quarta-feira, 29 de junho de 2011

Colóquio de Transição 6 - sobre a experiência em Totnes

Durante o Verão do ano que passou, coloquei aqui 5 dos vídeos que saíram do colóquio "Transição para uma economia e cultura pós-carbono", que ocorreu no dia 10 de Abril de 2010 em Pombal, e que marcou o arranque das iniciativas de Transição em Portugal, mas não completei a tarefa, pois ainda ficaram a faltar algumas importantes apresentações. 

Não podiam, pois, faltar aqui dois dos vídeos que, no fundo, são os que se debruçam sobre os fundamentos da Transição -  as apresentações de Sérgio e Carmen Maraschin, que falam da sua experiência no Movimento de Transição em Totnes, cidade inglesa onde esta rede arrancou.  Sérgio  apresenta os pressupostos da Transição bem como o exemplo da Cidade de Totnes, de uma forma global, e Carmen apresenta a sua experiência num dos grupos de trabalho - o grupo "Coração e Alma".


Colóquio da Transição 6 Iniciativas de Transição from João on Vimeo.


Colóquio da Transição 7 Transição Interior from João on Vimeo.

domingo, 26 de junho de 2011

Depois de semear ventos...

"Quem semeia vento" é o título da Grande Reportagem sobre o estado da agricultura em Portugal,  que passou na SIC no dia 8 de Maio de 2011. Não vi na altura, mas encontrei o vídeo no excelente no blogue Bioterra, do João Soares, e que abaixo deixo incorporado.

Depois de décadas em que o Estado e a União Europeia se dedicaram a destruir a agricultura em Portugal, estamos num país sem qualquer autonomia alimentar. Muitos agricultores abandonaram as terras. Dos que subsistem, muitos apenas produzem à base de subsídios, tal como a UE quer para controlar produções de acordo com interesses instalados. Outros têm subsídios para não produzir.  Dos que continuam a cultivar, a maioria não está informada sobre técnicas agrícolas sustentáveis, mantendo sistemas de produção nocivos ao ambiente e à saúde, privilegiando monoculturas e o uso de fertilizantes e pesticidas em detrimento da biodiversidade de culturas e do respeito pelo suporte vivo que é o solo.

Mas chegou a hora de mudar esta situação, e,  felizmente ela está a mudar mesmo, como podem ver, na reportagem abaixo!



Acho que todos já percebemos que chegou a hora de produzir alimentos em Portugal para caminharmos rapidamente no sentido da soberania alimentar. 

Imagem de Quinta do Rio Dão
Está na hora de perceber que a agricultura em Portugal deve ser incentivada em formas sustentáveis e no respeito pela natureza e pela saúde. Mais que a agricultura em modo de produção biológico, é preciso agricultura sustentável. Saliento pela positiva a ocorrência do 1º Encontro de Agricultura Sustentável no Porto, no passado dia 18 de Junho, coorganizado pela Campo Aberto, Plataforma Transgénicos Fora e Escola Superior de Biotecnologia (Grupo de Estudos Ambientais) da Universidade Católica.

Está na hora de acabar com os grandes lucros dos grandes distribuidores, e promover a ligação o mais directa possível entre os produtores e os consumidores. Nesse aspecto, o projecto PROVE - promover e vender, já espalhado por várias zonas do país, é um bom exemplo do presente para o futuro - um sistema de encomenda de cabazes através da Internet com horários e locais de entrega preestabelecidos.

Está também na hora dos portugueses perceberem que só dando preferência aos produtos agrícolas portugueses se pode ajudar a agricultura em Portugal, e que não é sustentável insistir em comprar os produtos fora da sua época natural. Isto também faz parte do consumo consciente.

Hortas de Biotecnologia, UCP, Asprela - Porto
E, por último, vejo que já muitas pessoas começam a praticar agricultura urbana, aproveitando pequenos quintais, varandas, terraços, e até janelas. Na Internet multiplicam-se sites, blogues e grupos de troca de informação sobre agricultura urbana, biológica e sustentável (ver na página Agricultura Sustentável alguns exemplos). Câmaras Municipais, Instituições e Associações cada vez mais se empenham em disponibilizar terrenos para hortas comunitárias e em dar formação em métodos biológicos e sustentáveis.

E novos agricultores começam a cultivar seus jardins comestíveis ou a regressar aos terrenos agrícolas, agora mais informados sobre agricultura biológica e sustentável. 

