domingo, 30 de maio de 2010

É muito tarde para ser pessimista

Yann Arthus-Bertrand, realizador do belíssimo filme HOME - O Mundo é a nossa casa que estreou mundialmente nas nossas casas há cerca de um ano, tinha dado uns meses antes, uma conferência no grupo TED, que fica aqui abaixo registada (tem legendas em várias línguas, é só escolher).



Se ainda não viu o filme HOME, não perca, pode ver aqui, narrado em português. Meditem numa das frases finais de Yann Arthus-Bertrand, que me parece muito acertada:

"É muito tarde para ser pessimista"

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O preço do coltan

O coltan é a abreviatura de um minério composto por Columbita (COL) e Tantalita (TAN),. É usado em aparelhos electrónicos, como telemóveis e computadores portáteis, e é conhecido como o "ouro azul" pela elevada procura que tem tido devido às suas propriedades físico-químicas, eléctricas e térmicas. Cerca de 64% das reservas mundiais de coltan estão na República Democrática do Congo (antigo Congo Belga).
A cobiça de alguns domina um país pobre, e o negócio do coltan tem servido para alimentar guerras entre grupos armados pela posse das minas, para explorar os trabalhadores que extraem o minério em condições primitivas e perigosíssimas, quase escravidão, e como mote para assassinatos e para as atrocidades mais inimagináveis.

Na reportagem que passou no canal Odisseia no passado dia 5, dá-se conta de um negócio sangrento em que o minério é pago a um preço ridículo aos que o extraem, é vendido pelos intermediários, a preços bem mais elevados, a comerciantes muitas vezes obscuros, que por sua vez os vendem aos fabricantes de aparelhos electrónicos. Muitos destes comerciantes são empresários belgas que vendem para a China aos que fabricam aparelhos para empresas como a Nokia e a Motorola, entre outras.

Veja abaixo o programa Falar Global sobre o assunto, com entrevista ao Dr. Fernando Nobre, em Fevereiro de 2009. Pode saber mais sobre este assunto na página de Friends of the Congo (inglês), no blogue ecopypaste (português), ou no relatório da Global Witness (francês e inglês).

Lembre-se que o custo do seu telemóvel ou do seu computador provavelmente é muitíssimo superior ao que pagou por eles, pois custaram vidas, torturas e escravidão. Por isso, tente usá-los durante a sua vida útil não comprando já um novo só porque é moda ou tem umas funcionalidades extra de que na realidade não precisa. Até porque o lixo electrónico produzido tem outros custos muito elevados.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Maior do que se pensa, a catástrofe ecológica no Golfo do México

Desde o dia 20 de Abril que centenas de milhares de litros de petróleo continuam a ser derramados por dia para o oceano numa plataforma da BP no Golfo do México. Aliás, aquilo que antes se pensava ser 1000 a 5000 barris por dia já vai em 25000 barris por dia, (Fonte: Naturlink) o que corresponde, afinal, a cerca de 4 milhões de litros de petróleo por dia (1 barril = 159 l). Ou seja, assim por defeito, são pelo menos 140 milhões de litros de petróleo já derramados.
O crude já chegou à costa da Louisiana, e a maré negra prepara-se para se dirigir para o Oceano Atlântico. Uma tragédia inadmissível, uma catástrofe ambiental sem precedentes, com estragos incalculáveis.

O problema tem sido muito mais grave do que o que transparece para a comunicação social. Como se fosse insuficiente a gravidade da situação, conforme se vê no segundo vídeo abaixo, a BP tem estado a tentar "disfarçar" o problema usando agentes dispersantes, que tornam o oceano uma suspensão de petróleo e agravam ainda mais a situação para a vida marinha!

Aparentemente a BP conseguiu hoje estancar o fuga (Fonte: Jornal de Notícias), mas mesmo que isso seja verdade, ainda estão muito longe de resolver o problema. Aliás, uma grande parte não será resolvida: as vidas e os equilíbrios que se perderam .



quarta-feira, 26 de maio de 2010

Diga ao Pingo Doce para pescar de forma sustentável

"Pingo Doce esgota os oceanos de Janeiro a Janeiro

Os supermercados Pingo Doce e Feira Nova continuam em último lugar no Ranking de Supermercados da Greenpeace que avalia as políticas de compra de peixe dos principais retalhistas em Portugal. O grupo Jerónimo Martins continua a pactuar com a destruição desenfreada dos oceanos. É urgente proteger um dos recursos mais preciosos e ameaçados do planeta: o peixe!

