sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Barragem do Tua - Comunicado da Quercus

Imagem de Clube dos Pensadores
Arranca hoje a construção da Barragem Foz Tua com o lançamento da primeira pedra. Uma pedra no sapato.


"Início da Construção Barragem da Foz do Tua 
 Fortes Impactos para Curtos Benefícios

A primeira pedra da barragem da Foz do Tua simboliza a pedra que se quer colocar em cima de um defunto aquando do seu enterro. Simboliza o desejo pela morte do Turismo do Tua, da biodiversidade do Vale, do Desenvolvimento Sustentável, do Património Humano, Cultural e Arquitectónico e da Linha do Tua com mais de 123 anos de História. Demonstra ainda o desrespeito pelo passado e o “não querer saber” do futuro. O desrespeito pela identidade da região.

A Quercus lembra que a futura barragem, a ser construída, produzirá o equivalente a 0,07% da energia eléctrica consumida em Portugal em 2006 (Dados da Rede Eléctrica Nacional).

Esta barragem afectará de modo irremediável o Património Natural do Vale do Tua, um dos mais bem conservados de Portugal. Afectará também de forma irreversível a paisagem Património Mundial do Douro Vinhateiro.

A construção desta barragem:
- viola a Directiva Quadro da Água, por destruição da qualidade da água
- acaba com a linha do Tua e com a acessibilidade ferroviária ao nordeste
- irá afectar muito negativamente os últimos dois pilares de desenvolvimento da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro: a Agricultura e o Turismo. Recorde-se que estas duas actividades não são deslocalizáveis e de alto valor acrescentado.

Se barragens fossem sinónimo de riqueza e emprego, esta região seria uma das mais ricas e teria taxas de desemprego mais baixas da Europa. Contudo, tal não se verifica, bem pelo contrário.

A região de Trás-os-Montes e Alto Douro está a ficar cada mais pobre e despovoada, sendo que a concretização deste empreendimento só irá agravar a situação.

A estimativa do custo do Plano Nacional de Barragens é de 7.000 milhões de euros a ser pagos pelos consumidores - em vez de um investimento em alternativas energéticas que custariam somente 360 milhões de euros para obter os mesmos benefícios em termos de protecção da clima e de independência energética [1].

Vila Real, 18 de Fevereiro de 2011,  O Núcleo Regional de Vila Real da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza
______
[1] - As novas grandes barragens requerem um investimento de 3600 M€, implicando custos futuros com horizontes de concessão até 75 (setenta e cinco) anos. Somando ao investimento inicial os encargos financeiros, manutenção e lucro das empresas eléctricas, dentro de três quartos de século as nove barragens terão custado aos consumidores e contribuintes portugueses não menos de 7000 M€ – mais um encargo brutal em cima dos que já se anunciam por força da crise e em cima dos custos de deficit tarifário eléctrico que neste momento atinge cerca de 1800 M€.
A mesma quantidade de electricidade que as barragens viriam a gerar pode ser poupada com medidas de uso eficiente da energia, na indústria e nos edifícios, com investimentos 10 (dez) vezes mais baixos, na casa dos 360 M€, com períodos de retorno até três anos, portanto economicamente positivas para as famílias e as empresas. Estas estimativas foram feitas por :
- Madeira A, Melo JJ (2003). Caracterização do potencial de conservação de energia eléctrica em Portugal. VII Congresso Nacional de Engenharia do Ambiente. APEA, Lisboa, 6-7 Novembro 2003
- Melo JJ, Rodrigues AC (2010). O PNBEPH numa perspectiva de avaliação estratégica, política energética e gestão da água. 4ª Conferência Nacional de Avaliação de Impactes (CNAI´10). APAI/UTAD, Vila Real, 20-22 Outubro 2010
."

12 comentários:

  1. "A região de Trás-os-Montes e Alto Douro está a ficar cada mais pobre e despovoada, sendo que a concretização deste empreendimento só irá agravar a situação." O Objectivo é mesmo este...