Haja esperança em Portugal e nos portugueses para deixarmos de semear ventos e passarmos a semear a terra com sustentabilidade!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Contra a privatização da água

Facebook: "A Água é de todos! Por um referendo nacional"
Ouve-se agora falar abertamente num assunto que há muitos anos anda a ser cozinhado em surdina - a privatização da água em Portugal!

Em Itália, num referendo uma maioria absoluta acaba de dizer NÃO à privatização da água.  Na Holanda e no Uruguai, passou a ser ilegal privatizar a água. Na Bolívia, a população revoltou-se contra os efeitos nefastos da privatização da água e conseguiu reverter a situação.  

Os povos do mundo estão a ficar fartos dos oligopólios e monopólios das grandes corporações! E quando toca a um bem natural e essencial como a água, é crucial que se oponham, ou qualquer dia ainda privatizam o ar!

Por isso, desde ontem que está online uma petição pública solicitando um referendo nacional à privatização da água. Que seja o povo a decidir:  assine a 


Não perca também o documentário Ouro Azul - A Guerra Mundial pela Água (Sam Bozzo, 2008), abaixo  incorporado, onde percebemos, numa visão integrada, a situação dramática da água no mundo. Com testemunhos de Wangari Maathai,  de Ryan e de Vandana Shiva, entre muitos outros, vemos como o novo colonialismo das corporações (grandes multinacionais) tem sede de privatizar a água, e como o o banco Mundial desempenha o papel de lobo com pele de cordeiro nesta guerra!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ajude a proteger a Amazónia

Imagem obtida em Mongabay
As florestas do Brasil ficarão mais expostas à desflorestação se a Presidente Dilma não vetar a alteração ao Código Florestal do Brasil. Esta alteração, que além facilitar a desflorestação aos grandes proprietários, convertendo a floresta em monoculturas para alimento de gado, amnistia aqueles que no passado prevaricaram e destruíram ilegalmente florestas Em suma, a alteração ao Código Florestal, aprovada no passado dia 24 de Maio na Câmara de Deputados, é mais um passo para arruinar com a floresta, com as comunidades locais e com o planeta. 

Em paralelo a esta morte anunciada da floresta, no Brasil sucedem-se os assassinatos daqueles que a defendem e denunciam os madeireiros ilegais. Naquele mesmo dia 24 de Maio, foi assassinado José Claudio e sua mulher Maria. Nessa semana foram ainda assassinados Adelino Ramos (Dinho) e Herenilton  Pereira dos Santos, e  Obede Loyola Souza

Imagem obtida em Mongabay
"Crimes como estes costumam ficar sem solução no Brasil.  Nos últimos dez anos, 219 pessoas foram assassinadas nas florestas do Pará. Deste total, apenas quatro casos chegaram aos tribunais." (fonte: WWF Brasil).

No entanto as pessoas que protegem a floresta denunciando os criminosos, e que são permanentemente ameaçadas, não são protegidas.

Assim, apelo a que assinem e divulguem a nova petição internacional da AVAAZ à Presidente do Brasil. Segundo a Avaaz, 79% dos Brasileiros apoiam o veto de Dilma à alteração ao Código Florestal, mas façamo-la saber que no mundo inteiro há quem queira defender a Amazónia e as florestas do Brasil e aqueles que denunciam os criminosos:

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Problema de plágio resolvido

Há 4 dias detectei na blogosfera um blogue com o nome igual ao deste e com muito do material aqui existente copiado para lá, conforme referi aqui. No dia seguinte, por isso há 3 dias, participei ao serviço do Blogger (da Google), através deste link. Hoje recebi um e-mail da equipa Google pedindo alguns esclarecimentos adicionais, a que respondi há umas horas. Passado pouco tempo recebi outro e-mail da Google Team dando conta do problema estar resolvido.

Verifiquei então que o blogue pirata foi removido. Por isso, aqui ficam os agradecimentos à equipa da Google pela resolução do problema em apenas 3 dias. E a todos os que deram apoio e pistas para ajudar!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Para além do petróleo: biocompostos feitos por fungos

Nesta palestra TED, Eben Bayer apresenta novos materiais fabricados com desperdícios de cereais e agregados com o trabalho de fungos, para substituir os tradicionais plásticos derivados do petróleo para material de embalagem.  Totalmente biodegradáveis! (tem legendas em português)

domingo, 19 de junho de 2011

Transição: de Paredes para Famalicão

Na passada sexta-feira à noite ocorreu a Palestra "Transição para a Sustentabilidade: O exemplo de Paredes", com Miguel Leal, biólogo e impulsionador do Movimento Paredes em Transição, no Espaço Mangala, em Vila Nova de Famalicão.
Cerca de 30 pessoas assistiram à exposição do Miguel, dando a conhecer os pressupostos e princípios do Movimento de Transição, e e apresentando o interessante e inspirador trabalho que têm desenvolvido em Paredes, e que tenho acompanhado através do blogue Paredes em Transição, donde extraí o texto que se segue:

