quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Certificação Ambiental de Edifícios

Enquanto que a certificação energética dos edifícios é já obrigatória em Portugal, a certificação ambiental de edifícios, empreendimentos ou urbanizações é ainda de carácter opcional ou voluntário.

Existem já muitos sistemas de certificação ambiental do edificado (na ordem dos 200 no mundo), que de um modo geral utilizam muitos parâmetros em comum, mas que divergem em certos critérios, também fruto do país ou região de onde são oriundos. Uns são mais direccionados para o consumo energético, outros para o ciclo de vida, outros ainda para serem um suporte à concepção do edifício.

Em França, desde 2004 que a associação ambiental HQE procede à certificação ambiental de construções. Também em França, o sistema Qualitel, já em aplicação desde 1974, nasceu com o objectivo específico de melhorar o edificado existente destinado a habitação, tendo posteriormente alargado o seu espectro de actuação.
No Reino Unido, o sistema BREEAM (BRE Environmental Assessment Method), é já amplamente aplicado, mesmo a nível internacional.
Na América do Norte, o sistema LEED (Leadership in Energy and Environmente Design) , desenvolvido pelo U.S. Green Building Council, é também já uma referência a nível internacional em certificação ambiental de edifícios.
No Japão, há o CASBEE (Comprehensive Assessment System for Built Environment Efficiency), na Austrália, o NABERS (National Australian Built Environment Rating System). E por aí fora.

O sistema internacional SBTool (antes denominada GBTool) está em desenvolvimento desde 1996 pelo iiSBE (International Initiative for a Sustainable Built Environment). Devido à elevada complexidade de parâmetros, de países, climas e modos de vida diferentes (mais de 20 países envolvidos, incluindo Portugal), ainda não se estabeleceu concretamente os parâmetros e critérios a serem aplicados.

Em Portugal, o sistema LiderA , desenvolvido pelo IST (Instituto Superior Técnico) e liderado pelo Eng. Manuel Duarte Pinheiro, certificou os primeiros edifícios em Outubro de 2007. O sistema encontra-se disponível para aplicação em edifícios, estando em consolidação os limiares de desempenho para algumas tipologias de empreendimentos, para além do residencial e turismo. Estão também em desenvolvimento versões para aplicação a infra-estruturas e a comunidades sustentáveis. No sistema Lider A, a construção corrente de hoje em dia é o nível E. Há pois um longo caminho a percorrer até à construção sustentável, nível A++.

Também da autoria do Eng. Manuel Duarte Pinheiro, está disponível na internet o livro "Ambiente e Construção Sustentável", muito interessante e com óptima informação para quem quer saber mais sobre a sustentabilidade na construção.

Apesar de existirem critérios diferentes, e uma grande quantidade de outros parâmetros a avaliar, todos estes sistemas de certificação ambiental abarcam a certificação energética, o uso de fontes de energia renováveis, a reciclagem e minimização de consumo de água, o impacto no ambiente e a impermeabilização do solo, o uso de materiais e técnicas sustentáveis, o reaproveitamento de materiais provenientes de demolição, bem como quaisquer outras iniciativas que contribuam para a sustentabilidade da construção.

É uma mais-valia para os promotores, para os construtores e para os compradores apostarem nos edifícios certificados ambientalmente, pois para além de contribuírem para a sustentabilidade das construções, o que lhes confere uma imagem apelativa, acabam também por contribuir para edifícios de mais baixo custo de manutenção.

E uma coisa é certa, embora possa haver em alguns casos um acréscimo de investimento para tornar um edifício certificado ambientalmente, não existe qualquer relação directa entre custo e sustentabilidade da construção. Sobretudo se a sustentabilidade foi pensada desde a raiz do projecto, não é necessário que um edifício seja mais caro para ser mais sustentável.

(Desenho ao cimo à esquerda: de Estudi Coma, no livro "El Rascacielos Ecológico", de Ken Yeang, Editora Gustavo Gili, 2002, Barcelona)

7 comentários:

  1. Se se conseguir mentalizar as populações que só têm a lucrar com uma construção sustentável, no que diz respeito aos edifícios, é um passo gigante no bom caminho. Porque os Países do norte e os que mencionas no texto, têm já obrigatoriedade nesse domínio. Aqui, por exemplo, ainda está demasiado atrasado, porque a cultura, não há meio de saír de cêpa torta... e se uma fábrica não consegue, por exemplo acesso à interligação da Rede Nacional de Energia, para poupar, porque o Estado, ou EDP, não dão autorização... imagina no que toca aos edifícios... A consciencialização, que tem de ser feita! Obrigada pelo apelo, afinal esses temas, não são apenas fantasmas, para alguns de nós.

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  2. E Grande texto. Primor e pesquisa acima de tudo parabéns pelo trabalho! :)

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  3. Obrigada, Fada, pelas tuas palavras.
    Esta é uma área mais "na minha área", digamos.
    Quanto à obrigatoriedade, não sei o que se passa nos países nórdicos, mas nos que mencionei não o é ainda. É uma questão de opção, mas cada vez os promotores estão a aderir.

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  4. Pois... interpretei mal, pensei que era já obrigatório e se não é deveria ser, porque a vida do Planeta está periclitante...
    Nos Países do norte, não tenho a certeza, mas tenho ideia que sim, que é obrigatío, mas nem sei em quais... Penso que Suécia, Noruega, Dinamarca e outros... mas terei de consultar, o que para mim se torna um "pouco" complicado! Realmente não tenho a certeza... é um facto.

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  5. O nosso país está como sempre atrás em tudo o que seja positivo.
    Temos de continuar a lutar para que as consciências se desenvolvam e percebam a importância destas questões.
    No nosso país não vale a pena instituir "regras" voluntárias porque já se sabe que se não for obrigatório ninguém cumpre.

    Também cabe aos nossos políticos adoptar LEIS que de facto implementem este e outros tipos de certificação.

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  6. Portugal, é um país extremamente interessante, mas na nossa opiniao existem diversos factores que nos poe como sempre na "cauda da Europa", este é um de muitos problemas.
    Acho que quantas mais pessoas tomarem conhecimento destas questoes, mais facilmente serao alteradas.

    Excelente texto e consequente pesquisa,

    Continuação,

    SafeNature.

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  7. Estamos na cauda da Europa em muitas coisas de facto. Mas a certificação energética, pelo menos, já é obrigatória, e já é um avanço.
    E assim como a maioria dos construtores não adere à certificação ambiental porque não é obrigatória, também Portugal não a vai tornar obrigatória enquanto a União Europeia não obrigar. É a sequência do costume.

    São os consumidores/compradores que vão ter de começar a exigir.
    Para já, não me parece haver outro modo.

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