    De resto mais ilegalidade menos ilegalidade o objectivo do SUPERIOR INTERESSE NACIONAL DOS PRIVADOS, a isto obriga, e se há coisa em que os governos são peritos é em não cumprir a legislação que é do interesse do cidadão/país.

    Quanto à região em si, por certo que aqueles que lá vivem devem estar felizes da vida pois vão arranjar emprego na construção civil, ou talvez não! O mais provável é mesmo talvez não...

    Termino com duas sugestões:
    este pequeno vídeo

    e com esta imagem... pois parece que só com um Planeta assim seremos realmente felizes...

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  2. Amiga Manuela!

    Inacreditável!

    Como sabe estive ligada quase toda a minha vida, profissionalmente, ao Douro vinhateiro, a toda a região duriense, ao vinho generoso ...
    Sou do tempo do Douro sem barragens.
    Vivi em Vila Nova de Gaia desde que me lembro de mim e acabei por aí trabalhar até vir para Cerveira.
    Infelizmente nunca consegui ir de comboio para além do Pocinho, mas conheço toda a região até Barca D'Alva e Freixo de Espada à Cinta.

    Não concebo a ideia da destruição da natureza e riqueza única desta região a favor de mais uma barragem que só vem encher os bolsos de alguns poderosos e corruptos.

    Não acaba mais o desrespeito pelos verdadeiros valores que deviam nortear este país enquanto lá estiverem estes canalhas.

    Que fazer????????

    Beijo

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  3. Mas porque será que temos que continuar a engolir TODA a destruição deste país/planeta calados e só a dizer que é uma pena?
    Ainda vêm mais barragens! Vamos continuar calados??? O ditado é correcto: "Quem cala, consente"
    Já aqui disse, e até há muitas pessoas cientes e sensíveis a todos estes problemas, porque é que esta gente não barafusta enviando emails e cartas para os responsáveis, para os partidos, etc, Para os amigos tb, a falar disto, por exemplo.
    Estas são decisões tão mentecaptas, como se comprovam totalmente.
    Desculpem-me, mas sou eu que estou maluca?
    E agora, já nem se dão ao trabalho de nos mentirem melhor?
    Já repararam que de facto, gasta-se tanta energia para nada? Já reparam no desperdício de energia que existe á nossa volta? A começar maioritariamente fora das nossas casas?

    Desculpem-me, mas é o mínimo que podemos fazer.

    Não aguento ser mais tratada como incapacitada mental, actualmente é como nos tratam.

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  4. Manuela, desde ontem que ando com um nó na garganta com esta questão da barragem do Tua.
    ISto não pode ser, não se pode permitir de forma alguma que um indivíduo sem escrupulos como é o nosso 1º ministro actue de forma tão criminosa sobre o mais elementar bem que qualquer país possui, que é o seu meio ambiente, a sua natureza.
    Que se cometam erros de gestão financeira já é mau, e infelizmente estamos muito habituados a isso, mas permitirmos que se cometam crimes ambientais desta dimensão é que não podemos permitir seja de que maneira for.
    Há que criar comissões, agrupamentos, eu sei lá o que mais, que lutem pela defesa da biodiversidade e do património natural desse magnifico vale do Tua.
    Eles podem lá ter posto a 1ª pedra, mas não podemos permitir é que lá metam a 2ª.
    A Quercus, conjuntamente com outros grupos, ou até individualidades com peso não conseguem pela via legal travar o avanço desta megalómania do nosso Governo ?
    Há de haver forma de fazer pelo menos atrasar o arranque das obras e com isso ganhar tempo para montar uma defesa adequada que evite este crime hedindo.

    As pessoas e associações ambientais, em particular as daí da zona devem organizar-se em manifestações altamente ruidosas, e promoverem vigilias que impeçam que as máquinas avancem e destruam mais um importante pedaço da nossa natureza.

    Isto não pode ficar ao sabor dos carpichos dum abjecto teimoso como é este ridiculo 1º Ministro.
    Não pode ser, simplesmente não pode ser.
    Isto são atitudes e tomadas de posição verdadeiramente ditaturiais e nos tempos que correm não podemos permiti-lo.