"Acreditamos ser preferível que, em comunidade e por iniciativa própria, iniciemos JÁ o processo de transição para um futuro menos dependente dos combustíveis fósseis do que ficarem à espera que as circunstâncias nos forcem a alterar o nosso modo de vida nesse sentido, o que, inevitavelmente, acontecerá, mais tarde ou mais cedo, pois ainda não foi descoberta nenhuma fonte de energia que possa vir a substituir o petróleo barato e facilmente disponível.

Acreditamos que, para que este processo de transição tenha sucesso, é vital reconstruir a resiliência – em grande parte perdida – das nossas comunidades através de uma relocalização da economia, consumindo, dentro da medida do possível, bens e energia produzidos localmente, apoiando os agricultores locais ao adquirir os seus produtos, frequentando o comércio tradicional, tentando reaprender certas técnicas de produção em vias de desaparição e cultivando a entreajuda entre os elementos da comunidade.
" (ver texto completo aqui)

Agradeço a todos os participantes, mas sobretudo agradeço ao Miguel Leal pelo excelente exemplo de partilha e disponibilidade que deu em Famalicão. Estou convencida que foram colocadas várias sementes de Transição nas cabeças dos Famalicenses ali presentes. Agora, precisamos continuar a regá-las para ver se germinam num Movimento Famalicão em Transição! (mais em Famalicão por um Mundo Melhor)

sábado, 18 de junho de 2011

Falta de ética na internet

Hoje encontrei na Internet um blogue denominado "Sustentabilidade é Ação" (http://acaoesustentabilidade.blogspot.com/), nome copiado deste blogue. Poderia até ser mera casualidade, não fosse muitos dos widgets laterais serem copiados daqui (petições, ligações, sites recomendados, etc), e mesmo muitos (não sei quantos) dos posts, que ainda assim lá estão com o meu nome.

Aparecem também posts escritos por outras pessoas, o dito blogue  não tem qualquer contacto, e não dá saber quem foi o autor do plágio.

Não sei qual é o objectivo de tal façanha, mas não é ético, não é responsável, e como a sustentabilidade abarca também questões sociais, éticas e humanas, seguramente que não é sustentável. Acho muito bem que se divulguem questões ambientais e de sustentabilidade, mas não desta forma, que considero um abuso.

Tentei participar ao blogger aqui, mas não consigo porque me pede que preencha dois campos que não se adequam ("Company Name" e "Copyright holder you represent"). Não sei como  proceder num caso destes, se alguém tiver dicas ou sugestões, agradeço.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Consumo consciente

O Instituto Akatu (Brasil), sob o lema "Consuma sem consumir o mundo em que você vive", define assim os 12 Princípios do Consumo Consciente:

1. Planeie suas compras
Não seja impulsivo nas compras. A impulsividade é inimiga do consumo consciente. Planeie antecipadamente e, com isso, compre menos e melhor.

2. Avalie os impactos de seu consumo
Leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo.

3. Consuma apenas o necessário
Reflicta sobre suas reais necessidades e procure viver com menos.

4.Reutilize produtos e embalagens
Não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar.

5.Separe seu lixo
Recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos.

6.Use crédito conscientemente
Pense bem se o que você vai comprar a crédito não pode esperar e esteja certo de que poderá pagar as prestações.

7.Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas
Em suas escolhas de consumo, não olhe apenas preço e qualidade do produto. Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente.

8. Não compre produtos piratas ou contrabandeados
Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.

9. Contribua para a melhoria de produtos e serviços
Adopte uma postura activa. Envie às empresas sugestões e críticas construtivas sobre seus produtos e serviços.

10. Divulgue o consumo consciente
Seja um militante da causa: sensibilize outros consumidores e dissemine informações, valores e práticas do consumo consciente. Monte grupos para mobilizar seus familiares, amigos e pessoas mais próximas.

11. Cobre dos políticos
Exija de partidos, candidatos e governantes propostas e acções que viabilizem e aprofundem a prática de consumo consciente.