Diga aos supermercados Pingo Doce e Feira Nova que devem assumir a sua responsabilidade na preservação dos oceanos e reservas de peixe, desenvolvendo e publicando uma política de pescado responsável, seguindo os passos de outras cadeias de distribuição mais progressistas em Portugal. " ((Fonte: Greenpeace Portugal)

Veja no site da Greenpeace Portugal como fazer e entre em acção.


domingo, 23 de maio de 2010

Estado do Clima Global

A seguir fica uma tradução livre das conclusões das análises do estado do clima para o último ano e para o último mês, efectuadas pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration - National Climat Data Centre - U.S. Department of Commerce), que tem apresentado relatórios desde 1998, Ver relatórios na fonte clicando nos respectivos links (títulos).


Análise Global do Estado do Clima


"Ano de 2009:

  • As temperaturas anuais de superfície globais combinadas terra/oceano colocam 2009, em conjunto com 2006, como o quinto ano mais quente registado, superiores em 0,56°C acima da média do século 20.
  • A década de 2000-2009 foi a mais quente registada, com uma temperatura média da superfície global de 0,54°C acima da média do século 20, tendo superado o valor da década de 1990 em 0,36°C.
  • As temperaturas da superfície do oceano, colocam 2009, empatado com 2002 e 2004, como o quarto ano mais quente já registado, com 0,48°C acima da média do século 20.
  • Quanto às temperaturas de superfície terrestres, 2009, em conjunto com 2003, foi o sétimo ano mais quente já registado, com 0,77°C acima da média do século 20."

"Mês de Abril de 2009

  • As temperaturas médias de superfície, globais combinadas terra/oceano foram, em Abril de 2010 as mais quente já registadas, de 14,5°C, o que corresponde a 0,76°C acima da média do século 20, que foi de 13,7°C. Este foi também o 34º Abril consecutivo com temperaturas globais terra/oceano acima da média do século 20.
  • A temperatura global da superfície do oceano foi de 0,57°C acima da média do século 20, que foi de 16,0°C, tendo sido o Abril mais quente já registado. O calor foi mais pronunciado nas partes equatoriais dos maiores oceanos, especialmente no Atlântico.
  • A temperatura de superfície global terrestre foi em Abril superior em 1,29°C à média do século 20, que foi de 8,1°C, e a terceira mais quente já registada.
  • Para o ano 2010, e até à data, a temperatura de superfície global combinada terra/oceano foi de 13,3°C, tendo sido foi a mais elevada no período Janeiro-Abril. Esse valor é 0,69°C acima da média do século 20."

Há quem não "acredite" que o aquecimento global existe. Também há quem, convenientemente, não "acredite" que a acção do Homem possa contribuir para o aquecimento global. E há quem precise de ir ao Árctico para "acreditar".



sexta-feira, 21 de maio de 2010

A nossa família é a biodiversidade

Este é Ano Internacional da Biodiversidade, e 22 de Maio é o Dia Mundial da Biodiversidade. Para assinalar esta data, e porque esta comunidade de vida a que pertencemos é um todo e é a nossa família, deixo aqui um belíssimo vídeo com um lindo texto para que deliciemos os nossos olhos enquanto reflectimos nas nossas prioridades. Apreciem estes 10 minutos.

De acordo com informações obtidas no Youtube, no vídeo (montado por Anders Fredblad) é narrada uma profecia de nativos norte-americanos (por Red Crow Westerman e Oren Lyons), as imagens são extraídas da séria da BBC "Planet Earth" (produzida por Alastair Fothergill), e a música é da banda sonora do filme "O amor é contagioso". Está legendado em português (e inglês), para ver com legendas em espanhol clicar aqui.



Aproveito para avisar que no canal Odisseia o Dia Mundial da Biodiversidade é assinalado com o segundo episódio de uma série de três, da "Expedição Guiana" (Sábado às 16h00, Domingo às 9h00 e às 13h00.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Presente da Monsanto para o Haiti - só pode ser "envenenado"!

