sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A ameaça do consumismo - Despertemos os adormecidos

Estou há muitos anos convencida de que o maior inimigo da sustentabilidade é o consumismo.
Não sou a única, cada vez são em maior número as pessoas conscientes desta realidade. Mas infelizmente, ainda há uma grande maioria completamente cega para este sério problema. E são as futuras gerações que pagarão bem caro, caro demais, pois os recursos do nosso planeta são limitados.

Se toda a população mundial consumisse como a média dos portugueses, seriam precisos 2,6 planetas Terra para os fornecer. Mas se fossem todos como os norte-americanos, 6 planetas Terra não chegariam. Dividindo a área produtiva da Terra pela população, obteríamos 2,0 hectares por pessoa. No entanto, a pegada ecológica média dos terráqueos é de 2,9 hectares por habitante. Isto significa que estamos a consumir 45% acima do sustentável. Assustador, não é?

O texto seguinte, sobre o relatório do Worldwatch Institute, é a transcrição do artigo publicado em Naturlink, que confirma a enorme ameaça que o consumismo comporta.

«Culto do consumismo é principal ameaça ao Ambiente
por Filipa Alves (13-01-10)

O hábito do consumo exacerbado foi adoptado por culturas de países como a Índia, Brasil e China como símbolo de riqueza e segundo um relatório do Worldwatch Institute, está a tornar-se a maior ameaça ao planeta pelo que deve ser combatido de forma prioritária.

Nos últimos anos, a população mundial tem vindo a crescer o que, como seria de esperar, originou um aumento do consumo de bens e serviços. No entanto, o consumismo tem crescido de forma desproporcionada o que é consequência da propagação de um hábito que surgiu nos Estados Unidos e que hoje é prática corrente por todo o mundo.

Com efeito, nos últimos 50 anos a cultura da “posse” foi adoptada como símbolo do sucesso em países em desenvolvimento como o Brasil, a Índia e a China, que recentemente ultrapassou o gigante americano como principal mercado de automóveis.

Segundo o relatório anual do Worldwatch Institute, estas tendências não são consequência do crescimento económico e devem ser contrariadas pois podem anular os ganhos associados às acções dos governos em matéria de Alterações Climáticas e promoção de um novo tipo de economia baseada em energia limpa.

Segundo Erik Assadourian, director do projecto que produziu o relatório cujos resultados foram agora apresentados “Até reconhecermos que os nossos problemas ambientais, desde as Alterações Climáticas até à desflorestação e à perda de espécies, são alimentadas por hábitos insustentáveis, não seremos capazes de resolver as crises ecológicas que ameaçam assolar a civilização”.

O relatório reconheceu que há sinais do “afrouxamento” do consumismo, com educação das camadas jovens a insistir na consciencialização no que toca aos impactos do consumo no ambiente, mas há que promover uma “transformação total de valores e atitudes” porque o investimento em tecnologias e a alteração de políticas só podem ser eficazes até certo ponto, se as culturas centradas no consumismo se mantiverem.

Segundo o presidente do WorldWatch Institute, o momento actual é propício à mudança “À medida que o mundo luta para recuperar da crise económica mais séria desde a Grande Depressão, temos como nunca antes aconteceu uma oportunidade para virar as costas ao consumismo. Em última instância o instinto humano de sobrevivência têm de triunfar sobre a necessidade de consumir a qualquer custo”.» (Fonte: Naturlink)

Será que a consciência global vai acordar a tempo? Por favor, toquem campainhas, abanem os dorminhocos, liguem despertadores no máximo... por esse mundo fora, pois todos dependemos de todos!

14 comentários:

  1. Eu acredito que o consumismo acarreta muitos dos outros problemas que aqui se tem falado... É sempre possível dizer que o desenvolvimento sustentável é um discurso que difere do prometaico precisamente porque não esquece gerações futuras. Este ambíguo "desafio" de "sustentar" deveria acompanhar a crescente equidade nos países em desenvolvimento para estabelecer um ponto de comparação face à qualidade de vida desfrutada (e também desaproveitada) nos países desenvolvidos…
    Um abraço.

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  2. Olá Jeune Dame
    Concordo plenamente. Aliás, na minha "versão" de sustentabilidade, a equidade e justiça na distribuição de recursos pelos diferentes povos é tão essencial como o preservar recursos para as gerações futuras: há "gerações presentes" sem qualquer direito a recursos básicos, que outras "gerações presentes" desperdiçam e esbanjam. Isto não é absolutamente nada sustentável.
    Porque a sustentabilidade passa também pela satisfação das necessidades de todos, e não de alguns. Todos: pessoas, fauna, flora, toda a natureza.
    Um abraço

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  3. Nela,
    Palavras muito verdadeiras...
    S. S.O Dalai Lama, iria ficar muito contente, se lesse este teu post e este teu comentário. :)
    Obrigada.

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  4. Olá Manuela,
    Concordo em absoluto com o post, também considero que há um consumismo exagerado e desequilibrado, mas o problema pode ter outra amplitude, se o analisarmos sobre o aspecto económico e uma questão que mais me toca é o emprego. Matérias primas, invenção de tecnologia, etc...etc...implicam sempre com postos de trabalho. Estamos numa situação de crise, consome-se menos e o que se vê? Fábricas a fechar, gente a perder o emprego. E depois de fechar as fábricas, fecham intermediários, fecham serviços, fecham lojas...é uma cadeia...Será que expus devidamente esta ideia? Espero opinião, mesmo que seja para dizer que é muito idiota!...
    Beijinhos,
    Manuela

    PS. Com o teu comentário no meu blogue já me convences-te a ir ver o Avatar.