12. Reflicta sobre seus valores
Avalie constantemente os princípios que guiam suas escolhas e seus hábitos de consumo.
 
Recuso-me a ser considerada ou denominada como "consumidora", só porque sou obrigada a "consumir". Assim como me recuso a ser chamada de "dormidora" só porque sou obrigada a dormir. Na realidade, todos consumimos, pois todos temos necessidades que precisam ser atendidas. Uns consomem o estritamente necessário, outros são verdadeiros "consumidores". Uns têm a preocupação de escolher o que consomem com critérios ambientais e éticos, outros não querem saber. Mas afinal, o que é consumo consciente? O texto que se segue, transcrito da página de HowStuffWorks, explica:

"O que é consumo consciente?

A idéia básica do consumo consciente é transformar o ato de consumo em uma prática permanente de cidadania. O objetivo de consumo, quando consciente, extrapola o atendimento de necessidades individuais. Leva em conta também seus reflexos na sociedade, economia e meio ambiente.

E os reflexos podem ser positivos ou negativos. Ao comprar produtos de uma empresa que utiliza trabalho escravo, por exemplo, o consumidor financia essa prática abominável. Por outro lado, se comprar alimentos orgânicos ou de comércio justo, contribuirá com setor da economia que não utiliza substâncias tóxicas em sua produção e que não agride o meio ambiente.

Aquela velha prática de “lavar as mãos”, de encontrar um culpado pelas mazelas do mundo, é inválida no consumo consciente. Se algo está errado, todos têm uma parcela de responsabilidade.

A escassez de recursos naturais, nesse sentido, não pode ser atribuída somente às empresas, pois foram os consumidores que financiaram sua exploração.

Por isso, é fundamental estar bem informado sobre os produtos e serviços que serão adquiridos ou contratados. O poder de transformação social está nas mãos dos consumidores, e cabe a eles escolher como fornecedoras empresas éticas, que respeitam os direitos humanos e os limites naturais do planeta. "

terça-feira, 14 de junho de 2011

"Tornados de Joplin e alterações climáticas ligados? Nunca!"

O vídeo seguinte é a narração e ilustração do artigo "A link between climate change and Joplin tornadoes? Never!" de Bill McKibben publicado no The Washington Post em 24 de Maio passado. Bill Mckibben (norte-americano fundador do movimento climático 350.org)  referiu-se à intensa e destruidora vaga recente de tornados nos Estados Unidos, mais propriamente em Joplin (onde mataram pelo menos 151 pessoas). Com ironia, chamou a atenção para a confortável recusa da ligação entre estes tornados, bem como outras catástrofes climáticas, com as emissões de CO2 e sua influência nas alterações climáticas.  O vídeo é de Stephen Thomson. O texto que se lhe segue, é a tradução livre, que me foi possível.



 «Atenção: É de importância vital não fazer conexões. Quando vê fotos de escombros, como as de Joplin, Missouri,  desta semana, você não se deve questionar: estará isto relacionado com os furacões, há três semanas em Tuscaloosa, Alabama, ou com o surto enorme de há umas semanas (que, em conjunto, fizeram o Abril mais activo em tornados da história dos EUA). Não, isso não significa nada.

É muito melhor pensar neles como casos isolados, imprevisíveis, acontecimentos discretos. Não é aconselhável tentar relacioná-los na sua mente  com os fogos a arder no Texas - incêndios que queimaram mais da América neste momento, este ano, do que quaisquer incêndios em anos anteriores. Texas, e as partes  adjacentes de Oklahoma e Novo México, são mais secos do que alguma vez foram - a seca é pior do que a do Dust Bowl. Mas não se pergunte se eles estão de alguma forma interligados.

Se quisesse saber, você também teria de se perguntar se os recordes de nevões e chuvas deste ano em todo o Centro-Oeste - que resultaram em inundações recorde ao longo do Mississipi - poderiam estar relacionados. E então seus pensamentos poderiam, errantes, chegar ao, oh, aquecimento global, e ao facto de que os climatologistas tinham previsto, durante anos, que, ao lançarmos tanto carbono para a atmosfera, estaríamos também, tanto a secar como a inundar o planeta, já que o ar quente retém mais vapor de água que o ar frio.