Será que a corporação gigante Monsanto, aquela que dizima a biodiversidade, aquela que patenteia sementes da natureza para que quem as usar lhe pague "direitos", aquela que também quer patentear porcos, aquela que leva à falência e ao desespero agricultores americanos, (e não só) aquela que nos impõe os transgénicos e os potentes pesticidas associados, aquela que foi considerada a empresa menos ética do mundo, de entre as grandes, será que quer praticar uma boa acção para com os haitianos, será quer limpar o seu já tão sujo nome, ou será que quer ver os seus lucros aumentados num futuro próximo à custa dos haitianos?

Para que analisem, deixo dois textos, o primeiro, da Plataforma Transgénicos Fora, e o segundo, que me chegou por e-mail através da lista OGM. Pelo menos, não são sementes transgénicas nem geneticamente modificadas, mas são híbridas, e não sei se a ciência mudou, mas quando andei na escola aprendi que os organismos híbridos não se reproduzem. Aqui vão os textos:

"Monsanto no Haiti - Como aproveitar-se da miséria dos outros

Maio de 2010 - Segundo relatos vindos a público, a Monsanto começou a distribuir sementes gratuitas no Haiti na sequência do enorme desastre que assolou o país. A ideia é boa, claro. Mas até as boas ideias podem ser desvirtuadas. Estas sementes vão vincular os pequenos produtores haitianos a um regime de compra anual de sementes/consumo de químicos e fertilizantes que vai beneficiar a Monsanto, e não a eles. Com esta viragem desaparecerão as sementes que sempre foram usadas na região. Sugerimos por isso à Monsanto que, se quer mesmo ajudar o Haiti, distribua sementes livres, rústicas, não híbridas, tradicionais e que não precisem de grandes inputs em fertilizantes, irrigação ou controle de pragas. Vale a pena sonhar!

Pode ver várias notícias que referem este caso:
A New Earthquake Hits Haiti
Haitian Farmers Commit to Burning Monsanto Hybrid Seeds
Five Questions Monsanto Needs to Answer about its Seed Donation to Haiti".
(fonte: Plataforma Transgénicos Fora)


"É também interessante ler o blog da Monsanto e comentar, sobre o tema: http://www.monsantoblog.com/2010/05/13/monsanto-donates-seed-to-haiti/. As sementes doadas não são GM, mas sim híbridas. De qualquer forma é todo um modelo agrícola que está a ser exportado para o país, colocando em causa a sua soberania e segurança alimentar. Revolução Verde, monocultivo, híbridos de "alta produtividade" mas baixa resiliência, o que torna os agricultores dependentes de:
- agroquímicos (fertilizantes, pesticidas, fungicidas)
- aquisição anual de sementes à empresa (com vista a manter a produtividade e rendimentos no novo modelo de produção).
E, naturalmente, os OGM aparecem associados a este modelo de produção, embora não tenham necessariamente que fazer parte da equação."
(fonte: e-mail de Gualter Barbas Baptista - lista OGM)

Entretanto, os agricultores haitianos não estão a dormir, estão a reagir!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Alimentos S.A. - Food Inc.

Com os agradecimentos à Ecila do blogue "Alice in my head", aqui fica o documentário Food Inc. (Alimentos S.A.). Não perca este filme, nomeado para o Óscar de Melhor Documentário, que nos mostra a realidade sobre aquilo que comemos. Passa-se nos Estados Unidos, mas não será muito diferente no Brasil e na Europa, especialmente se não estivermos informados e atentos!

Enquanto a indústria agrícola americana é subsidiada para comercializar milho abaixo do custo de produção, os agricultores do México e dos países pobres do mundo morrem de fome porque não conseguem competir! Os agricultores americanos deixaram de ter poder de escolha, endividados até às orelhas e encurralados pela actuação da Monsanto, Tysen e outras gigantes químico/alimentares. Os trabalhadores são explorados e usados de formas inadmissíveis, para mais em países dito "civilizados". Os animais são tratados sem o mínimo de dignidade numa uma vida curta e dolorosa. Os ecossistemas são dizimados pela monocultura e pelos transgénicos. Crianças e adultos perecem com a saúde e a vida perante tanta falta de ética e respeito pela saúde dos consumidores.

