segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Congresso dos Arquitectos e Sustentabilidade

Decorreu em Vila Nova de Famalicão, nos passados dias 10 a 12 de Dezembro, o 12º Congresso dos Arquitectos. O tema foi "Arquitectura para todos: por uma Política Pública de Arquitectura para Portugal".

Um dos subtemas em discussão foi o "Combate às Alterações Climáticas e Sustentabilidade de Cidades e Edifícios". O arquitecto catalão Ignazi Pérez Arnal, um dos oradores convidados, fez uma excelente abordagem da relação da arquitectura com a sustentabilidade, tendo referido a carência de investigação científica nesta área e tendo afirmado que em Espanha, com 28 escolas de arquitectura, entre públicas e privadas, apenas uma tem uma disciplina de sustentabilidade como obrigatória. Neste aspecto, não sei como está o panorama dos cursos portugueses de arquitectura em Portugal, mas desconfio que não seja melhor. Assim, acho que merecem destaques as conclusões do congresso no que se refere a este subtema, e que a seguir transcrevo:

"A sociedade contemporânea enfrenta uma clara mudança de paradigma comparável à resultante das alterações introduzidas pela revolução industrial e, assim sendo, a arquitectura, o seu ensino e a sua prática têm que enfrentar esta mudança. Para isso deverá:
* Implementar formação obrigatória e contínua na área das novas tecnologias no combate às alterações climáticas a ser concluída até 2012;
* Criar uma agência de ecologia urbana que promova bons exemplos de construção sustentável, a elaboração de documentação de apoio de fácil compreensão para o público em geral, a transmissão de conhecimento aos futuros utilizadores, a certificação ambiental de planos e projectos enquadrada em novos âmbitos legais, e o apoio a investigação;
* Incluir arquitectos com formação e prática comprovadas em sustentabilidade ambiental em todos os processos de criação ou revisão de legislação sobre urbanismo e construção."

Não posso também deixar de referir a excelente conferência "Bogotá Y Medellín: Una Década de Transformaciones Urbanas Y Arquitectónicas", em que foi orador o arquitecto colombiano Alberto Escovar Wilson-White: uma apresentação de factos e imagens da história de duas cidades da Colômbia com índices de criminalidade verdadeiramente assustadores para um europeu, e como foi possível a sua forte redução no espaço de uma década, com a ajuda da arquitectura e do urbanismo, com a participação dos cidadãos e com vontade política. O tema desta conferência, no que se refere a Bogotá, ganhou o Leão de Ouro na categoria Cidades: Arquitectura e Sociedade na 10ª Bienal de Arquitectura de Veneza, em 2006.

6 comentários:

  1. Sem dúvida, sustentabilidade devia ser parte fundamental do curso de arquitectura. No entanto, parece-me que muitas atrocidades arquitéctonicas portuguesas nem sequer sao elaboradas por arquitectos, logo a questao é ainda mais problemática e dificil do que parece à primeira vista. Sustentatibilidade teria também que ser integrada na maioria dos cursos de engenharia.

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  2. Cá em Portugal...
    Tenho dois colegas que vão começar a construir uma casa (tipo moradia) e os arquitectos, de cada um, de opções sustentáveis... népia. Perguntei-lhes quais as sugestões/opções que os arquitectos lhe sugeriram para eficiência energética, desde tipo de construção,isolamentos, orientação, superfícies vidradas ( e tipo), sistemas de aquecimento (quer para águas sanitárias quer para o ambiente), tipo de iluminação e controlo, utilização de painéis solares... enfim uma série que questões... e os meus colegas ficaram como que a olhar para um palácio!!! Ano 2009, século 21, Portugal... e nunca, estes arquitectos, falaram nestes aspectos aos clientes. Agora que eles (os colegas) estão em estado de alerta e já perguntaram aos arquitectos sobre estes assuntos, lá começaram a obter várias soluções/ideias... mas só depois, não antes... estou certo que não serão todos assim, mas estou também certo que a maioria o é. Desde aquela situação que já referi do desenho das habitações que coloca o sistema de aquecimento de águas/ambiente a "milhas" dos locais principais de utilização, a este caso que agora refiro... muito falta fazer para que isto mude. Ou as pessoas já sabem o que querem em termos de sustentabilidade, ou então, para já ainda poucos se preocupam com isso...

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  3. Espero que se tenha retido a importância deste tema para que se começe a fazer qualquer coisa para que os nossos filhos e netos consigam sobreviver neste planeta que nós destruimos aos poucos!
    A responsabilidade é de todos nós!
    Parabéns pela escolha do tema!
    Beijos, Sónia

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  4. Ao que leio, terá sido uma iniciativa meritória. Espero que os que nela participaram tenham empregue bem o tempo e dali colham ensinamentos e os coloquem em prática.
    De modo útil e prático também, pois por vezes engendram-se soluções que francamente!
    Claro está que nada disto valerá se os responsáveis políticos não quiserem mudar o estado de coisas.

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  5. Ecila, Voz a 0 db, Maria José e Ferreira-Pinto

    Já existem muitos exemplos e saber sobre arquitectura sustentável, mas a arquitectura corrente ainda está muito longe da sustentabilidade, praticamente não é tida em conta na maioria das construções novas, com excepção de alguns aspectos energéticos face à obrigatoriedade da certificação. Mas há honrosas excepções, claro, há arquitectos que procuram desde a concepção soluções mais sustentáveis.
    Já existe em Portugal a certificação ambiental das construções, mas é opcional.
    Penso que as universidades portuguesas ainda estão desligadas deste tema, que aparece mais como opção do que como disciplina obrigatória, mas não posso garantir que assim seja em todas. Espero que não.
    Este congresso, mais do que abordar conceitos técnicos, procurou traçar estratégias para o futuro. Nesse aspecto, espero bem que as conclusões que transcrevi passem à prática.
    Porque os edifícios são responsáveis por uma enorme fatia das emissões totais de CO2, de desperdício de água, de uso de materiais não recicláveis, e mesmo de uso de materiais, como madeiras exóticas, que deviam estar totalmente vedados.

    Obrigada pelo vosso testemunho.

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  6. Olá Manuela, dá uma força divulgando uma cibercampanha contra a bancada ruralista que faz manobra pra flexibilizar o código Florestal Brasileiro (acontece à sombra de Cpenhagen). Confere lá no Minha casa meu mundo ou então no site do Greenpeace.
    Desculpe postar coisas sem ligação com a matéria, mas este é o canal que tenho com você. Abração.

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