É muito mais inteligente repetir para si mesmo o mantra reconfortante de que nenhum evento climático por si pode ser directamente vinculado às alterações climáticas. Já houve tornados  e inundações antes - o que é muito importante.  Mas tenha cuidado para se assegurar de que não se interrogará  por que é que esses acontecimentos recorde estão a acontecer com tal frequência - isto é, porque houve mega-inundações sem precedentes na Austrália, Nova Zelândia e Paquistão no ano passado. Porque é que o Árctico derreteu agora, pela primeira vez em milhares de anos. Não, é melhor focar-se nas perdas imediatas, assistir às gravações das câmaras das lojas em que as prateleiras são derrubadas. Olhe para o pivot das  notícias em pé no rio à medida  que a água sobe até ao seu peito.

Se se interrogou o que significa a Amazónia ter atravessado dois anos de seca nos últimos cinco, ou porque é que as florestas de pinheiros na parte ocidental deste continente foram destruídas por um besouro na última década - bem, você pode ter que fazer outras perguntas. Tais como: Será que o Presidente Obama deveria abrir uma enorme faixa de Wyoming à mineração de carvão? Deveria a Secretária de Estado Hillary Clinton assinar uma permissão para um novo e enorme oleoduto para transportar petróleo extraído das areias betuminosas de Alberta? E aí, você terá também de se perguntar: será que temos um problema maior do que a gasolina a 4 dólares o galão?

É melhor juntar-se à Casa dos Representantes dos EUA, que, nesta Primavera, votou 240-184 para derrotar uma resolução dizendo simplesmente que "a mudança climática está ocorrendo, é causada largamente por actividades humanas, e apresenta sérios riscos para a saúde pública e o bem-estar." Proponha a sua física própria, ignore a física geral. Só não se comece a perguntar se pode haver alguma relação entre a colheita falhada de grãos no ano passado, com a onda de calor da Rússia, e a falhada  colheita de grãos em Queensland devida à inundação recorde, e com as actuais perdas de colheitas devidas à seca na França e Alemanha, e com a morte do trigo de inverno cultivado no Texas, e com a incapacidade dos agricultores do Centro-Oeste para obter milho nos seus campos encharcados. Certamente, o recorde de preços dos alimentos são apenas aberrações pontuais, e não sintomas de algo sistémico.

É muito importante manter a calma. Se você ficar perturbado com isto, você pode esquecer quão importante é não atrapalhar os lucros recordes das  nossas empresas de combustível fóssil. Se as coisas piorarem, é reconfortante lembrar que a Câmara de Comércio dos EUA disse à Agência de Protecção Ambiental, numa apresentação recente: que não há necessidade de preocupação, pois "as populações podem-se acostumar a climas mais quentes através de adaptações comportamentais, fisiológicos e tecnológicas." Eu estou quase certo que é o que os residentes de Joplin estão a dizer a si próprios hoje

domingo, 12 de junho de 2011

Corporocracia

Afinal, em que sistema "político" vivemos? Democracia? Será mesmo? Cá em Portugal, parece mais uma Partidocracia, como diz António Barreto. Mas na realidade, quem manda? O Povo? Os Partidos? Os Políticos? Julgo que nenhum deles. Na verdade, vivemos numa Corporocracia, pois são as grandes multinacionais (corporações), detentoras do poder económico e financeiro que têm decidido os destinos dos países e do mundo. Com direitos idênticos aos das pessoas humanas, não têm deveres porque ninguém dentro delas é responsável por nada. Querem fazer-nos viver na ilusão da facilidade e da comodidade, mas vão controlando e destruindo recursos naturais, comunidades, poluindo a natureza e brincando com a saúde humana. E quantas vezes com a capa de "beneméritas"!

Tal é o estado letárgico induzido pela ânsia de consumo, que a mente humana quase já nem sabe distinguir o bem do mal. Infiltradas nos partidos e dominando a comunicação social, as grandes multinacionais mandam em tudo sem que ninguém as tenha eleito. Ou será que votamos nelas cada vez que compramos os seus produtos?

No mês passado, apresentei aqui o documentário "A Corporação", que documenta bem a história e a actuação destes monstros ávidos por lucro. O vídeo que se segue, extraído do documentário de 2008 "Zeitgeist: Addendum" realizado por Peter Joseph (e que agradeço à Fada do Bosque), vai de encontro ao mesmo tema, envolvendo dois outros actores importantes: o Banco Mundial e o FMI. Para ver este documentário completo, aceda aqui.

No vídeo de Annie Leonard "A história dos cidadãos unidos versus corporações", um caminho de constestação a este estado de coisas é apontado. 