Tanta injustiça contida em cada pedaço desta comida que nos impingem! Votemos por uma agricultura e pecuária mais sã e justa cada vez que compramos alimentos! Veja as dicas na parte final do filme ou aqui. E leia o texto de Margarida Silva.

domingo, 16 de maio de 2010

O Homem e a Terra - Conferência


Recebi o seguinte e-mail do Professor Valdemar J. Rodrigues (autor do livro "Desenvolvimento Sustentável - uma introdução crítica", que se encontra recomendado ali na barra lateral esquerda, e do qual já publiquei aqui vários extractos):

"É com prazer que pessoalmente a convido, mais aos seus amigos e leitores atentos, para participarem na conferência "O Homem e a Terra" que vai ter lugar em Lisboa, no Auditório Agostinho da Silva da Universidade Lusófona, no próximo dia 25 de Maio a partir das 10:30. Deixo uma ligação para o programa/cartas desta conferência inaugural subordinada ao tema "Biodiversidade, Alterações Climáticas e Conservação da Natureza". Para assegurar a reserva de lugares, pedia-lhe apenas que indicasse o número de eventuais participantes à Engª Susana Morgado do secretariado do evento (sec.ambiente@ulusofona.pt) indicando-lhe este meu convite pessoal. Ligação:http://loc.ulusofona.pt/index.php/event-list/details/176-o-homem-e-a-terra-alteracoes-globais-biodiversidade-e-conservacao-da-natureza. Com as minhas melhores saudações,Valdemar J. Rodrigues"

Não sei ainda se poderei ir, devido ao meu trabalho e porque a distância é grande, mas farei os possíveis por lá estar. Quem estiver perto de Lisboa e/ou tenha disponibilidade, não deixe de ir. O professor Valdemar J. Rodrigues será o moderador do Painel I - "Culturas Humanas, Biodiversidade e Sustentabilidade: Visualizando uma Sociedade Global Sustentável no século XXI". Clique na imagem para ampliar e ver o programa.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Economia de crise ou economia sustentável?

E porque é mais que óbvio que estamos em crise económica, mais uma vez me socorro de um extracto do livro abaixo identificado, de Valdemar Rodrigues, para reflexão da necessidade de transição para uma economia sustentável. O extracto fala de economia em crise. A mim, parece-me que também se fala de economia sustentável. Porque a "crise" que temos na economia, desenganem-se, não é passageira. Ela veio para ficar e para se agravar, porque a nossa economia é insustentável. E não falo de Portugal, falo do mundo. A dependência extrema do petróleo, cujo pico foi ou está quase a se atingido, e que cada vez será mais caro, o excessivo consumo dos recursos do planeta, a poluição que produzimos e as desigualdades que supostamente deveriam estar mais atenuadas neste século, mas que se agravaram, são razões mais que suficientes para uma crise geral. E são as comunidades locais que têm de perceber que precisam de se preparar para a transição, tornando-se resilientes e resistentes à crise vindoura preparar, para evitarem o colapso.

"(...)
Se houver uma crise económica e colapsar o abastecimento de electricidade, a conservação de produtos alimentares como a carne ou o peixe ainda continua a ser possível, através, por exemplo, da salga ou da secagem. Não é certamente por acaso que as sociedades ainda guardam a memória dessas tecnologias primitivas: é o seu instinto natural de sobrevivência a funcionar, sussurrando ao íntimo de cada um dos seus membros que o progresso cultural e científico nunca foi na história um dado completamente adquirido. E não foi, de facto, como bem sabem os antropólogos e os historiadores.
A história é profícua em casos de sociedades cultural e tecnologicamente ricas a que se seguiram sociedades cultural e cientificamente pobres, apagadas ou mesmo mortas.
(…)

