quarta-feira, 10 de março de 2010

Colóquio - "Transição para uma Economia e Cultura Pós-carbono"

De hoje a um mês, no dia 10 de Abril, vai ocorrer em Pombal um colóquio sobre as iniciativas de Transição, denominado "Transição para uma Economia e Cultura Pós-carbono".

A transição começa em mim, começa em si, começa em pequenas comunidades locais, começa onde um grupo de pessoas está pronto e consciente da necessidade de mudar atitudes e modos de vida com vista a um decrescimento do consumo, à progressiva independência do petróleo, à interajuda entre as pessoas, à proximidade com a natureza. Começa por quem entende que qualidade de vida não é sinónimo do verbo ter, nem do sedentarismo confortável. Começa por quem entende que a solução parte de cada um de nós, e que chegou a hora de agir.

A transição já começou noutros países. Já começou no Reino Unido, com o paradigmático exemplo de Totnes, e já se estendeu a outras comunidades noutros pontos do país, à Irlanda, ao Canadá, ao Chile, À Nova Zelândia, À Alemanha e ao Japão. No total, existem já 126 comunidades oficialmente designadas como "Cidades de Transição", embora com dimensões muito variáveis.

Transcrevo abaixo o texto introdutório de João Leitão, um dos organizador do evento, que já conhecemos aqui do projecto Coisas do Vizinho. O programa do colóquio encontra-se disponível na rede Permacultura Portugal, também criada pelo João Leitão.

"INTRODUÇÃO
Vivemos desafios sem paralelo na História da Humanidade. Na área da energia, cresce o número de especialistas que considera que chegou ao fim, a era dos combustíveis fósseis baratos e abundantes, factor historicamente essencial ao modelo económico dominante, assente na ideia de expansão económica contínua. Por outro lado, as provas de que vários recursos naturais essenciais à nossa existência no Planeta, como por exemplo, água potável, florestas, biodiversidade, solos aráveis, qualidade mínima do ar, reservas de peixe, clima estável, etc., estão sujeitos a enorme stresse, parecem ser cada vez mais irrefutáveis. No campo da saúde mental, os dados relativos às patologias mais comuns, ligadas às perturbações da ansiedade e às depressões, sugerem que o modelo económico e social que preside à organização da nossa sociedade, deve ser repensado.
O Modelo de Transição afirma que é sobretudo ao nível local, que encontramos a solução para muitas questões que o Séc. XXI nos coloca. As Iniciativas de Transição são também inspiradas pelos princípios éticos e de design da Permacultura. Elas são a prova que a sociedade civil, os cidadãos comuns, têm em si o poder para responder criativamente e com eficácia, nomeadamente, aos desafios do Pico do Petróleo, das Alterações Climáticas, e da Vulnerabilidade Económica.
Pombal ou a Região de Leiria podem dar o exemplo em Portugal, inspirando outras localidades e as suas gentes, a abraçar a Transição como uma forma positiva de preparar o futuro das próximas gerações, oferecendo resiliência e optimismo, face a choques externos à comunidade.
OBJECTIVOS DO ENCONTRO
Consciencializar as pessoas para os limites aos crescimento,as alterações climáticas e a dependência da nossa Civilização dos combustíveis fósseis abundantes e baratos; Alertar para a insustentabilidade a médio/longo prazo dos actuais sistemas de produção, distribuição e consumo de bens e serviços; Identificar factores estruturais de mudança: redução energética, uma nova organização do espaço e das relações territoriais, sociais e económicas; Sugerir que estilos de vida com menor consumo energético, cuidado com o Ambiente, e sobretudo mais integrados nas comunidades locais, conduzem à subida dos níveis de bem-estar; Divulgar e sensibilizar para um conjunto de iniciativas em curso de estímulo à mudança de paradigma de desenvolvimento: as Iniciativas de Transição (Transition Towns): porquê, para quê e como?; Partilhar boas práticas existentes que estão de acordo com espírito da Transição no contexto português; Discutir a ideia do desenvolvimento de uma Iniciativa de Transição-piloto no concelho de Pombal: que ameaças e oportunidades, a definição de um conceito, a identificação de parceiros, a dinamização de um grupo de trabalho."

4 comentários:

  1. Olá Manuela,

    Obrigado por partilhar esta informação aqui, 1 mês antes do colóquio.

    Sugiro um aditamento: "Transição para uma economia e cultura pós-carbono". Sem uma cultura diferente, não há uma uma economia diferente.

    Até breve.

    P.S: a Manuela Araújo será oradora do Painel 4 - Boas Práticas de Transição em Portugal.

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  2. Olá João
    Já está corrigido, obrigada.
    Até breve

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  3. I

    Vão distantes os anos em que depois de uma célebre reunião do Clube de Roma, em cujas conclusões os especialistas davam os recursos naturais do planeta como praticamente esgotados, a discussão se centrou no crescimento demográfico com a proposta da maioria dos países desenvolvidos defendendo o crescimento zero e, em alternativa, os países do, como então se dizia, terceiro mundo, especialmente por via dos mais empenhados no Movimento dos Não Alinhados, defendendo a ideia de desenvolvimento como paliativo para os perigos do excesso populacional, não só pelo facto de por essa via se poder alcançar a produção de alimentos e outros bens que permitissem resgatar a maioria da Humanidade à miséria e à fome, como ainda pela experiência feita indicar que aquele traz consigo a diminuição do número de filhos por casal. Foi esse o debate da Conferência de Bucareste em setenta e três do século passado.