Veja, e pense nisso! É difícil reverter este estado? Claro que sim! Muito difícil! Mas por algum lado temos de começar. E o primeiro, é sair da letargia do Matrix e ficarmos conscientes da situação.


sábado, 11 de junho de 2011

Green Blogger Awards - Maio 2011

O blogue LXSustentável nomeou a mensagem deste blogue Car sharing ecológico para o Green Blogger Award de Maio 2011. É já a quarta vez que este o Sustentabilidade é acção foi nomeado para o prémio (as outras foram em Julho, em Setembro e em Março), tendo vencido o desafio em Setembro, com a mensagem  ODM – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, com os vossos votos.

Os meus agradecimentos à equipa de LXSustentavel  por continuarem esta iniciativa, e por terem nomeado o  Sustentabilidade é Acção.  Com já fiz das outras vezes, aqui deixo a referência a todos os nomeados de Maio 2011, que aconselho a visitarem e lerem:
  1. Feira de Bicicletas Maduras, Cenas a Pedal
  2. 195 – Ter uma horta… na varanda, 365 coisas que posso fazer…
  3. Documentário “As Lágrimas das Sereias: Oceanos de Plástico”, O Único Planeta que Temos
  4. Car sharing ecológico, Sustentabilidade é Acção
Os Green Blogger Awards são uma iniciativa do blogue LXSustentavel, com o objectivo de reconhecer, mensalmente, os melhores blogues portugueses que abordam a temática da sustentabilidade, pre-seleccionando até 5 posts que consideram ter contribuído para a discussão e consciencialização deste tema. Para votar,  basta comentar com o título do vosso post favorito aqui, até 21 de Junho.

      sexta-feira, 10 de junho de 2011

      E. Coli - uma história mal contada!

      O grande alarmismo dado pela comunicação social ao caso E.Coli na Alemanha, aliado à informação diariamente contraditória sobre a origem da contaminação e sobre a própria origem da bactéria, deixam-me muito desconfiada de mais uma manipulação de massas. Manipulação que resultou na redução drástica do consumo de legumes frescos, em avultados prejuízos de agricultores, e mesmo numa tentativa de descrédito da agricultura biológica.
      Para mim, esta "história" anda muito mal contada, e por isso, deixo aqui abaixo um artigo de Octávio Lima, do blogue Ondas3, bem como ligações para outras versões diferentes daquelas que nos impingem. Umas mais factuais, outras mais conspirativas, ainda outras mais relaxadas, mas vale a pena conhecer os outros lados da "história".

      "Foi você que falou em terrorismo alimentar?
      por OLima, no blogue Ondas3

      Depois da gripe das aves e da gripe A, outra paranóia acaba de ser lançada: a da E. coli. Com uma nuance: nesta não pareceu haver um fio condutor como nas outras. Pelo menos durante algum tempo. A confusão foi total, a dúvida permanente, o medo contínuo. Primeiro, a culpa era dos pepinos espanhóis, depois era de rebentos de soja alemães. Amanhã, de quem será? A secreta inglesa já veio dizer que há suspeitas da al-Qaeda poder desencadear ações terroristas através da contaminação da comida. Até que apareceu o gato escondido com rabo de fora: os canadianos já têm vacina para a E. coli. Chama-se Econiche, custa 10 dólares e é produzida pela Bioniche numa fábrica recentemente construída com 25 milhões de dólares do governo canadiano. Como vêm, uma grande treta. A E. coli é uma bactéria que se produz e propaga em grandes vacarias onde o gado, compactado como sardinhas, é alimentado a milho transgénico. Aliás, há muito tempo que a nossa comida anda muito esquisita. Convenhamos que já não é o que era. Anda envenenada, dizem alguns. Primeiro, agradeçam às toneladas de pesticidas aplicadas em tudo o que cresce na terra. Os seus efeitos na cadeia alimentar são tão poderosos que, por exemplo, resíduos de pesticidas aplicados em cultivos transgénicos já foram detetados mesmo em embriões humanos. Segundo, agradeçam ao fluoreto de sódio injetado na água da torneira. Como podem as autoridades sanitárias aprovar um produto conseguido durante o processo de produção de um fertilizante e que já foi usado como veneno e inseticida? Terceiro, agradeçam ao mercúrio usado durante muitos anos no tratamento de dentes, em vacinas, nas lâmpadas fluorescentes. Quarto, agradeçam às culturas transgénicas. Por exemplo, ratos alimentados a soja transgénica tornam-se estéreis na terceira geração. Para não falar na atrofia de fígado, em danos nos sistemas imunitários e no cancro intestinal. Quinto, agradeçam ao bisfenol-A, presente nas embalagens plásticas e em biberões, responsável por danos nos sistemas reprodutivo e imunitário e pela antecipação da puberdade. Sexto, agradeçam ao aspartamo, um aditivo utilizado para substituir o açúcar comum. Sendo tóxico, produz inúmeros problemas no organismo humano. Para não falar nos efeitos ambientais de desastres como o de Chernobyl, Fukushima, o Deepwater Horizon, ou o uso do urânio enriquecido. Baseado numa posta do Activist Post."