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  5. E. GaSPaS, Voz, Ná, Ana Teresa e Eduardo

    Obrigada pelos vossos comentários, mas eu nem tenho palavras para vos responder, a não ser que se este regime é democracia, eu não quero democracia. Acho que está a ficar mais que provado que a democracia partidária mais não é que uma ditadura dos interesses económicos que actua através dos partidos. Mas não sei como está (quase) toda a gente acomodada a isto...

    Como complemento, deixo o artigo de Daniel Conde, publicados no Clube dos Pensadores, donde retirei a imagem do "post":

    Há algo de podre no vale do Tua

    Bom fim de semana

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  6. Minha Boa Amiga,
    Tive a Felicidade de ter feito o passeio turistico pela linha do Tua que adorei! Agora dizendo-se que é em prol do progresso querem acabar com ele... Quando é que o Bom-Senso volta a Portugal? Quando?
    Parece que não há resposta para isso...
    Que pena!
    Um beijinho amigo e solidário.

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  7. Infelizmente não é só o 1ª ministro, que actua de forma criminosa e desonesta...ele não consegue isto sozinho, conta com muita gente ao seu lado.
    Quem pratica má gestão financeira e ainda por cima, tem essa consciência, como é mais do evidente, de certeza que tb não tem escrúpulos para o resto.
    Está tudo interligado.
    É uma questão de princípios. E a classe política no geral e os governantes, continuam a querer uma única coisa: ir mantendo a engrenagem económica a rodar, mesmo que isso exija (indecentemente) cada vez mais de tudo e de todos. E esta é a única maneira de fazer rodar a engrenagem deste sistema falido.
    E este sistema está falido porque não traz, nem vai trazer benefícios á maioria da população mundial,nem ao planeta e restantes espécies.
    Infelizmente, a maioria da população, o que pode esperar, será o facto de lhe irem tirando cada vez mais direitos a uma vida minimamente equilibrada, gerando um desequilíbrio social, enquanto outros, uma minoria, vive de excessos e desperdício.
    "As 3 pessoas mais ricas do mundo, possuem mais riqueza do que 42 países, onde habitam 600 milhões de pessoas."
    Leonardo Boff
    Cabe á MAIORIA mudar(mos) isto.

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  8. Manuela, gostei do texto. Infelizmente é uma forma de energia barata e por isso preferem provocar a destruição de fauna e flora, sem pensar a longo prazo no que isso acarretará e agindo de forma imediatista. Ainda destroem o patrimônio cultural de uma região ao expropriarem terras e expulsarem famílias que, em alguns casos, vivem nessas terras há várias e várias gerações. Se em Portugal está assim, no Brasil a história não é diferente. Na verdade, seguem caminhos paralelos, bem semelhantes.

    Segue o endereço de de uma barragem no Estado de Goiás, Brasil: http://shalomrevolution.blogspot.com/2010/02/barragens-um-desastre-ecologico-social.html

    Abraços...
    Fique com Deus!!!

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  9. Luís

    Teve sorte, com o passeio na linha do Tua, eu nunca o cheguei a fazer, ia adiando, e agora, nada!

    Bom senso? Em Portugal? Eu acho que isso está em extinção, não só em Portugal como no mundo, pelo menos nos habitats políticos!

    Um abraço e uma boa semana

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  10. Ana
    Agora disse tudo: ESTE SISTEMA ESTÁ FALIDO e quer-nos levar a todos à falência!Gosto muito de ler o que diz Boff, de vez em quando lá vem parar aqui um texto dele. Tenho um em espera há uns tempos.

    Vamos lá mudar(mos) isto!

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  11. Murah Rannier

    Em Portugal está assim e está mal, mas infelizmente no Brasil a questão das barragens toma proporções catastróficas! Não chega a desflorestação que por lá vai, ainda querem destruir mais natureza, biodiversidade e prejudicar as populações com as barragens - e é destruição em massa. Quando sol e vento não faltam!

    Obrigada pela visita

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