    De então para cá assistimos não só assistimos à chamada revolução verde que multiplicou por muito a produção dos alimentos e a rentabilidade dos solos, como à vitória da economia de mercado na China e na Índia e à ascensão das ditas economias emergentes, especialmente na Ásia e na América Latina que acabaram por se traduzir na redução da pobreza a nível mundial. A bomba demográfica, essa, manteve-se, muito embora as teses de Malthus sobre a relação inversa entre o aumento populacional e o decréscimo da disponibilidade dos recursos continuem sem corroboração empírica quanto à forma em que aquele economista do século XVIII as estabeleceu.

    Foram os problemas que se começaram a detectar na película de ozono que envolve a Terra que, logo a partir da década de oitenta, vieram a centrar o debate a respeito da relação entre o crescimento económico e as suas consequências nos equilíbrios naturais do planeta, especificamente ao nível da atmosfera terrestre. Foi a partir daí que se veio a considerar a possibilidade de as actividades humanas estarem a contribuir para eventuais alterações climáticas.

    Temos de ter presente que em ciência não existem verdades absolutas, da mesma forma que não caberá aqui discutir e muito menos analisar a exequibilidade das teorias e que nos atestam as mudanças nos padrões climáticos do planeta. Fala-se de aquecimento global mas temos que reconhecer que ainda não existem dados estatísticos suficientes, nem informações bastantes quanto ao passado climático que nos permitam afirmar com segurança que estamos perante um aumento das temperaturas médias a nível mundial, nem mesmo que as essas fossem da única e exclusiva responsabilidade humana e ainda não possuímos modelos fiáveis em que possamos simular conveniente se e como se procederão tais alterções. Além disso, sabemos hoje que devido à translação terrestre, existem períodos de maior aquecimento e arrefecimento que se traduzem naquilo que em Geo-Física se chamam de Eras Glaciares –períodos de frio em que as temperaturas de Verão não são suficientes para derreterem os gelos que se formam à superfície durante os Invernos. É claro que existem vários e diversos sinais que nos permitem avançar a hipótese do aumento das temperaturas médias e consequentemente das alterações climáticas –derretimento dos gelos polares; diminuição à vista desarmada do volume de certos glaciares; alterações nos equilíbrios entre determinadas espécies em diferentes locais da Terra e outros- mas devemos ser frios e serenos e, em face do que anteriormente escrevemos, reconhecer que não poderá ser por aí que poderemos desenvolver ideias em função das quais possamos defender alternativas aos actuais padrões de consumo energético, com todas as restantes consequências que isso necessariamente arrastará.
    RW

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  4. II

    Estamos assim, sem saída? Não, não estamos estará, para lá de tudo o que se vai fazendo aos mais variados níveis no domínio da descoberta e aproveitamento de fontes de energia limpas –salvo seja a expressão de que pessoalmente não gosto- está justamente na procura de novos rumos de pensamento que permitam dar corpo a uma cultura que permita entender a importância de, por exemplo e é isso que aqui está em apreço, usarmos fontes de energia inesgotáveis e sem impactos negativos nos equilíbrios e ciclos naturais do planeta. Estamos a ser sonhadores e idealistas? Talvez, mas não será certamente isso que reduzirá a razão do argumento anterior –o da importância de novas pontes de mentalidade para que o mais rapidamente possível as economias humanas deixem de se basear na destruição dos combustíveis fósseis com tudo o que de negativo isso possa ter para a Vida. Seja como for, cabe aqui recordar um Senhor que, em face das objecções que lhe colocavam às suas experiências de abstracção com comboios que viajavam à velocidade da luz, sempre perguntava qual a alternativa. Para além disso, é do mais elementar bom senso que da mesma maneira que não poderemos confiar nas políticas que criaram um problema para aí encontrarmos a resolução para o mesmo, dificilmente será sensato esperar responder a novos e diferentes desafios com as velhas maneiras de ver o mundo. É pois esse um debate que teremos que fazer, por que é assim tão importante a utilização de energias inesgotáveis? Que futuro poderemos esperar construir em função dessa passagem? Enfim, muitas outras perguntas haverão seguramente para colocar. Mas é esse o problema que, na minha modestíssima opinião, importará espoletar entre os cidadãos simples como nós. Com uma certeza, porém, a de que não poderemos criar rupturas drásticas nos modos de organizar a economia que por enquanto temos, pois não podemos esquecer –como tantas vezes parece acontecer- que por mais que estes problemas sejam graves e requeiram respostas frontais e mais ou menos breves, os mesmos só são consideráveis pelas implicações que têm na vida dos seres vivos em geral e, entre ele, dos humanos em particular, afinal o vértice a partir do qual sempre deveremos construir o nosso pensamento.

    Lamento não ser capaz de um maior poder de síntese e, em conformidade, ter-me alongado tanto. Mas, como cidadão da Terra, alguém educado na ideia de que o único território que possuo se resume e restringe ao dos meus sapatos, também eu gosto de dizer de minha justiça, sempre grato por tanto me ser permitido.

    Haja paz e saúde para todos vós e para os que aqui não estão também.

    Rudolfo Wolf

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