A perspectiva crente na irreversibilidade do progresso tende a minimizar a importância de costumes e saberes ancestrais (ou ultrapassados) que um dia foram úteis ao homem e que lhe permitiram em muitos casos sobreviver economicamente. Tal perspectiva tende a orientar a educação essencialmente para o novo e para o futuro plausível, sem cuidar suficientemente do estudo dos factores que fizeram com que uma dada disciplina científica progredisse até um determinado estádio. Uma educação que ufanamente descura o passado, em benefício de um saber apenas presente, tantas vezes precário e incerto, inclinado para um futuro onde a surpresa não se consente. Predomina hoje, por assim dizer, uma a-historicidade pedagógica, decerto agravada pelo sentimento de compressão espaço-temporal e pela percepção da extrema aceleração das transformações que varrem o mundo.
(…)

O sucesso da recuperação económica da Argentina no período pós-2001 desafiou o conhecimento económico convencional (leia-se: o conhecimento iluminado por um tipo particular de teorias económicas) e surpreendeu a resposta do Estado nacional enquanto sociedade política cooperante e capaz de auto-organização. Na Argentina, a superação foi possível graças a expedientes há muito considerados arcaicos, tais como sistemas de troca directa, que se revelaram vitais para a sobrevivência de muitos milhares de famílias. O mesmo havia sucedido na Bulgária, com as batatas a transformarem-se por volta de 1997 em moeda de troca em várias regiões do país. O sistema baseado nas trocas directas de produtos e serviços já tinha sido criticado por Adam Smith que o considerava primitivo, um sistema não refinado que tenderia a desaparecer com a modernização das economias. Porém, tal não sucedeu, mantendo-se até aos nossos dias e estendendo a sua acção inclusive ao comércio internacional.

As moedas locais são outro dos arcaísmos que teimam em permanecer e cuja utilidade económica adquire grande relevo em tempos de crise. Isso aconteceu, por exemplo, na pequena cidade austríaca de Wörgl entre Julho de 1932 e Novembro de 1933 em pleno período da Grande Depressão, permitindo pôr em prática as ideias de Sílvio Gessel. Enquanto a depressão económica deixava marcas profundas por toda a Europa, a pequena cidade via aumentar o seu produto interno e as taxas de emprego, protegendo-se assim dos efeitos da recessão económica. Por muito que isso custe aos cultores do liberalismo económico, é da própria ideia de Estado soberano que advém o proteccionismo económico, hoje tido por coisa abominável pelas instâncias internacionais liberalizadoras (OMC, FMI, Banco Mundial, etc.).

Os sistemas locais de trocas têm vindo a ser explorados desde as primeiras décadas do século XX, inclusive por empresas que se especializaram na sua implementação, existindo provavelmente em 2008 mais de um milhar de sistemas em funcionamento em todo o mundo desenvolvido, porém de forma limitada e na sua maioria em paralelo com os sistemas oficiais baseados nas moedas nacionais ou regionais.
(...)"

Valdemar J. Rodrigues, em "Desenvolvimento Sustentável - uma introdução crítica", Parte I - Escolas e correntes de pensamento da questão ambiental- As escolas das ciências sociais e o ambiente - Desafios para a ciência económica, Editora Principia, 2009 (itálicos do autor, negrito meu, imagem da net)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Comer com gosto - Carta ao Ministro da Agricultura

Recebi um texto de Margarida Silva por e-mail. Acho que merece ser divulgado, por isso, aqui fica (imagem da net):

"COMER COM GOSTO

Deve haver poucas pessoas que não gostem de comer, e eu não sou uma delas. Gosto de experimentar receitas das sobremesas mais exóticas, amassar pão à procura do mais genuíno sabor, ficar-me esquecida nas livrarias a apreciar livros de cozinha recheados de resultados impossíveis de obter em casa. Mas não sou de olhar só para o resultado: os meus ingredientes escolho-os com cuidado e atenção porque é a minha família, a saúde e boa disposição de todos, que está em causa. E, neste capítulo, sou muito tradicional: procuro o melhor, sem compromisso. Por exemplo, se olho para a lista de ingredientes de uma embalagem de comida e vejo números além dos nomes... é porque foi feito no laboratório e não no campo. E o que sai do laboratório, pela minha lógica, não pode ser comida.

