho(nada lhe devo na aparencia,olhai a ele e me verá)
    Grande abraço Manuela.

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  13. Olá Ira

    Não conhecia essa história da cobra a engolir sua própria cauda, mas a imagem representa bem a atuação desta civilização, que me parece prestes a perecer! Infelizmente, os que mais sofrem e sofrerão, são aqueles que menos culpa têm...

    Obrigada e um abraço

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