domingo, 24 de outubro de 2010

Está mais que na hora da Transição para a Sustentabilidade

 O conceito de sustentabilidade, e mais propriamente desenvolvimento sustentável, apareceu definido pela primeira vez em 1987, no relatório Brundtland. E teve de ser definido e escrito, não porque fosse um conceito novo, mas porque  o Homem se esqueceu.

Durante muitos milénios, o Homem e a Natureza viveram em harmonia, de acordo com os princípios da sustentabilidade. A sustentabilidade era algo intrínseco, que juntava instinto com saber empírico, e que passava de geração em geração. 

No último século e meio, o Homem enlouqueceu com a energia fácil, lançou-se na aventura da tecnologia e esqueceu-se completamente da sustentabilidade e do essencial . Com o uso do carvão e mais ainda com a descoberta do petróleo, uma revolução energética levou-nos, a evoluir para modos e níveis de vida nunca antes sonhados, permitindo um crescimento exponencial da população através de uma escalada impossível de consumo de recursos e produção de poluição.

Tal como dizem os biólogos, o comportamento exponencial da nossa espécie no último século, a nível de crescimento demográfico e consumo de recursos, só tem paralelo na natureza,  nas infecções ou nas pragas. E todos sabemos que após "consumirem" tudo o que tinham ao seu alcance, a redução da população de bactérias ou de insectos é rápida e drástica. O caos instala-se e auto-acelera-se. Deduzimos, portanto, que a continuar com o consumo e crescimento do último século, num meio finito, caminhamos seguramente para o início do fim da civilização tal como a conhecemos. São leis da física e da biologia...

Em paralelo com o aumento do nível de vida de parte da população mundial, com o aumento da esperança de vida, com o desenvolvimento da ciência,  e com o encurtamento das distâncias e globalização do comércio, assistimos a um retrocesso dos valores essenciais, ao declínio da natureza e da biodiversidade, ao aumento assustador do número de pessoas com fome crónica, e ao aumento exponencial das disparidades entre aquilo que têm os mais ricos e os mais pobres.

E nem por isso, as pessoas do mundo dito "civilizado" são hoje mais felizes. Pelo contrário, a correria, a falta de valores e prioridades verdadeiras, fez com que a angústia, o pessimismo e a passividade cívica se instalassem. A vida em comunidade foi desaparecendo ao ponto de nem sabermos quem é o vizinho que mora ao lado, o tempo para a família e os amigos cada vez fica mais curto.

Salvo honrosas excepções, aqueles que governam as nações vêem demonstrando cada vez mais a sua incapacidade de mudar o mundo, estando cada vez mais subjugados e controlados pelas grandes corporações que detém o poder económico. A falta de liderança e de coragem é já a imagem de um tempo, em que uma grande parte da humanidade continua a seguir na corrente do deslumbramento pelo consumo, ignorando ou não querendo ver que essa corrente não desagua senão num inevitável mar de caos e de guerra.

Resta-nos seguir nessa corrente, ou então, nadar contra ela com todas as nossas forças. Porque só a partir da nossa acção, dos cidadãos comuns minimamente informados e conscientes, é que pode surgir a mudança.

É tarde demais para evitar a grande crise que se aproxima, mas não é tarde demais para a tentar amenizar.  

Está  mais que na hora de começarmos a fazer a transição para um mundo em que quem está primeiro são as pessoas e a natureza, e não o dinheiro.

14 comentários:

  1. Espero que quem ler esta mensagem consiga ler o que de propósito ainda não escrevi... para já limitei-me a fazer o esquema... mas como o pessoal que por lá passa é pouco de comentar não estou à espera de grande tempestade cerebral!
    De novo estamos em sintonia... E sim, espero que os poucos consigam acabar com o Sistema Monetário... pois só sem ele alcançaremos o que a Manuela escreveu...

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  2. Estou nessa corrente contra, hoje e sempre!
    E em busca do otimismo, porque pessimismo não altera nada, pelo contrário, impede-nos de agir.
    Abraço

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  3. Nadar contra a corrente, sim!
    Não é fácil, custa, às vezes cansa, mas no fim compensa :-)

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  4. Eu sei que parece repetitivo, mas veja-se o que sucedeu entre 7 a 18 de Dezembro de 2009 (na Cimeira de Copenhaga)… Fala-se de novas metas para a emissão de GEE e aí está a China em fuga, mas se falar do projecto ITER – International Thermonuclear Experimental Reactor – veja lá se não foi iniciado com uma duração de 30 anos ( envolve a U.E., Federação Russa, E.U.A., China, Índia, Japão e Coreia do Sul)? (Porque é que é muito mais interessante construir um reactor de fusão que atinja uma potência energética de 5x108W durante cerca de 500seg.?)

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  5. Durante anos, décadas, e até já se pode dizer, Séculos, tivémos pessoas empenhadas em reunir seguidores para as suas causas.
    Foi assim com a política, com a religião e com o desporto através da formação de clubes. E a verdade é que se olharmos para a história facilmente se percebe que as pessoas aderiram, e aderiram, nalguns casos em massa.

    O que é que falta fazermos para as pessoas aderirem ao Planeta Terra, Manuela ?

    Temos de fazer o quê ?

    Adiram, bolas ! adiram porque precisamos de vocês todos no nosso "clube", no nosso "partido", na nossa "igreja".

    O nosso "clube", "partido", "igreja", chama-se Terra, podem vir todos que aqui não se paga quota, não se pedem votos, nem dízimos.
    Aqui tudo se faz pelo simples amor de viver em harmonia com o meio ambiente.

    Chiça ! já escrevi demais, isto já dava era um post !

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  6. Manuela, este foi um post simplesmente fabuloso! Não conseguiria concordar mais, sem uma mudança drástica não chegaremos a lado nenhum...

    Viva a Sustentabilidade!

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  7. Voz

    Sabemos bem onde está o cerne da podridão - no sistema financeiro, ou monetário, como lhe chama... o seu esquema ilustra mesmo bem parte do que disse e muito do que não disse também...

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  8. Miguel Ângelo

    Obrigada pela visita, e sobretudo por meter mãos à obra e à horta e arrancar com a Transição em Paredes. Parabéns!

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  9. Ana Teresa

    É isso mesmo, nadar contra a corrente e tentar ajudar a que outros façam o mesmo!
    Um abraço

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  10. Mãe da Rita

    É verdade, nadar contra a corrente por vezes cansa, e compensa sobretudo quando conseguimos mais um que seja para nos acompanhar :)

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  11. Jeune Dame

    Sem ignorar o que fazem esses senhores que nos (des)governam, tracemos o nosso caminho remando contra a corrente... no caminho da energia decrescente, nunca crescente, que nos desgraça...

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  12. Eduardo

    O que faz falta para as pessoas aderirem? Não sei, muito gostaria de saber... Julgo que primeiro, têm de saber o que se passa, e depois serem motivadas a contribuir para a mudança, e não a dizer, como ouvi hoje, de alguém com pouco mais de 30 anos,: "vamos vivendo a nossa vida e resolvendo os nossos problemas, e as gerações futuras que resolvam os delas"... ainda não me recompus do choque...
    Penso muitas vezes que só o colapso fará reagir a maioria das pessoas... mas isso não me faz desistir.

    Obrigada pelo seu apelo, quem me dera que chegasse aos corações empedernidos!

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  13. Miguel

    Muito obrigada, nem sabes como me dá alegria ver os jovens atentos ao que se passa neste mundo.

    Viva a Sustentabilidade, vivam os jovens e vivam a mudar o mundo para melhor!

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