Mas me
smo eliminando o que inclui números ainda sobra muita coisa que não entra no meu carrinho de compras. Por exemplo, não aprovo ingredientes que, há cem anos apenas, ninguém usaria na cozinha, mesmo se começarem pela palavra Vitamina, ou jurarem que fazem bem aos intestinos. E depois ainda há aquelas comidas que se querem fazer passar por outras - chamo-lhes os travestis. Margarina e bolachas com "sabor" a chocolate são bons exemplos, mas os adoçantes que querem fazer de conta que são açúcar para poupar nas calorias são talvez daqueles a quem mais cuidadosamente barro a porta de casa. Quando tenho dúvidas, aplico uns testes muito simples: pode ser produzido numa quinta, ou pescado no mar? Percebo como passa do estado original para a embalagem final? Se a resposta é não, é porque não é para mim. Isso leva-me a passar ao lado de quase todo o pão dos supermercados e padarias, repleto que está de "melhorantes" e "enzimas", ou ainda da míriade de outros alimentos com espessantes, corantes, estabilizantes ou demais maravilhas da tecnologia alimentar.

Claro, a maneira como a comida é processada também conta, não basta escrutinar os ingredientes. A radioactividade, por exemplo, pode ter muitos fins úteis, mas comida irradiada rima com comida doente... e que nos põe doentes a nós. E a aplicação de radiação electromagnética (vulgo forno de microondas) garantidamente também não foi pensada para nos trazer mais saúde. Quanto ao leite UHT, o tal que ainda está igual a si próprio mesmo após seis meses de esquecimento no fundo do armário, bem, arranjem leite do dia pasteurizado, encham um copo de cada um e façam o teste à família toda, a ver se não distinguem o que ainda sabe a leite daquele que do leite já só tem o aspecto.

Na busca da comida como "nos bons velhos tempos", gosto de reparar também nos ingredientes "invisíveis". Prefiro, tal como a restante população europeia, que as minhas hortaliças sejam sem pesticidas, o meu leite sem antibióticos e a minha carne sem hormonas... mesmo se trouxerem o selo europeu de autorizado. Se for do campo e não de aviário ou de aquacultura, melhor. E sendo colhido e comido na época, melhor ainda.

E que dizer da mais moderna de todas as invenções alimentares, os alimentos geneticamente modificados, ou transgénicos? Já ouvi as sete maravilhas sobre eles: mais nutritivos, mais duradouros, mais limpos de pesticidas, muito estudados e seguros, até a fome no mundo e a crise energética (através de biocombustíveis) eles se preparam para resolver. Mas eu confesso: a primeira vez que comprei óleo de soja e depois verifiquei pelo rótulo que continha soja geneticamente modificada senti um aperto abaixo do estômago que nunca me engana. Esta comida transgénica pode ser apropriada para cobaias de laboratório, mas não é comida de gente. Mas claro, o problema é poder escolher. Para já anda por aí soja e milho transgénico, mas já este ano a Comissão Europeia pretende aprovar arroz transgénico. Arroz! O mais castiço dos cereais que comemos em Portugal!

Fui informar-me e fiquei a saber que os portugueses são os "chineses" da Europa: cada um de nós come em média 17 quilos de arroz por ano, enquanto que os italianos, que estão em segundo lugar atrás de nós, não comem mais que uns míseros sete quilos. Os dinamarqueses, coitados, não sabem o que é arroz doce e não vão além de quilo e meio por ano. E agora, querem abrir a nossa porta ao arroz transgénico?! Isso é, para a gastronomia, o mesmo que deitar abaixo o Mosteiro dos Jerónimos seria para a nossa história e cultura!

Senhor Ministro da Agricultura: espero que goste de arroz de ervilhas, de arroz malandro, de arroz de forno e de arroz de pato. Espero, em suma, que goste de arroz, porque ser português também é isso: durante a última grande guerra devemos em grande parte ao arroz a nossa sobrevivência alimentar. Quando se sentar em Bruxelas e chegar a vez de votar o arroz transgénico, Senhor Ministro, vote por nós."