      quarta-feira, 8 de junho de 2011

      Florestas e Homens

      No Ano Internacional das Florestas, e ainda na semana que se segue ao Dia Mundial do Ambiente, este ano dedicado às Florestas, convido-vos a apreciar este belo filme Florestas e Homens, realizado por Yann Arthus-Bertrand (realizador do espectacular filme HOME) para as Nações Unidas.

      Será que a nossa espécie, que se julga a forma mais inteligente do planeta e arredores, e que como sabemos e ouvimos no filme, "destrói o essencial para produzir o supérfluo", não será antes o maior erro da natureza?
      Não serão as árvores os animais e todos os outros seres vivos mais inteligentes, já que não colocam a sua própria espécie em perigo de extinção? Não será a natureza no seu todo, a forma mais evoluída de inteligência?


      (Versão em inglês aqui, com narração de Edward Norton;  versão em francês aqui)

      domingo, 5 de junho de 2011

      Dia Mundial do Ambiente - Wangari Maathai


      Este ano, o Dia Mundial do Ambiente é dedicado à floresta. E por aqui apresento, a quem não conhece, Wangari Maathai, uma mulher cuja acção em defesa do ambiente já levou a que fossem plantadas mais de 45 milhões de árvores!

      Wangari Maathai nasceu no Quénia, em 1940, e doutorou-se na área da biologia. Activista política na defesa dos direitos humanos e do ambiente, fez parte do Conselho Nacional da Mulheres do Quénia entre 1976 e 1987.

      Em 1976, Wangari introduziu a ideia de melhorar a vida das mulheres e das comunidades melhorando o ambiente através da plantação de árvores.

      Esta iniciativa intensificou-se através do movimento que fundou, o Green Belt Movement, tendo já levado à plantação de mais de 45 milhões de árvores no Quénia, restabelecendo equilíbrios e ecossistemas e permitindo ganhar terreno à desertificação provocada pela desflorestação. A sua acção, para além de proteger a biodiversidade, replantar a floresta e combater a desertificação, contribuiu  para melhorar qualidade de vida das comunidades locais, criando empregos, sobretudo em áreas rurais, e promovendo o papel da mulher na sociedade.

      Em 2004, Wangari Maathai  ganhou o prémio Nobel da Paz pela sua contribuição para o desenvolvimento sustentável.



      Destaco a frase de Wangari Maathai:
      "É o povo que tem de salvar o ambiente, é o povo que tem de obrigar os seus líderes a mudar"


      sábado, 4 de junho de 2011

      Refexão na véspera do Dia Mundial do Ambiente

      Amanhã é o Dia Mundial do Ambiente e hoje é dia de reflexão em Portugal porque amanhã é dia de eleições legislativas. Aproveito para reflectir em questões ambientais mundiais, porque os problemas de Portugal não são apenas os derivados da incompetência que por cá impera, mas são também os resultantes da infinita estupidez humana que grassa por todo o globo. Vejamos, pois, alguns dos títulos e resumos de acontecimentos e notícias dos tempos mais recentes, no Ano Internacional da Floresta:

      "A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou ontem as estimativas de emissões de dióxido de carbono (CO2) em 2010, registando-se como as maiores da história." Em Portal Ambiente, 31-05-2011. Esta notícia põe em causa as estratégias de combate às alterações climáticas e denuncia quão insuficientes são os esforços para redução de emissões de gases com efeito de estufa!

      "SERIA CÔMICO, se não fosse trágico: em plena semana do meio ambiente, às vésperas do Dia Internacional em Defesa da Amazônia, o Ibama concedeu a Licença de Instalação (LI) para a construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte." Em Movimento Xingu Vivo Para Sempre, 02/06/2011.  E assim se destrói a vivência dos indígenas, da comunidade local, a floresta e toda a biodiversidade da região (antes) protegida da Volta Grande do Rio Xingu, na Amazónia!