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  5. ola manu,

    acho curioso esse calculo da pegada do seu país... no seu blog a visitas de diversos países não seria interessante (se possível) a publicação da pegada de diversos países. como exemplo do meu Brasil.

    ^^

    fica a dica.

    a matéria é muito show!!!

    \o/

    parabéns e bom trabalho

    matheus araujo
    feira de santana/ba

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  6. Por mim... ainda bem que não existem mais "Terras" pois a existirem estavam todas a seguir o caminho desta única (pelo menos que saibamos) onde vivemos, destruição lenta.
    O real problema não é o consumismo, pois afinal todo e qualquer ser vivo é consumista. O problema é a quantidade de seres a consumir, em especial os da espécie "homo sapiens". No que toca a esta espécie, o consumismo tornou-se na base que sustenta o dito desenvolvimento. O consumismo cria empregos, que melhora (em alguns casos) o nível de vida dos seres, o que provoca mais consumismo, e por aí fora... até que eventualmente a bolha rebentará.
    Por outro lado é sempre mais fácil tornar-se consumista do que o contrário. Basta observar o que acontece com as pessoas que por exemplo saem de África para os EU ou Europa para se constatar que a adesão é por demais rápida e fácil. O contrário é que é bem mais difícil.
    Quanto à questão de educar... tenho as minhas dúvidas de que está a resultar. Basta andar num meio urbano e observar os jovens e constatar o monte de tralha electrónica que eles consomem. Telemóveis, Ipod, PSP, Mini-portáteis, Portáteis... enfim um sem número de coisas que no fim apenas uma fazia o mesmo serviço.

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  7. Fada
    Obrigada, querida mana. Nem a propósito, hoje vi na FNAC, e não resisti a comprar, um livro, do qual vou transcrever o texto da contracapa no próximo "post".
    Beijos

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  8. Olá Manuela

    É o modelo de economia em que vivemos que faz com que infelizmente seja verdade aquilo que diz. Mas não adianta basear a economia no consumo excessivo, porque a Terra não aguenta. Países muito populosos e em desenvolvimento, como a China e a Índia, estão a adoptar como modelo o americano, ou ocidental, e outros povos na pobreza, também não terão direito a tal? O certo é que a Terra não aguenta! O modelo económico em que vivemos é absolutamente insustentável, por isso tem que mudar e equilibrar.
    Nada sei de economia, mas sei que as sociedades que consomem demais devem reduzir o consumo, e as sociedades pobres precisam de aumentar o consumo para um nível digno, para acabar com a miséria. Vai ser muito difícil, ai isso vai.
    Não sei o caminho certo, mas sei que não é este em que estamos.
    Beijinhos e obrigada. Espero que goste do Avatar.

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  9. Olá Matheus

    Tem razão, em breve publicarei um "post" com a pegada ecológica de vários países. Dos dados que tenho, em comparação com esses, o Brasil está bem melhor que Portugal, mas está já a ultrapassar os limites: pegada ecológica média de 2,2 hectares por habitante (2001). Mas penso que agora já deve ser maior, está a subir...

    Obrigada e um abraço

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  10. Voz a 0 db
    Infelizmente, tem razão em tudo o que diz. É bem mais fácil caminhar para um consumismo cada vez maior do que o contrário.
    A economia baseia-se no consumismo, o consumismo baseia-se na moda, a moda usa a publicidade, que serve o consumismo e esta economia errada.
    Mas não pode continuar assim, ou quebramos o ciclo ou o ciclo nos quebra a nós.
    É preciso demonstrar que este modelo está errado, e que o que conta é o ser e não o ter.
    É legítimo termos a expectativa de termos um telemóvel novo, mas também é legítimo que saibamos as implicações que isso tem. Será que precisamos mesmo? Esta é a pergunta que tem de ser feita!
    Se no futuro consumirmos menos, não haverá empregos suficientes! Porquê? Porque não há mais trabalho cultural? Porque não reduzimos o horário de trabalho para mais pessoas terem emprego? Porque não se pagam salários mais justos? Porque não apostamos na qualidade em vez da quantidade? Porque há pessoas a ganhar tão pouco, mas há outras que o que ganham daria para o ordenado mínimo de dezenas de milhares de pessoas?.
    Não, esta economia não está nada bem!

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  11. Pois é! Há partes do seu comentário que se aproximam da visão utópica do mundo QUASE perfeito. A realidade porém é que não somos perfeitos. A melhor prova é o nosso País. Melhor exemplo: Estamos em época de crises, mas ouviu/leu alguém (Eu não conto) a afirmar que era a época ideal para se reduzir o fosso salarial em Portugal? Eu não!!!

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  12. Voz a 0 db
    Bem sei que é utopia, mas também sei que caminhar para a utopia deve ser a meta.

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  13. Olá, Manuela, que bom trabalho que você anda a fazer!
    Gostaria que toda as pessoas consultassem este blogue, pois está sempre com tudo em dia.
    Penso que utopia é o que a maioria vive e pensa, pois imaginam que se pode ter e querer como objectivo de vida, o consumo de tudo e mais alguma coisa, e o nosso planeta continuar a dar para tudo eternamente! Tambem não imaginam que contribuem para a miséria de outros seres humanos?
    Não, não somos utópicos, somos mais realistas que os outros.
    Obrigada a todos, pela partilha de sentimentos e informação.

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  14. Ana Teresa

    Muito obrigada pelo seu amável comentário. Nunca tinha visto a utopia por esse prisma, mas está bem pensado. Vão vivendo uma realidade utópica enquanto dura. Muitos não chegarão a perceber isso. A realidade de que falámos está longe no espaço ou no tempo para quem vive o dia a dia no seu casulo. E o que os olhos (ou a mente) não vêem, o coração não sente.
    Obrigada e um abraço

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