Margarida Silva, bióloga (doutorada em biologia molecular pela Universidade de Cornell, é docente na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto, onde coordena o Grupo de Estudos Ambientais)


Está ali ao lado a petição relativa aos transgénicos na Europa, mas fica aqui mais um link. Já são mais de 700 mil assinaturas, mas precisamos de chegar ao milhão. Escreva também ao Ministro da Agricultura: veja na Plataforma Transgénicos Fora.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Supermercados e pesca (in)sustentável

Já no ano passado falámos aqui do ranking 2009 de supermercados no que respeita à sustentabilidade da pesca. Recebi hoje o seguinte e-mail da Greenpeace, com pedido de divulgação, sobre o ranking 2010:

"A Greenpeace acaba de publicar o 3º Ranking de Supermercados que avalia a sustentabilidade das práticas e produtos de pesca à venda nas grandes superfícies em Portugal. Com o alerta para o colapso das reservas de peixe a ecoar pelo mundo, o conceito de sustentabilidade já está a ser adoptado por alguns retalhistas, mas a divulgação dos resultados do ranking é fundamental para os pressionar para que implementem medidas que garantam a sustentabilidade do pescado que vendem. Ao recusar o pescado de stocks ameaçados ou capturado com métodos destrutivos para os ecossistemas marinhos, os supermercados têm a capacidade de impor regras à industria da pesca e evitar a continuada destruição dos oceanos. Ao divulgar os resultados do ranking, cada um de nós está a exigir aos supermercados que assumam o seu papel, que parem de contribuir para o problema e que comecem a colaborar na sua solução."

Então aqui fica em baixo o texto com a divulgação dos resultados do ranking de supermercados na pesca sustentável, extraído do site da Greenpeace Portugal, onde pode aceder a informação mais detalhada. Veja também o vídeo na Expresso TV.

"Em 2010, dois anos depois do lançamento da campanha da Greenpeace, o conceito de sustentabilidade parece ter sido interiorizado pela maioria dos retalhistas em Portugal. A transparência do sector de retalho também tem vindo a melhorar, com cada vez mais informação veiculada ao público e três políticas de pescado responsável já publicadas.

Neste terceiro Ranking de Retalhistas, o Lidl mantém-se líder, aproximando-se do verde, por ter dado passos concretos e seguros no sentido de excluir o pescado mais insustentável e favorecer as melhores práticas de pesca. A Sonae e Auchan são semelhantes nas suas políticas, sendo que Sonae leva a vantagem por partilhar pormenores do seu plano para rever a gama de produtos de peixe que oferece, conseguindo assim entrar na gama laranja. As distribuidoras detentoras de marcas como Intermarché, Minipreço, Pingo Doce e Feira Nova continuam claramente a vermelho, com poucos progressos a reportar. No fundo da tabela, encontra-se mais uma vez o grupo Jerónimo Martins, que se recusa a entrar em diálogo com a organização e a responder ao pedido de milhares de consumidores para que contribua efectivamente para a preservação da vida dos oceanos."

Nota: grupo Jerónimo Martins (pior classificado) = Pingo Doce e Feira Nova

sábado, 8 de maio de 2010

Comunidades em Transição

Porque há quem passe à acção e procure soluções para a insustentabilidade dos nossos modos de vida, para tornar as comunidades mais resilientes às consequências do pico do petróleo, e para diminuir as emissões de gases efeitos de estufa que contribuem para as alterações climáticas, surgiu a rede de Cidades de Transição (Transition Towns).
Não necessariamente cidades, mas comunidades em que a população participa e ajuda a encontrar e explorar os seus pontos fortes para se tornarem economicamente mais independentes, socialmente mais participativos e ambientalmente mais respeitadores.
E com o empenho da comunidade local, não há como os governos locais não sejam induzidos a participar e criar sinergias para que a Transição para a Sustentabilidade possa gradualmente emergir! (Imagem da net)

A Rede de Transição continua a crescer e a partilhar experiências e métodos pelo mundo fora, e parece-me que hoje germina a semente em Portugal, na cidade de Pombal. Parabéns a Pombal, ao empenho do João Leitão e àqueles que o ajudam nesta missão difícil mas possível!

Vejam o filme para entenderem melhor o processo de Transição. É pena não estar legendado em português, mas o inglês é bastante claro. Espero que fiquem interessados em saber mais sobre este assunto: visitem e façam parte da rede Permacultura Portugal, onde há também um grupo dedicado à Transição.