      "Parque Escolar. Consumos energéticos triplicaram nas escolas requalificadas". Em ionline, 7/03/2011. Ou "Todas as escolas reabilitadas pela Parque Escolar mais do que triplicaram os consumos energéticos", no programa Biosfera(RTP2) de 27/04/2011 (ver resumo em Reflexões Planetárias). E assim o Estado Português dá o mau exemplo diminuindo drasticamente a eficiência energética dos edifícios escolares, quando se fala "no ar" de aumento da eficiência energética!

      "Desflorestação da Amazónia aumentou mais de 5 vezes em Março e Abril", em GreenSavers, 22/05/2011. Ou "CÓDIGO FLORESTAL: Avanço ou retrocesso. Ao mesmo tempo em que beneficia setor agrosilvopastoril, novo texto permite o desmatamento de área equivalente ao Estado do Paraná." Em CorreiodoNorteonline, 03/06/2011. Como 410 deputados brasileiros aprovaram alterações ao Código Florestal do Brasil, de modo a favorecer os grandes produtores agrícolas e a desflorestação, amnistiando aqueles que já abateram ilegalmente a floresta, e prejudicando populações locais, pequenos agricultores, a natureza, o ambiente e a floresta no Brasil. E assim se vai facilitando a destruição de biomas essenciais ao equilíbrio do mundo, como são o caso da Amazónia e da Mata Atlântica!

      "Quando o homem morre pela floresta. Hoje, dia em que seria votada a alteração do Código Florestal, um de nossos palestrantes, Zé Claudio Ribeiro, foi assassinado junto com sua esposa, Maria do Espirito Santo, quando voltava para casa, no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna, no sul do Pará." Em TEDxAmazónia, 24/05/2011. Não tenho palavras para comentar este acto bárbaro! Digo apenas que Zé Claudio defendia a floresta e sabia que estava ameaçado de morte pelos que a destroem.

      "Barragem do Tua: uma pedra sobre 'defunto' e um 'insulto'. A associação ambientalista Quercus considerou hoje que o início da construção da barragem de Foz Tua «simboliza» a «morte» da linha do Tua e de «todas as potencialidades do vale do rio Tua». No jornal Sol, 18/02/2011.  Mais um caso, em Portugal, em que se atenta contra o património natural e cultural e contra as comunidades locais, a favor de uma empresa detentora de um monopólio e de lucros imorais.

      Poderia continuar indefinidamente... mas tal não cabe numa mensagem de blogue. 

      Uma conclusão óbvia se pode tirar desta amostra do rol de tragédias relacionadas com o ambiente, que afectam comunidades directamente e afectarão indirectamente muitos mais no futuro, se não toda a humanidade, nalguns dos casos: Não se olha a causas, a consequências ou a meios, quando o fim é o chamado "crescimento económico", nem que na realidade apenas seja o enriquecimento de alguns. O capitalismo no seu pior!

      quinta-feira, 2 de junho de 2011

      Limpar a espuma para ver o caminho

      Fotografia de Claudia Rogge
      Enquanto uma parte da população já percebeu que vivemos no tempo de acabar com o sistema político dominado pelos detentores do poder económico e financeiro (gatarrões), uma outra (muito grande) parte continua cheia da espuma injectada pela comunicação social de massas, que, tal como os agentes e instituições ligados ao poder político, tomam como adquirido o discurso fatalista de que não há outro remédio senão continuar no mesmo sistema, escolhendo os gatos que hão-de governar os ratos para seu (deles, gatarrões e gatos) proveito.

      Temo que ainda não tenha chegado a verdadeira hora de mudança, porque são muitos os que ainda estão mergulhados nessa espuma de vassalagem aos grandes gatarrões. No entanto, acho que já está mais que no momento de começar a acabar com este jogo de cifrões, gatarrões e gatos, e passarmos a dar prioridade ao que realmente importa: mudar esta democracia de fachada para uma democracia real. O caminho ainda não é claro e não vai ser fácil, mas, mais dia menos dia, teremos de fazer esse percurso. Quanto mais tarde, mais difícil será.

      Para reflexão, sugiro mais uma vez esta animação da fábula popularizada por Tommy Douglas, Mouseland, bem como o texto do sociólogo Boaventura de Sousa Santos  sobre os acampados, e o seu discurso na acampada de Lisboa, no passado dia 23 de Maio, que ficam já aqui a seguir:



      A pensar nas eleições
      Artigo de Boaventura de Sousa Santos, em Carta Maior

      «Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.

      Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores.

      Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.

      Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a
      agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa.

      Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático.

      A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.

      A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?»