"Este vídeo é o 8º programa de uma série de TV – “The Powerdown Show”. Neste programa é delineada a história do processo de Cidades de Transição (Transition Towns) e explicado o conceito de Plano de Acção para a Energia Descendente Energia of (Energy Decent Action Planning - EDAP). São demonstradas parcerias viáveis entre a comunidade e os governos locais, comprometidos na procura de soluções para as alterações climáticas e do pico do petróleo, como forma de construir comunidades resilientes. Filmado em Kinsale, na Irlanda e Totnes, Reino Unido, este episódio apresenta Rob Hopkins, autor do Manual de Transição, Klaus Harvey da Cidade de Transição de Kinsale , Graham Strouts, da Faculdade de Educação Continuada de Kinsale, e Philip Davie, que coordena a rede irlandesa das Cidades de Transição , entre outros . Produtor: Rob Carr, Realizador: Davie Philip. Mais informações sobre o “The Powerdown Show em www.cultivate.ie" (tradução livre do texto apresentado no Vimeo)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Se não optarmos pela Transição, estamos a optar pelo Colapso!

Recomendo a leitura interessantíssima do texto de Luís Queirós, presidente do Grupo Marktest, no seu blogue Transição, do qual transcrevo o primeiro e último parágrafos. Mas leiam o texto completo no original, pois merece a nossa séria reflexão.

(imagem da net - Guernica de Picasso)

"Colapso ou Transição

Aos que já perceberam a insustentabilidade do actual modelo económico, baseado na exigência do crescimento continuado do PIB mundial, coloca-se uma questão angustiante: podemos evoluir (ou transitar) para uma nova ordem económica (ou um novo modelo de sociedade) de forma gradual , ou está o actual sistema condenado a colapsar de forma brusca e inesperada?

(...)

O mundo actual assemelha-se a um porco gordo. Se continuar a comer corre o risco de ficar paralisado e sucumbir. Para sobreviver, ele terá forçosamente de passar a comer menos. Mas se lhe derem comida ele nunca deixará de comer. "

Luís Queirós

terça-feira, 4 de maio de 2010

Campanha do Banco Alimentar a 29 e 30 de Maio

"A próxima Campanha de Recolha de Alimentos do Banco Alimentar Contra a Fome em supermercados realiza-se nos dias 29 e 30 de Maio de 2010. Se quiser ser Voluntário, preencha a ficha de voluntário ou inscreva-se por telefone, para o Banco Alimentar da sua região.

Em simultâneo, mas prolongando-se até 6 de Junho de 2010, terá lugar a Campanha "Ajuda Vale", que permite a recolha de alimentos sob a forma de vales que representam seis produtos básicos à alimentação.

PARTICIPE NA CAMPANHA: ALIMENTE ESTA IDEIA !"


sábado, 1 de maio de 2010

Energia magnética - o que se passa?

Há talvez dois anos, apanhei na televisão uma parte de um documentário sobre as possibilidades da energia magnética. Do pouco que vi, pareceu-me uma invenção fantástica: o movimento perpétuo gerado pelo campo magnético. A possibilidade de uma fonte de energia limpa, e praticamente inesgotável. Estudos estariam a ser feitos, mas como disse, pouco apanhei do documentário. Para tão importante descoberta, estranhei não mais ouvir falar do tema. Hoje, e não sei porquê, lembrei-me do assunto. Fiz por essa internet fora uma pesquisa ligeira. Encontrei o vídeo abaixo, que me parece ter sido extraído do referido documentário:



Encontrei à venda kits e mais kits para a execução de motores magnéticos que alimentam casas com energia magnética. Encontrei notícias e teorias da conspiração:



Tive também muitos desencontros com vídeos retirados do youtube! Mas o que achei mais curioso de tudo, foi o site da Associação STOP A Destruição do Mundo, com a sua Nova Física da Metafísica Desinvertida e o seu Keppe Motor explicado pelo seu autor em três vídeos, dos quais fica aqui abaixo o primeiro (os outros estão aqui e aqui).



Como eu sei que a ignorância é atrevida, não me vou atrever a fazer comentários. Apenas digo que gostaria de saber o que Faraday, Newton, Einstein e Tesla pensam disto tudo. Como eles não podem dizer nada, gostaria então que alguém entendido e esclarecido na matéria tecesse alguns comentários elucidativos. Veremos!